Um relatório de um grupo de peritos independentes revelado nesta segunda-feira mostra que a direcção da Toshiba manipulou de forma sistemática a contabilidade da empresa ao longo de quase sete anos.

Na sequência das conclusões do documento que indica que a manipulação da contabilidade resultou na inflação dos lucros da empresa em 1,125 mil milhões de euros, o presidente Hisao Tanaka apresentou a demissão.

A companhia sedeada em Tóquio anunciou nesta terça-feira o afastamento da direcção dois meses depois de ter tornado público que decorria a investigação sobre possíveis irregularidades na contabilidade.

Juntamente com o presidente, cessam funções o vice-presidente do conselho de administração Norio Sasaki e o conselheiro especial Atsutoshi Nishida, que também já tinha assumido a presidência da Toshiba.

No comunicado enviado à Bolsa de Tóquio referido pela Lusa, a Toshiba informa que, para além de Tanaka, Sasaki e Nishida, mais cinco membros do conselho de administração "vão deixar os cargos e a partir do dia 22 [quarta-feira] outras pessoas vão ocupar os seus postos". Tanaka, de 64, e Sasaki, de 66, estavam na companhia nipónica desde o início dos anos 1970.

O actual chairman, Masasho Muromachi, vai assumir a presidência interina da companhia tecnológica, sendo que uma nova equipa directiva deverá ser anunciada em meados do próximo mês. A empresa, cuja actividade vai de reactores nucleares à produção de microchips, vai ainda anunciar os resultados corrigidos do ano fiscal de 2014 no último dia de Agosto.

Apesar da conclusão do relatório e consequente afastamento da direcção, não foram ainda produzidas acusações contra a equipa de Tanaka. 

A Bloomberg noticia que, de acordo com a investigação, as irregularidades na contabilidade foram “habilmente” escondidas dos observadores externos, e aponta para uma “sistemática” e “deliberada” implementação desta prática.

O painel de especialistas conclui que, entre 2008 e 2014, a direcção da Toshiba chegou a inflacionar os lucros operacionais em 151, 8 mil milhões de ienes, ou seja, 1,1 mil milhões de euros.

O ministro das finanças japonês, Taro Aso, já reagiu e classificou a maquilhagem das contas da empresa como “muito lamentável”. Citado pela Reuters, Aso afirmou que situações como esta “podem levar à perda de confiança na governação corporativa, assim como dos mercados”, sem adiantar a forma como o regulador vai lidar com a questão.

As acções da Toshiba na bolsa de Tóquio desceram 17% desde que a companhia anunciou o arranque do inquérito, em Maio. No entanto, a cotação da Toshiba no índice Nikkei 225 fechou em alta nesta terça-feira, com as acções a recuperar 6,1% com a notícia de afastamento da direcção.

Com mais de 140 anos, a Toshiba começou por construir componentes eléctricos, diversificando os produtos e os sectores de intervenção ao longo do século XX. Este é o maior escândalo do género no país desde 2011, ano em que a Olympus escondeu perdas na ordem dos 1,57 mil milhões de euros.