James Tavernier, de emprestado nas Ligas inferiores a lateral goleador na Europa

Capitão do Rangers poderá confirmar esta noite o estatuto de melhor marcador da Liga Europa. Um percurso invulgar de um defesa com aptidão para os golos.

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James Tavernier soma sete golos nesta edição da Liga Europa Reuters/JASON CAIRNDUFF

Tem sido uma caminhada de sucesso a do Rangers na presente campanha europeia. A recente eliminação do RB Leipzig, nas meias-finais da Liga Europa, foi apenas o passo que faltava para chegar ao momento decisivo. E para o embate desta noite (20h, SIC), com o Eintracht Frankfurt, os escoceses contam com um trunfo de peso: o lateral direito James Tavernier, que está muito perto de garantir um feito só ao alcance dos melhores.

Desde a reformulação da antiga Taça UEFA, em 2009, nunca um jogador inglês conseguiu ganhar o prémio de melhor marcador da prova. E o caso torna-se ainda mais impressionante se tivermos em conta que estamos na presença de um lateral! Mas, com sete golos na competição, Tavernier parece próximo para conquistar não só o estatuto de melhor marcador, como também, quem sabe, o prémio de melhor jogador da prova.

James Henry Tavernier tem feito uma época fantástica: ganhou recentemente o prémio de Jogador do Ano do Rangers e tem sido fundamental na improvável trajectória da equipa de Glasgow rumo à final da Liga Europa. O “bis” do lateral na vitória diante do Sp.Braga, nos quartos-de-final, levou-o à notável marca de 14 golos europeus desde a sua chegada a Glasgow, em 2015.

De facto, os números do lateral são tão invulgares que fazem dele o terceiro melhor marcador europeu de todos os tempos do Rangers, apenas superado pelos avançados Alfredo Morelos e Ally McCoist. Mas como é que o futebolista inglês de 30 anos, um completo desconhecido até há poucos anos, se afirmou, de repente, como o lateral mais goleador das principais Ligas europeias?

Não se afirmou no Newcastle

O defesa nascido em Bradford, em 1991, desde cedo revelou potencial e foi na academia do Leeds United que os responsáveis do Newcastle foram descobri-lo, em 2008. A afirmação plena nos “magpies” nunca chegou, porém, e viveu um longo período de empréstimos nos anos que se seguiram.

Tavernier fez a primeira de apenas 10 partidas pelo Newcastle enquanto sénior numa eliminatória da Taça da Liga contra o Peterborough, em Setembro de 2009. Seguiram-se empréstimos ao Gateshead, Carlisle United, Sheffield Wednesday, MK Dons e Shrewsbury Town, acumulando somente 52 jogos nas Ligas inferiores de Inglaterra. Mas foi uma mudança para o Rotherham, em Novembro de 2013, que garantiu ao defesa uma utilização mais regular.

O lateral participou em 31 jogos, marcou cinco golos e produziu seis assistências, desempenhando um papel fundamental na promoção do conjunto de Yorkshire ao Championship (segunda divisão do futebol inglês). No decurso das suas prestações, Tavernier viria a assinar contrato com o Wigan Athletic, em 2014, terminando desta forma uma estadia inconsistente de cinco anos em Newcastle.

Esperava-se que uma saída permanente de Tyneside resultasse em mais tempo de jogo, mas o lateral direito fez apenas sete encontros no Championship, antes de outro empréstimo a meio da temporada para um emblema da League One. Desta vez, o Bristol City.

Nessa altura, na Escócia, o Rangers recuperava de uma tentativa de regresso fracassada à Premiership e o então treinador, Mark Warburton, viu em Tavernier potencial para ajudar o clube a subir os degraus de regresso ao topo do futebol escocês. O lateral foi, de resto, um dos 11 jogadores recrutados pelo técnico naquele Verão - sete anos depois, é o único sobrevivente de um dos períodos mais sombrios da longa história do clube de Glasgow.

"Números assustadores"

“Espero marcar mais do que já fiz”. Estas foram as palavras de Tavernier no dia da sua chegada ao estádio Ibrox. É uma afirmação que se esperaria, provavelmente, do novo avançado do clube, mas em bom rigor era um defesa que mostrava, no discurso, uma vocação ofensiva que provaria em campo.

Um livre directo contra o Hibernian em Easter Road, na sua estreia, foi um sinal do que estava por vir, o primeiro de um longo catálogo de golos. Um total de 15 golos e três assistências em 50 jogos já demonstravam uma capacidade ofensiva fora do comum para um lateral.

São, actualmente, 83 golos e 59 assistências em 345 jogos oficiais pelo Rangers. “Os números dele são assustadores”, afirmou o ex-atacante do Rangers Kenny Miller, que jogou com Tavernier durante três temporadas no Ibrox. “O Tav surgiu como um desconhecido, mas dava logo para ver a qualidade dele”, acescentou o autor de 116 golos pelo Rangers em 301 jogos.

A quantidade de assistências do inglês é incomparável na Escócia - somou 13 só na Liga esta temporada - e estes números alimentam a esperança de poder competir por um lugar na convocatória de Inglaterra para o Mundial do Qatar (apesar da fortíssima concorrência).

Numa época em que o Rangers não conseguiu impedir o Celtic de festejar o título, as atenções viram-se integralmente para a Liga Europa. Depois de ajudar a garantir a presença na final, a primeira do clube em 14 anos, o capitão do Rangers pode liderar a equipa à conquista da Liga Europa. Caso isto aconteça, será o primeiro troféu europeu do clube de Ibrox desde o triunfo na extinta Taça das Taças, na época 1971-72.

“Estamos na final. Inacreditável. Foi um teste difícil, mas é uma sensação inacreditável estar numa final europeia - é o maior sonho”, desabafou Tavernier, após a segunda mão das meias-finais. “Chegámos à final por um motivo. Queremos vencer. Estamos nesta competição para ganhar, somos um clube que ganha troféus e é isso que queremos fazer”.

Texto editado por Nuno Sousa

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