CFMoto 450NK, mais do que a irmã do meio

Bem motorizada, bem equipada e bem montada, a CFMoto 450NK chega a ter um toque premium a vários níveis. Felizmente — sorte nossa, azar da concorrência — ainda não no preço.

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A CFMoto 450NK destina-se sobretudo a um público jovem e a uma utilização urbana, mas tem tudo para proporcionar experiências divertidas na estrada DR

Não é muito simpático ir para um encontro com outra, ou outro, na cabeça. Felizmente, às vezes, aquilo que encontramos tem o mérito de nos surpreender pela positiva, a ponto de nos esquecermos do que levávamos na ideia. Foi assim com este contacto com a CFMoto 450NK, que decorreu nos últimos dias de 2023.

Inicialmente, mais vale confessar, este encontro foi visto como uma oportunidade para experimentar o motor de 450 que, com ajuste electrónico para privilegiar a disponibilidade, vai propulsionar um dos modelos mais aguardados para 2024: a 450MT, interpretação da CFMoto para o conceito de trail de média cilindrada que o mercado há muito reivindica e que terá este ano, finalmente, várias propostas condicentes. Já agora, recorde-se que este motor, mas com acerto electrónico a favorecer a velocidade de ponta, já anima a desportiva 450SR, lançada em Junho, e deverá equipar também muito em breve uma 450CL-C, de estilo chopper — uma das muitas novidades apresentadas pela CFMoto, em Novembro, no último EICMA, o salão internacional de Milão.

A primeira impressão que a 450NK dá ao vivo são, na verdade, duas: é sexy, tem uma beleza agressiva; mas é, simultaneamente, familiar. Esteticamente, é uma variação da irmã maior, a bem reputada 800NK. Mantém as linhas do gabinete de design Modena40 que sucede ao atelier Kiska na parceria com a CFMoto que só têm rendido elogios, mas, com uma perceptível menor distância entre eixos, consegue uma nova proporção atraente e com personalidade própria.

A ponteira de escape é diferente da da 800NK, é mais convencional, mas não menos interessante, quando começa a cantar. O som entusiasmante começa a ser uma imagem de marca da CFMoto e a 450NK não degenera. Quando se aproxima, atrás de nós num semáforo, parece bicho muito maior.

Também é justo dizer que, tal como a mana, a 450NK, para uma “naked”, está muito bem vestida. Apresenta-se em três cores à escolha — Nebula Black, Nebual White e Zephyr Blue —, com iluminação toda em LED e inserções de estilo carbono que sugerem até alguma sofisticação. Os encaixes parecem simétricos, com precisão milimétrica, os materiais são agradáveis ao toque.

A posição de condução também é correcta, sobretudo se pensarmos que esta é uma moto pensada maioritariamente para a utilização urbana. O público-alvo são os jovens para quem uma 125cc já sabe a pouco (a CFMoto ainda não tem nada dessa grandeza no portefólio no mercado europeu, mas vai colmatar essa lacuna em 2024) e querem evoluir em termos de condução.

Se não precisarmos de mais do que uma pequena mochila, com uma muda de roupa, é claro que também podemos fazer distâncias maiores, com grande vivacidade. Os 46cv do motor dão à moto coração suficiente para uma aceleração de 0 a 100km/h em 4,9 segundos e uma velocidade máxima de 178 km/h, segundo dados da marca. Mas a natural falta de protecção aerodinâmica faz da auto-estrada um local para experimentar a aceleração e fugir, para terrenos mais confortáveis.

Nas estradas rendilhadas, a 450NK já recompensa o utilizador com a garantia de curvas divertidas, sobretudo com a ajuda de um quadro e subquadro que não ultrapassam os 14kg e contribuem muito para a enorme agilidade do conjunto. Aqui, a moto mostra-se aguerrida e atrevida, nos limites do bom senso. O consumo anunciado é de 4,5 l/100km.

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Detalhe da iluminação LED traseira Rui Santos Jorge

A suspensão — forquilha invertida de 37mm à frente e monoamortecedor atrás — tem curso de 130/130mm e só permite regulação de pré-carga e rebound na traseira, mas cumpre bem a função, de perdoar irregularidades ao terreno sem branduras excessivas para também não castigar a dinâmica. O mesmo vale para os travões, de disco de 320mm com duas pinças radiais J. Juan, à frente, e de disco de 220mm, atrás, que parecem morder com convicção e previsibilidade suficientes.

A 450NK dispõe de ABS e controlo de tracção, sendo que vem equipada, para o primeiro contacto com o solo, com pneus CST Adreno de 110/70 R17 e 150/60 R17 a envolver as jantes de alumínio. Neste breve contacto, as borrachas tailandesas da CST fizeram por merecer, no mínimo, o benefício da dúvida.

A facilidade de utilização e a circunstância de ser uma moto simultaneamente divertida e fácil, nada intimidante, explicam-se também pela reduzida altura do assento, que é de 795 milímetros (há alternativas de 785mm e 815mm como opção).

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O ecrã TFT, de cinco polegadas, permite a projecção da navegação, a partir do telemóvel Rui Santos Jorge

As regulações e parâmetros estão acessíveis no TFT a cores, de cinco polegadas, já conhecido da 450SR. Dispõe de dois estilos gráficos à escolha, ambos de boa leitura, e permite a projecção da navegação, a partir do telemóvel, bem como a realização de actualizações de software pelo proprietário, sem necessidade de deslocação ao concessionário. O carregamento do telemóvel e outros gadgets pode fazer-se por portas USB A e C, que constam do equipamento de série.

Tudo pesado, é justo dizer que a 450NK tem personalidade própria, que não é apenas uma 800NK miniaturizada, que ficará entalada entre a irmã maior e a futura 125cc. É ainda preciso dizer que a percepção de qualidade geral desta máquina chinesa, apesar do preço moderado (que não é defeito, mas virtude) já é a de uma moto premium. Por este caminho, muito em breve estas considerações deixarão até de fazer sentido.

E arrume-se, então, a questão: sim, o contacto com este motor da 450NK só faz aumentar a expectativa em relação à 450MT, que tem chegada prevista para Maio, com um preço a rondar os 6 mil euros. Neste primeiro semestre de 2024, a CFMoto vai ainda lançar a trail 700MT e a 450 CL-C. Para o segundo semestre, ficam então a 125NK e outra trail, mas de alta cilindrada, claramente vocacionada para o off road, baseada no protótipo MTX, também apresentado no último salão de Milão.

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