Passos continua a acreditar que voltará a governar

“Não só há condições como julgo que é necessário para o país, se quiser realmente preparar o futuro como deve ser, ter uma alternativa séria”, afirmou o líder do PSD, quando questionado sobre a possibilidade de voltar a governar.

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adriano miranda/arquivo

Já passou um ano sobre as eleições legislativas que acabariam por mudar o quadro político do país e permitir ao PS formar Governo, apoiado em três acordos inéditos com os partidos à esquerda – PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista Os Verdes –, e o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, ainda não se conformou com a solução governativa inédita encontrada. Em várias partes da entrevista que deu nesta terça-feira à noite à SIC, voltou a lembrar que teve mais votos do que o PS e que, por isso, devia governar. Objectivo, aliás, que continua a considerar ter condições para cumprir.

Foi já no final da entrevista que a jornalista Clara de Sousa perguntou ao líder da oposição se continuava a considerar que tinha condições para voltar a ser primeiro-ministro, tal como afirmou à Renascença em Janeiro, e mesmo com sondagens desfavoráveis. “Não só há condições como julgo que é necessário para o país, se quiser realmente preparar o futuro como deve ser, ter uma alternativa séria. Deste Governo não se vai esperar nenhuma reforma no país. Tudo o que implicar fazer escolhas difíceis, este Governo nunca fará, porque vive para a espuma dos dias, para o dia-a-dia, para a popularidade fácil, não é para preparar o futuro”, disse. E acrescentou: “Eu já dei provas do contrário, de que, para salvar a minha pele, não ando a comprometer expectativas no país. É exactamente ao contrário. Se isso me custar o lugar tanto pior para mim, mas isso não é o mais relevante.”

Passos Coelho insistiu que não governou a “olhar para sondagens”, nem está na oposição a olhar para elas. “Esse é o perfil do Governo, não é o meu perfil. É importante que nós possamos transmitir às pessoas aquilo em que acreditamos, aquilo que é precioso fazer e as pessoas perceberem em que é que reside essa alternativa”, afirmou, garantindo que, enquanto esteve no governo, se esforçou “muito para que Portugal saísse do resgate e pudesse levantar a cabeça”. Mais: “Hoje sou seguramente o mais interessado, até porque o PSD vai ser preciso um dia no governo, em que a situação no país não se degrade muito como infelizmente está a acontecer”, declarou, sempre convicto de que poderá voltar a governar o país, embora ressalvando que serão os portugueses a decidi-lo “na altura própria” – as eleições.  

A entrevista arrancou logo com críticas ao executivo de António Costa, como seria de esperar. O social-democrata defendeu que as promessas feitas ao país estão a ser “goradas”, que o crescimento económico não está a acontecer, que “a economia está a crescer metade”, que as “dificuldades estão à vista” e que o modelo seguido por este Governo está a “revelar o seu fracasso”.

“Para mim, é muito claro que o tempo que estamos a viver está a ser desperdiçado”, disse, referindo-se à actual situação do país como “indesejável”. Passos Coelho aproveitou ainda para afirmar, por um lado, que nem quer acreditar que a questão de um “novo resgaste” se coloque e, por outro, para considerar que “é muito sintomático que a questão seja colocada externamente”. Aliás, essa questão “não devia ser ignorada pelas autoridades portuguesas”, porque, disse, só o facto de a possibilidade ser encarada externamente é “um susto”.

As questões orçamentais também estiveram em cima da mesa. Passos analisou os resultados da Direcção-Geral do Orçamento, relativamente à execução do orçamento até Agosto e verificou haver um “desvio do lado da receita face àquilo que estava previsto de quase 1300 milhões de euros”, ou seja, “0,7% do PIB”.

O líder da oposição acusou ainda o Governo de estar a “empurrar com a barriga” aquilo que diz respeito à despesa do Estado, de estar a “suster artificialmente” essa despesa. “O Estado pode decidir não gastar, mas não pode decidir não gastar em permanência”, disse.

Numa altura em que se aproxima a discussão do próximo Orçamento do Estado (OE), Passos Coelho justificou ainda por que razão não apresenta propostas como outros partidos, nomeadamente o CDS. “O OE é uma matéria que respeita ao Governo, não à oposição”, afirmou, acrescentando que “cada partido define aquela” que considera ser a “melhor estratégia”.

Crítico, apontou o dedo àquilo que considera ser a “opção de fundo” do Governo: “elevação da carga fiscal”, através dos impostos indirectos, aqueles que, alertou, “são mais cegos” em relação aos rendimentos das pessoas. E afirmou mesmo ser “surpreendente” que o PS esteja a trilhar esse caminho, quando disse que não o faria. Questionado sobre o facto de também ter aumentado impostos quando governava, escudou-se no argumento de não haver, na altura, “um tostão” no país. “Agora parece que temos. Parece que nos saiu o totoloto ou herdámos de algum familiar abastado”, ironizou.

“Eu ganhei as eleições há um ano”

Durante a entrevista, Passos lembrou que teve mais votos nas últimas legislativas, mas não governou: “Eu ganhei as eleições há um ano.” O que significa, continuou, que o PSD é “o maior partido do país”, não só da oposição. Recordou que convidou António Costa para ser vice-primeiro-ministro e que o socialista respondeu que tinha uma “alternativa melhor”, alternativa essa que “ia pôr o país a crescer a um ritmo mais elevado”. Ora, reiterou, “está tudo a falhar”.

“O PS é que disse que tinha uma solução mágica, por isso é que nos deitou abaixo”, exclamou, questionando: “Quando discutimos hipóteses orçamentais há na mesa ajustamentos de impostos, onde está a solução milagrosa?”.

Sobre a forma como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, está a relacionar-se com o Governo, teceu elogios ao Chefe de Estado e garantiu nunca ter esperado que fosse “a voz do PSD em Belém”.

O líder social-democrata desvalorizou ainda a polémica em torno da escolha da concelhia do PSD de Lisboa, feita à sua revelia, para que José Eduardo Martins seja o coordenador do programa autárquico na capital.

Perto do final, a jornalista aproveitou ainda para perguntar a Passos Coelho se nunca se arrependeu de ter ficado na liderança do partido. Mais uma vez, a mesma resposta: “Não é da tradição, mas também não é da tradição ganhar as eleições e não governar.” Passos parece não se conformar com o desfecho político que resultou das últimas legislativas e, por isso, entende que tem a “obrigação de representar” quem votou na coligação Portugal à Frente. Apesar disso, deixou claro: “no dia em que achar” que está “a mais”, não fica “por ficar” e, se alguém se quiser candidatar contra, pode fazê-lo.

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