Inovação e competitividade – o repto para a convergência do Alto Minho

Importa concentrar esforços no reforço do sistema regional de inovação. Obviamente com rede, nacional e internacional, e parcerias, mas dando enfase à preocupação do território e das suas empresas.

A inovação, a investigação e o conhecimento são pilares estruturantes para o desenvolvimento e a competitividade. A inovação permite a introdução de novos produtos, serviços ou processos de produção nas empresas ou a melhoria da sua eficácia, favorece a transferência de conhecimento e atualizações tecnológicas entre setores e empresas, promove a internacionalização e novas abordagens de comercialização, conduz ao crescimento da produtividade do trabalho, enfim, reforça a competitividade do tecido empresarial e o desenvolvimento da região.

Portugal classificou-se, segundo o European Innovation Scoreboard (EIS, 2022), como um País Inovador Moderado, registando um desempenho de 85,8% da média da UE, inferior à média dos países Inovadores Moderados (89,7%). No período 2015 a 2022, Portugal registou um crescimento de 6,4 p.p. no índice de inovação, porém, abaixo do crescimento verificado ao nível da UE (9,9 p.p.), o que significa que a distância para a UE está a aumentar. Refere o Community Innovation Survey que 48% das empresas em Portugal, em 2020, desenvolveram atividades de inovação muito próximo da média da UE (49%), e estimando-se que 13,8% do seu volume de negócios tenha resultado da introdução de bens ou serviços novos ou melhorados.

Em 2022, a despesa total de Portugal em I&D representou 1,73% do PIB nacional, muito sustentado no forte contributo das empresas (1,08%). Dinâmica empresarial que parcialmente poderá justificar a distribuição profundamente desequilibrada entre regiões (INE, 2021), com a Região Norte em 1,74% (acima da média do ano 2021, 1,69%, mas inferior à região da AML, 1,96%), enquanto o Alto Minho apresenta apenas 0,94% do PIB, quase todo ele fruto do contributo das empresas (0,87%).

A produtividade e a competitividade resultam, obviamente, da inovação e, esta, entre outras, das despesas em I&D, em percentagem do PIB, e do pessoal afeto a I&D, em percentagem do emprego. E se as despesas de I&D no Alto Minho são significativamente reduzidas, o contributo do Ensino Superior da região é manifestamente escasso.

Com efeito, a população com ensino superior e as co-publicações público-privada e científicas internacionais são os pontos fortes que mais contribuíram, no EIS, para a classificação de Portugal. Também no Alto Minho os índices são inferiores na população com Ensino Superior (14,7% comparativamente a 17,8% da região Norte e 19,8% de Portugal), no contributo para a despesa de I&D (0,07% do PIB). Por outro lado, a influência da (reduzida) capacidade de investigação para o território é demonstrada, quando analisamos a relevância nacional e mesmo ibérica do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), com 70.000ha, pelo número de publicações (58 indexadas à Scopus) comparativamente muito inferior às 542 publicações da Ria Formosa (aproximadamente 18.000 ha) e, pela sua dimensão (104 ha), às 40 relativas às Ilhas Berlengas.

O Alto Minho precisa, pois, de convergir. Com um índice sintético de desenvolvimento regional em 2021 (INE, 2023) próximo da média nacional (98,82%), fruto da qualidade ambiental da região (102,13% da média nacional), a que não é alheio o PNPG, é na competitividade que se regista o seu pior desempenho (94% da média nacional). E se muito dos fatores que integram a competitividade (como investimentos e infraestruturas, a estabilidade macroeconómica, instituições e mercados) têm uma forte componente nacional (senão mesmo internacional), estratégias que envolvam educação e inovação podem ser codefinidas, copartilhadas e desenvolvidas com um forte pendor regional.

Na sua estratégia “Alto Minho 2030”, a região identifica como forças a qualidade e diversidade dos recursos endógenos e dos produtos locais; as condições naturais para a produção de energias alternativas renováveis; a excelência dos valores naturais e ecológicos e a cobertura do território, dos parques empresariais e dos municípios, por infraestruturas de nova geração. Considera, de forma assertiva, como fraquezas o perfil de emprego pouco qualificado e a fragilidade do sistema regional de inovação.

Nesta perspetiva importa concentrar esforços no reforço do sistema regional de inovação. Obviamente com rede, nacional e internacional (especialmente com a Galiza), e com parcerias várias, mas dando enfase à preocupação do território e das suas empresas, em particular nos setores, por si, considerados estratégicos. O agroalimentar, em que o vinho (verde – alvarinho e loureiro) ocupa protagonismo, mas que a riqueza, diversidade de produtos endógenos (como as raças autóctones) e a gastronomia suportam este ecossistema que tão bem caracteriza o Alto Minho. A economia do mar, em particular as energias oceânicas, que encontram potencialidades únicas de desenvolvimento, investimento, criação de valor, abrindo novas oportunidades ao território. A indústria, especializada na área mecânica e construção de barcos, com um perfil fortemente exportador e que necessita, de forma contínua, capacitação, qualificação e investigação.

Para concretizar esta estratégia, contamos com o reforço da contribuição em I&D (em % do PIB) do Ensino Superior (Centros de Investigação, Doutoramentos, spin-offs) mas igualmente com o tecido empresarial, diverso em função dos setores, mas sempre curioso e inovador perante novos desafios. Seguramente, é a oportunidade de o Alto Minho ser um espaço que, para além da qualidade ambiental, se afirme como uma região atrativa, de quadros qualificados, geradora de riqueza, inovadora, enfim, sustentável nas suas diferentes dimensões e que permita a merecida qualidade de vida dos seus cidadãos.

Sugerir correcção
Comentar