Um em cada quatro adultos corre risco de morrer de enfarte

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Médicos estão preocupados com prevalência da obesidade abdominal Foto: Manuel Roberto

Um em cada quatro portugueses adultos corre risco elevado de morrer de enfarte ou AVC nos próximos 10 anos, mas apenas 30% toma medicação adequada, de acordo com um estudo da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC).

Com a participação de 10.004 portugueses, maiores de 18 anos, residentes em 44 concelhos do país, o estudo VIVA teve como objetivo a caracterização dos portugueses em função do nível de risco cardiovascular, informa o vice-presidente da SPC, Carlos Aguiar.

De acordo com o estudo, o elevado risco de enfarte ou acidente vascular cerebral (AVC) é de 24,4% a nível nacional.

Regionalmente, esse risco elevado vai crescendo de Norte para Sul do país, com 20% na região Norte, 23,9% no Centro, 26,2% na região de Lisboa e Vale do Tejo, 35,5% no Alentejo e 35,9% no Algarve.

O estudo avalia o estado de cada um dos participantes em função de oito factores de risco: idade, valor da pressão arterial, taxa de colesterol, fumador/não fumador, sexo, sedentarização/exercício físico, obesidade abdominal e histórico familiar de patologias associadas.

“Estes oito parâmetros foram introduzidos numa fórmula e, em cada caso, procedeu-se como num semáforo, com o verde para o baixo risco, o amarelo para o risco médio e o vermelho para o risco elevado”, explica o vice-presidente da SPC, sublinhando que o estilo de vida e hábitos saudáveis fazem toda a diferença para o não agravamento das situações, mas concretamente nos casos de “vermelho” é obrigatória a toma de medicação adequada.

“O problema que detectámos, neste estudo, é que de todas as pessoas com risco cardiovascular, que são os diabéticos e os que têm antecedentes de problemas cardiovasculares, só 30% é que estão a tomar medicamentos para o colesterol”, enfatiza Carlos Aguiar.

Colesterol "não dói"

Segundo o especialista, “o problema é que o colesterol não dói, isto é, que o doente com o colesterol elevado pode manter-se na ilusão de que não tem problemas, porque se sente bem, e no entanto pode estar em situação de risco muito elevado”.

O estudo da SPC aponta para três tipos de percepção do seu estado por parte dos 24,4% dos portugueses que têm elevado nível de risco: os que sabem que o têm, porque já tiveram indícios disso, ou estiveram internados, os diabéticos, que também já sabem da sua situação, e um terceiro grupo, as pessoas que não sabem que estão em risco.

“Esse é o grupo que mais nos preocupa, é constituído por 10% da população portuguesa, isto é um milhão de pessoas, e não fazem nada para acabar com o seu estado”, enfatiza, apelidando esse grupo como “o grupo dos bocadinhos”.

A designação advém de se tratar de pessoas que acumulam em si “um bocadinho” de tensão alta, “um bocadinho” de colesterol elevado, “um bocadinho” de excesso de peso, “enfim um bocadinho de cada um dos factores de risco da doença, que podem ser oito no máximo, mas que, como são pequeninos, cada um por si, não assustam quem os tem”, explica.

O problema, assegura, é que o risco representado por cada um desses factores não deve ser somado a um outro, mas sim multiplicado, isto é, “se eu tiver dois pontos de um índice de risco em cada um de três factores de risco, o meu factor total de risco não é seis mas sim oito”, sublinha.

"População pançuda"

Um dos factores mais preocupantes revelados pelo VIVA é a prevalência da obesidade abdominal, que atinge 55% nas mulheres e 36% nos homens, o que faz dos portugueses “uma população pançuda”, segundo Carlos Aguiar.

O responsável da SPC destaca que a “pança” – mais de 94 centímetros de perímetro abdominal nos homens e mais de 80 centímetros nas mulheres – é susceptível de fazer duplicar o risco de enfarte ou AVC e de quintuplicar o risco de diabetes.

Sobre as razões do aumento de situações de risco elevado à medida que se “desce” na geografia do país, o responsável aponta algumas pistas – como o consumo de sal e gorduras saturadas no Alentejo, os hábitos de fast-food em Lisboa ou a população flutuante e reformada no Algarve – mas observa que não existe um estudo aprofundado sobre essas variáveis.

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