Jihadistas dizem que executaram espião israelita de 19 anos

Pais de Mohammed Said explicam que o jovem queria desertar do Estado Islâmico. Vídeo parece mostrar que execução é feita por uma criança.

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Os pais de Mohammed Said garantem que o seu filho não estava ao serviço da Mossad Ammar Awad/Reuters

O autoproclamado Estado Islâmico (EI) divulgou nesta quarta-feira um vídeo em que diz executar Mohammed Said Ismail, um árabe-israelita que os jihadistas acusaram de ser um espião da Mossad infiltrado no movimento.

Ao longo de grande parte do vídeo de 13 minutos, Mohammed Said diz às câmaras que foi recrutado pelo serviço de informação e espionagem israelita para se infiltrar no movimento jihadista, e assim dar informações acerca do seu armamento, bases militares e recrutas palestinianos.

As filmagens mostram mais tarde Mohammed Said em campo aberto, vestido de cor-de-laranja e ajoelhado diante de dois membros do autoproclamado Estado Islâmico.

As imagens do vídeo mostram um dos membros do movimento jihadista a executar Said com um disparo na cabeça e parece ser um rapaz, que não terá mais do que 11 anos de idade. O outro homem, mais velho, explica em francês que o autor dos disparos é uma “das crias do califado”.

Mas a família de Mohammed Said recusa a ideia de que o jovem de 19 anos estivesse ao serviço da Mossad. Em declarações citadas pela BBC, os pais de Said dizem que este saiu de casa por sua própria vontade para se juntar ao Estado Islâmico e que foi capturado quando tentava regressar.

As autoridades israelitas dizem o mesmo. Ouvido pela Reuters, um responsável israelita nega que Said fizesse parte da Mossad e garante que este se juntou por vontade própria ao grupo jihadista em Outubro de 2014. De acordo com os seus pais, Said desapareceu durante uma viagem à Turquia. Antes de partir, terá dito ao irmão que planeava juntar-se ao EI.

A Reuters refere que nenhuma fonte independente, incluindo as autoridades israelitas, confirmou ainda a autenticidade do vídeo.

A tese de fuga ao EI      
A BBC explica a tese defendida pela família de Mohammed Said. Meses depois de este ter desaparecido numa viagem à Turquia, Said contactou os pais através da Internet, a partir de Raqa – o bastião dos jihadistas – e disse-lhes que queria voltar para casa.

Mas, pouco tempo depois, os pais receberam uma chamada de um homem que dizia ser um membro do grupo. A família de Said disse à BBC que nesse telefonema foram informados de que ele fora capturado perto da fronteira com a Turquia.

A revista oficial do Estado Islâmico, a Dabiq, publicou em Fevereiro uma longa entrevista com Said, na qual este declara estar ao serviço da Mossad – tal como o faz no agora vídeo publicado.

Ao longo dos últimos meses, têm aumentado os relatos sobre tentativas de fuga por parte de membros do grupo jihadista. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos avança que só ao longo das últimas semanas terão sido executados em público cerca de 120 combatentes estrangeiros. Muitos terão sido condenados à morte por tentativa de fuga.

Crianças jihadistas
O que parece ser o autor da execução de Mohammed Said não terá mais do que 11 anos. Mas a existência de crianças ao serviço do EI não é novidade.

Em Novembro de 2014, o grupo extremista publicou um vídeo que mostra dezenas de crianças a quem chamam “os jihadistas de amanhã”. De acordo com uma reportagem publicada pelo Guardian, o vídeo acompanha um grupo de crianças – supostamente recrutadas no Cazaquistão – a receberem aulas de doutrina islâmica e preparação militar.

Sobre o vídeo publicado nesta quarta-feira, Natasha Underhill, uma especialista em terrorismo internacional ouvida pelo Guardian, diz que o facto de ter sido uma criança a autora dos disparos faz parte de uma tentativa por parte dos extremistas de se mostrarem como um movimento com longevidade. 

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