Novo sismo mata dezenas no Nepal e aprofunda desastre humanitário

Morreram pelo menos 42 pessoas e mais de mil ficaram feridas com novo abalo de 7,3 de magnitude. Necessidades humanitárias vão aumentar.

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Ainda a lidar com os estragos, os nepaleses foram abalados por um novo sismo REUTERS/Athit Perawongmethaâ
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Um edifício colapsou no centro de Katmandu REUTERS/Athit Perawongmetha
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O sismo também se fez sentir na Índia. As populações foram aconselhadas a permanecer em espaços abertos Diptendu DUTTA/AFP
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Indianos na rua, na cidade de Kolkata Rupak De Chowdhuri/Reuters

O tecto do mundo voltou a tremer violentamente em pouco mais de duas semanas. O Nepal foi atingido por um terramoto de magnitude 7,3 na escala de Richter nesta terça-feira, 80 quilómetros a leste da capital, Katmandu, dificultando ainda mais as já graves dificuldades humanitárias causadas pelo grande terramoto de 7,8 graus do dia 25 de Abril.

Já caíra a noite no Nepal, meio da tarde em Portugal, e as últimas estimativas das autoridades apontavam para pelo menos 42 mortes e mais de 1100 feridos no terramoto desta terça-feira. Os locais mais afectados foram as vilas e pequenas cidades a leste de Katmandu, muitas delas ainda isoladas depois do terramoto de Abril, sem alimentação adequada e com poucos abrigos. Ao terramoto inicial, que aconteceu por volta das 12h30, na hora local, seguiram-se ainda várias réplicas, uma delas com magnitude de 6,3, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos.  

Mas o número de vítimas mortais deste último terramoto será ainda maior e acrescentam-se aos mais de 8000 mortos provocados pelo sismo de 25 de Abril, também ele a cerca de 80 quilómetros da capital, mas a oeste, quatro vezes mais intenso e numa zona mais povoada. Dezenas de edifícios fragilizados pelo terramoto de Abril ruíram e há pessoas enterradas e desaparecidas. Na pequena cidade de Charikot, onde vivem cerca de 7300 pessoas, um prédio de seis andares colapsou com pessoas no interior. Casos idênticos foram comunicados também em Katmandu.

Tal como acontecera em Abril, o último sismo causou danos na zona norte da Índia. De acordo com a Reuters, a polícia indiana diz que morreram pelo menos cinco pessoas, mas o jornal Times of India apontara para 17 vítimas mortais a meio da tarde. No Tibete foi confirmada uma morte provocada pelo sismo.

Um helicóptero militar dos Estados Unidos, que participava na operação de assistência humanitária no Nepal, foi dado como desaparecido. O Pentágono confirmou que a aeronave UH-1Y “Huey” ficou incomunicável por volta das 22h (hora local), quando sobrevoava a região de Charikot, com dois soldados nepaleses e seis fuzileiros navais norte-americanos a bordo.

O novo abalo também deixou incontactáveis equipas estrangeiras de emergência médica e outras organizações que assistiam as vítimas do terramoto de 25 de Abril no Nepal. Uma porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha no Nepal confirmou que uma equipa canadiana ficou soterrada na área de Tatopani, próximo do epicentro do sismo. A responsável disse que os membros da equipa ficaram cobertos pelo entulho de uma derrocada mas encontravam-se bem, e considerou “um desafio” a prestação de cuidados no local.

O Nepal não tem conseguido lidar com a grave crise humanitária deixada pelo terramoto de Abril e depende quase inteiramente da acção de organizações humanitárias. Mas mesmo estas não conseguem lidar com o volume de assistência necessária. A Agência para os Refugiados das Nações Unidas diz que apenas 13% das necessidades humanitárias para o Nepal estavam asseguradas até agora. As contas da UNICEF que antecederam o novo sismo estimavam que  1,7 milhões de crianças no Nepal tinham “necessidades humanitárias urgentes”.

O sismo desta terça-feira piorará ainda mais as carências no país e, para além de novos danos, mortos e feridos, contribuirá também para agravar o estado de espírito da população nepalesa. Os habitantes estão apreensivos face aos meses que se seguem. No Verão começam as monções – tem havido já aguaceiros pontuais – e, ainda fustigados com novos tremores de terra, os relatos são de desespero.

Rumina Malla Joshi explica ao diário britânico Guardian que ele e a família “estão preparados para correr a qualquer momento”. E conclui: “É como viver num filme de horror. A qualquer altura, em qualquer lugar, tudo pode acontecer.”

Centenas de nepaleses vão juntar-se na noite desta terça-feira aos acampamentos improvisados dos desalojados de Abril, com receio de que um novo abalo possa destruir a sua habitação durante a noite.

Mais fraco mas destrutivo
O sismo desta terça-feira foi inicialmente classificado como um tremor de magnitude 7,4 na escala de Richter, mas foi mais tarde reavaliado para 7,3. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, este novo sismo ocorreu a uma profundidade de cerca de 18 quilómetros, mais profunda e, assim, com menos propagação de intensidade do que o sismo de magnitude 7,8 de Abril, que foi medido a 15 quilómetros de profundidade.

Ao longo do dia, as atenções voltaram-se para a região de Sindhupalchok e para as zonas rurais isoladas. Registaram-se grandes deslizes de terras em Charikot, Dunche e Namche Bazaar, as localidades mais povoadas nas imediações do epicentro. Há também relatos de fortes avalanchas no Evereste, que, no entanto, foi evacuado no seguimento do último terramoto. 

Apesar de Maio ser o mês mais popular na temporada para a subida do Evereste, não se encontrava a habitual multidão de alpinistas e guias sherpa nas pousadas ou restaurantes das localidades no sopé da montanha. Segundo o presidente da Associação de Operadores de Expedições do Nepal, Dambar Parajauli, o acampamento base do Evereste estava deserto, depois da temporada de escalada deste ano ter sido oficialmente encerrada na sequência da avalanche do mês passado, que matou 18 pessoas.

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