Espanha sem exorcista para a simplicidade da “squadra azzurra

Chiellini e Pellè marcaram os golos da Itália que derrotou, com inteira justiça, a “roja” nos oitavos-de-final do Euro 2016.

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Jogadores italianos festejam um dos golos contra a Espanha AFP

A 1 de Julho de 2012, em Kiev, foi tudo simples, tudo fácil e a história escreveu-se a vermelho e amarelo: com uma goleada de 4-0 à Itália, a Espanha completou um era de sucesso inédita, juntando ao título mundial um bis na subida ao trono europeu. Quatro anos depois, no Stade de France, ficou claro que chegou ao fim um ciclo no futebol espanhol. Após o fracasso no Mundial 2014, a Espanha caiu com justiça nos oitavos-de-final do Euro 2016 perante uma Itália que fez por merecer o apuramento. Giorgio Chiellini e Graziano Pellè marcam os golos da vitória da “squadra azzurra”, que terá agora pela frente a Alemanha.

“Jogar futebol é muito simples, mas jogar um futebol simples é a coisa mais difícil que existe.” A frase é do mítico Johan Cruyff e a Itália de Antonio Conte faz-lhe inteira justiça. Tal como tinha acontecido no jogo de estreia do Euro 2016, contra a Bélgica, os italianos deram uma lição táctica no rival com um jogo eficaz, sóbrio e repleto de simplicidade. Com uma teia muito bem elaborada por Conte, os transalpinos anularam a principal arma da Espanha (Andrés Iniesta) e voltaram a reactivar a maldição italiana para os espanhóis: nos últimos 96 anos, apenas uma vez (final do Euro 2012) a “roja” superiorizou-se à “squadra azzurra” nos 90 minutos de um jogo oficial.

Sem grandes estrelas, mas com um grande treinador, os “azzurri” destaparam por completo o véu cuja ponta já tinha sido levantada pela Croácia: demasiado dependente do genial Inesta, esta Espanha tornou-se numa equipa previsível (demérito de Vicente del Bosque), sem criatividade no ataque e com demasiadas debilidades na defesa. Fragilidades a mais para quem se assumia como favorito e queria conquistar em França o terceiro título europeu consecutivo.

Sem medo do currículo do rival, Conte montou a sua “squadra azzurra” no tradicional 3x5x2, pegou no jogo desde o apito inicial e no final do primeiro quarto de hora o 3-0 em remates para a Itália deixava claro qual a tendência da partida. Sem soluções e com uma posse de bola estéril, os espanhóis apenas aos 28’ fizeram o primeiro remate à baliza, mas cinco minutos depois Chiellini colocou justiça no marcador: David de Gea defendeu para a frente um livre de Éder, Emanuele Giaccherini desviou para o lado e o defesa da Juventus só teve que empurrar para o fundo da baliza. O domínio italiano era absoluto e em cima do intervalo De Gea, com a ponta da luva, evitou que Giaccherini fizesse um dos melhores golos no torneio.

Com a história a seu favor — a Itália nunca perdeu um jogo de um Europeu em que estivesse em vantagem no marcador ao intervalo —, a equipa de Conte voltou a entrar melhor na segunda parte e, aos 55’, Éder passou como quis em velocidade por Piqué, mas De Gea voltou a salvar Del Bosque. Tacticamente dominado pelo adversário, o seleccionador espanhol, que já tinha trocado Nolito pelo basco Aritz Aduriz ao intervalo, surpreendeu no minuto 70 ao abdicar de um ponta-de-lança (Álvaro Morata) por um avançado com pouco faro de golo (Lucas Vázquez). Apesar de surgir com mais assiduidade na área italiana, a clarividência espanhola era nula e sempre que o rigor defensivo italiano era ultrapassado, a classe de Gianluigi Buffon anulava as investidas dos bicampeões europeus.

Com a Espanha totalmente desequilibrada, Conte voltou a dar nova lição táctica: lançou nos últimos minutos Lorenzo Insigne e Matteo Darmian e a dupla esteve na origem do contra-ataque, no minuto 91, finalizado por Pellé, que matou definitivamente o jogo. Para a Itália, segue-se no próximo sábado, em Bordéus, a reedição da meia-final do Euro 2012, contra a Alemanha. Para a Espanha, depois de Viena, Joanesburgo e Kiev, fecha-se um ciclo. Dia 10, a “roja” não vai regressar a Saint-Denis.

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