Regressou em força aos campos do Ribatejo e Alentejo o roubo de postos de transformação

Apesar dos PT fabricados com cobre estarem a ser substituídos por outros que utilizam o alumínio a mudança não travou a onda de furtos.

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Prejuízos superam já um milhão de euros, segundo a CAP Nuno Ferreira Santos
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“É uma situação insustentável” a que se vive, neste momento, num número crescente de explorações agrícolas no Ribatejo e Alentejo, fustigadas por uma nova onda de furtos nos postos de transformação (PT), denuncia ao PÚBLICO José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (Anpoc).

Este agricultor queixa-se de lhe ter sido “roubado pela segunda vez”, na última terça-feira, o PT que tinha instalado em Portel (distrito de Évora), privando-o da energia que necessita para assegurar o fornecimento de água para rega e para os animais que tem na sua exploração.

Depois de lhe ter sido furtado pela primeira vez o PT, adquiriu outro por 12 mil euros, mas que tinha alumínio na sua composição. “Não valeu de nada. Deitaram-no abaixo do poste onde estava instalado e a queda danificou-o irremediavelmente. Não ganharam nada, mas quem perdeu fui eu”, refere, agastado, José Palha, lembrando que vai ficar “pelo menos 15 dias” sem energia até que a situação seja reposta.

O agricultor lamenta que só “três horas” depois de participar a ocorrência à GNR é que esta força militar tenha aparecido “num carro com mais de 30 anos”, o que em seu entender comprova como as autoridades “não dispõem de meios para actuar” com eficácia, situação que está a conduzir os agricultores para a busca de soluções mais extremadas. “O que disse Eduardo Oliveira e Sousa, ex-presidente da CAP, [num comício da AD] não é de todo descabido porque as pessoas afectadas pelos roubos já iniciaram acções de vigilância”, admite o presidente da Anpoc.

No seu caso, foi forçado a colocar alarmes nos pivôs de rega enquanto outros agricultores já contrataram empresas de vigilância. Acresce ainda na conta dos prejuízos resultantes do roubo ou destruição de PT a actuação das companhias de seguros, que “deixaram de segurar” os equipamentos que têm sido sujeitos “a um excesso de sinistros”, alegam nas cartas que enviam aos agricultores.

A escala dos prejuízos causados aos agricultores já levou a CONFAGRI a endereçar uma carta ao Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, apelando a que se dê “máxima prioridade à resolução deste grave problema”.

A organização representativa dos agricultores reforça o teor das críticas formuladas pelo presidente da Anpoc, ao reconhecer que a situação tem vindo a piorar nos últimos meses [e] não pode ser mais ignorada”.

Nuno Serra, secretário-geral da CONFAGRI, garante que a confederação “está inteiramente disponível para colaborar no que for necessário, de forma a encontrar uma solução rápida e eficaz que ponha um travão a estes graves acontecimentos que (…) acarretam um custo avultado para os agricultores.” E pede ao Ministério da Administração Interna que tome as medidas necessárias para que “exista um patrulhamento efectivo nas zonas rurais, bem como desenvolver mecanismos dissuasores deste tipo de crimes”. E relembra, ainda, que “é cada vez mais difícil obter seguros que cubram este tipo de perdas”, o que leva a que a totalidade destes elevados custos fique por conta do agricultor.

Também a CAP se pronunciou sobre esta questão, assinalando os prejuízos já causados pelos furtos. “Só no último ano, de acordo com os registos reportados à CAP, houve mais de uma centena de roubos que representam prejuízos superiores a um milhão de euros”, frisa a organização, que pretende ver aumentada a vigilância e a presença das forças de segurança no espaço rural.

O reforço da fiscalização junto de receptores e a criação de mecanismos que permitam rastrear a venda do material roubado é outra das medidas proposta pela confederação que defende ainda o agravamento da moldura penal para estes crimes, eliminando assim a “impunidade que existe actualmente”, conclui a CAP.

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