Rafa não sobreviveu aos votos de confiança

Chegou à sua cadeira de sonho, mas viveu sete meses de pesadelo.

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Juan Medina/Reuters

A 3 de Junho do ano passado, Rafael Benítez era um homem na sua cadeira de sonho. Madrileno e madridista, Rafa, que entrara no clube como jogador com 13 anos e que já tinha sido treinador da equipa B, estava no lugar que sempre quis. Emocionou-se quando foi apresentado no Bernabéu e prometeu ganhar títulos com bom futebol. Florentino Pérez, o todo-poderoso (e volátil) presidente do Real acreditava nele, “um verdadeiro homem da casa”. E continuou a declarar publicamente a confiança no 10.º técnico que contratara, com sucessivas declarações públicas nesse sentido. Sete meses e um dia depois de ser apresentado, Rafa tornou-se no 10.º técnico dispensado.

Desportivamente, o Real Madrid de Rafa Benítez não foi brilhante, mas também não foi um desastre total. A carreira na Liga dos Campeões, por exemplo, decorreu quase sem mácula, com cinco vitórias e um empate na fase de grupos, enquanto os quatro pontos de diferença para o líder Atlético de Madrid, com mais de metade da Liga espanhola pela frente, não são, de todo, irrecuperáveis. Mas a forma como o Real se engasgava frente a equipas de maior valia levantou muitas dúvidas em relação à sua liderança.

Entre muitos resultados comprometedores (e uma eliminação anedótica da Taça do Rei por utilização irregular de um jogador), nenhum terá causado mais mossa que a estrondosa derrota no Bernabéu por 4-0, frente ao Barcelona, no final de Novembro passado. Logo depois da goleada, Florentino convocou os jornalistas para garantir a continuidade do técnico. “Rafa Benítez acaba de começar o seu trabalho. Deixemo-lo trabalhar”, foi o que disse o dirigente, negando, na altura, quaisquer problemas de relacionamento entre Rafa e as maiores figuras da equipa, o principal motivo agora apontado para a sua destituição.

Cristiano Ronaldo, Sergio Ramos, James Rodríguez, Isco e Karim Benzema são alguns dos jogadores tidos como insatisfeitos com o agora ex-técnico “merengue”. E a verdade é que numa equipa com o potencial ofensivo que o Real apresenta, Benítez raramente cumpriu a promessa de ganhar e a jogar bem. Alguns jogos foram excepção, como as super-goleadas ao Malmö (8-0) e ao Rayo Vallecano (10-2), mas também houve muitas vezes em que foi o guardião costa-riquenho Keylor Navas a evitar males maiores.

O que era indesmentível é que Benítez, de 55 anos, já não gozava dos favores dos adeptos “merengues” e, assim, teve de entregar a sua cadeira de sonho a outro, ele que até já estava habituado a empregos de pressão alta — antes passara por Valência, Liverpool, Inter Milão e Nápoles, com sucesso desigual. Mas dificilmente voltará ao Bernabéu nos próximos tempos.

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