Marcelo põe água na fervura após comentários sobre Montenegro: vem da “raiz” do PSD

O chefe de Estado comentou as suas próprias declarações, garantindo não terem sido críticas relativamente ao primeiro-ministro.

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Primeiro-ministro e Presidente da República numa audiência no Palácio de Belém Nuno Ferreira Santos
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O Presidente da República afasta ter criticado de alguma forma o actual primeiro-ministro e líder do PSD ao dizer, a jornalistas estrangeiros, que Luís Montenegro "dá muito trabalho" e tem "comportamentos rurais".

Em declarações aos jornalistas à saída de uma acção comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, que decorreu na tarde desta quarta-feira no Quartel do Carmo, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu ter contextualizado as características de Montenegro tendo em conta as próprias características históricas do PSD. E assumiu ter feito declarações que “foram muito explicativas" por se tratar de "jornalistas estrangeiros que não percebiam” o contexto. “Para se perceber gestos e decisões que aparecem como inesperados mas que são imaginativos.”

O chefe de Estado diz ter tido "ocasião de referir como o primeiro-ministro tinha muito a ver com o PSD profundo, um PSD de base rural-urbana” que, ao contrário de outras forças políticas", é “a raiz" do partido. Já o "PS era de base urbana”, prosseguiu Marcelo, notando que, em contraponto, o PSD nasceu como "um partido não tanto de Lisboa para o país, mas do país para Lisboa”. "O PSD tem essa característica antiga" e "o presidente do PSD” vem dessa raiz, insistiu.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou a "inovação, imaginação e o inesperado" visíveis nas apostas de Luís Montenegro para a lista da Aliança Democrática às eleições europeias de 9 de Junho, que criaram um "efeito surpresa" consubstanciado na escolha do comentador político Sebastiã o Bugalho para cabeça de lista.

Para Marcelo, esta forma de actuar de Montenegro, associada ao "silêncio" que o primeiro-ministro vai mantendo sobre os mais variados temas, configuram um "estilo diferente, muito diferente do estilo do primeiro-ministro anterior”. “Estilo que está a surpreender, vai surpreender, há um lado imprevisível nele”, disse o Presidente sobre o líder da AD, considerando que o “silêncio é uma maneira de, à sua forma, gerir aquilo que é o diálogo” necessários nas mais variadas frentes. Marcelo recordou que os antigos Presidentes da República Ramalho Eanes e Jorge Sampaio também pautavam a respectiva actuação gerindo os seus silêncios.

Sobre ter dito que gostaria que António Costa continuasse como primeiro-ministro até 2026, altura em que terminaria a legislatura iniciada em Março de 2022, o Presidente sublinhou que foi o antigo líder socialista a deixar a chefia do Governo. "Só houve dissolução porque houve a demissão primeiro”, afirmou, reiterando que com Costa formava “uma dupla que esperava que durasse até 2026”.

Questionado pelos jornalistas sobre uma hipotética afirmação de que a procuradora-geral da República Lucília Gago havia sido maquiavélica, Marcelo negou peremptoriamente: "Nunca disse isso, fui muito cuidadoso no que disse.”

Já sobre o filho Nuno Rebelo de Sousa, o Presidente confirmou ter cortado relações na sequência do caso das gémeas luso-brasileiras. Frisando já ter dito isso mesmo noutras duas ocasiões, Marcelo disse já ter explicado "ter tomado iniciativas que devia ter comunicado em devido tempo, previamente, ao pai” dado que ocupa a Presidência da República. Recorde-se que Nuno Rebelo de Sousa intercedeu junto de Belém, primeiro, e do Governo, depois, para tentar assegurar que as gémeas teriam acesso a uma consulta no Serviço Nacional de Saúde.

Passados todos estes meses, Marcelo diz que não recebeu “qualquer explicação sobre a matéria” e que não fala "em geral” com o filho, responsabilidade que atribui a Nuno Rebelo de Sousa. “Sinto muita mágoa pessoal, mas não fui o determinante dessa mágoa.”

Marcelo Rebelo de Sousa afastou ainda que as declarações sobre temas diversos a jornalistas estrangeiros possam retirar o foco que deve estar apontado às celebrações dos 50 anos do 25 de Abril.

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