Mestre e pupilo — a entrevista a Vladimir Putin

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Às portas do aniversário do segundo ano de guerra na Ucrânia, Tucker Carlson, ex-apresentador do programa líder de audiências Tucker Carlson Tonight na Fox News, pretendeu fazer história uma vez mais ao fazer a primeira entrevista a Vladimir Putin desde o início da invasão.

Carlson, fervoroso republicano e apontado no passado como um potencial candidato às eleições presidenciais de 2024, é um proponente de Donald J. Trump e das políticas nacionalistas anti-imigração, antivacinação, do isolacionismo americano, do populismo económico. Apesar de críticas ao ex-Presidente em 2020 e 2021, continua a contar com um grande apoio da ala trumpista republicana, tendo expressado o seu apoio público à candidatura de Trump à Casa Branca.

Sem surpresa, a entrevista gravada no dia 6 de Fevereiro e reproduzida no dia 8, deu ao Kremlin um importante veículo de comunicação estratégica dirigido ao eleitorado mais radical da ala republicana americana. O entrevistado, mestre da sua arte, impôs não apenas o seu ritmo, mas às perguntas feitas, a sua agenda. A estrutura da entrevista desfez-se nos primeiros minutos, dando lugar a um monólogo de revisionismo histórico, seguido de reflexões políticas questionando a independência dos países bálticos e da Polónia para se juntarem à Aliança Atlântica, o futuro da guerra na Ucrânia, a aliança pacífica com Xi Jiping e até o arrefecimento das relações políticas com o Presidente dos EUA, Joe Biden.

Tucker Carlson, demonstrando ser um pupilo atento, raramente pressionou Putin sobre pontos fundamentais, como o respeito pela autodeterminação dos povos e o direito internacional. Pelo contrário, antes perscrutou temas conspiratórios como a responsabilidade da NATO pela destruição do Nordstream II – teoria que Putin habilmente corroborou – e a conjetura de que outros poderes na sombra controlam o Governo dos EUA.

O chefe de Estado russo reconheceu que teve um bom relacionamento com Donald Trump e questionou “qual a vantagem estratégica de os EUA continuarem a apoiar um país tão distante da sua esfera de influência, quando têm problemas na sua fronteira bem mais graves por resolver”. Esta apreciação representa a mais fria tática política posta em prática por um mestre da retórica autoritária, isto num momento crucial para a política interna americana. O desbloqueio do apoio à Ucrânia está dependente da maioria republicana que controla o Congresso e que exige a Joe Biden medidas mais robustas no combate à imigração ilegal.

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Vladimir Putin acredita que a Rússia tem reivindicações históricas justas sobre o território ucraniano, e afastou um cenário em que invade países NATO sem ser provocado. No entanto, Putin já afirmou no passado que defenderia os interesses dos russos estejam onde estiverem, referindo-se às políticas de defesa nacional dos países bálticos. Também os serviços de informações britânico, polaco, dos três países bálticos e da Finlândia reportam um aumento significativo de projeções híbridas em todo o flanco oriental, criado através de pressões migratórias artificialmente geradas pela Rússia e Bielorrússia.

Esta estratégia de Putin aparenta seguir à letra os ensinamentos de Mein Kampf, em que Adolf Hitler afirmava que toda a propaganda deve ser popular e intelectualmente adaptada à inteligência mais limitada daqueles a quem se dirige. O conservadorismo republicano dos Estados Unidos da América prudente nas palavras e firme nas acções parece cada vez mais substituído por um perigoso populismo político tão característico de nacionalismos exacerbados, em que a retórica inflamada e a polarização substituem o diálogo construtivo e o compromisso bipartidário.

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