Militares não vão discursar na sessão solene das comemorações do 25 de Abril

Partidos não chegaram a acordo. Vasco Lourenço garante que fará o mesmo discurso noutro local.

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Miguel Manso
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Mais de uma hora de reunião, esta tarde, da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, com membros da direcção da Associação 25 de Abril (A25A) não desbloqueou a participação dos militares na cerimónia no plenário do Palácio de São Bento evocativa dos 40 anos da Revolução dos Cravos.

“Há uma reunião no Parlamento [com os representantes dos grupos parlamentares]”, justificou a segunda figura do Estado quando questionada sobre o assunto na tarde desta quarta-feira. Já ao final da noite, um comunicado do Parlamento dava conta do encontro entre Assunção Esteves e os representantes dos grupos parlamentares, adiantando que “não ocorreu o consenso necessário para a intervenção de um representante da Associação 25 de Abril na sessão solene comemorativa”.

Apesar deste desfecho, no final do encontro da tarde com os militares, Assunção Esteves não deixou de valorizar o papel dos capitães de Abril: “As diferentes interpretações não podem prejudicar a opinião pública, a relação do criador (capitães de Abril) com a criação (o Parlamento democrático) é inquestionável, evidente e persistente".

Durante 70 minutos, a presidente do Parlamento manteve uma reunião esta tarde com uma vasta delegação da A25A, encabeçada pelo seu presidente, Vasco Lourenço, e que integrava ainda Garcia dos Santos, Aprigílio Ramalho, José Augusto, Pedro Lauret e Soares Rodrigues.

À entrada, a presidente do Parlamento foi recebida por Vasco Lourenço. “Como está?”, saudou o militar. Depois de uma curta visita à exposição do rés-do-chão, Assunção Esteves fez uma confidência ao coronel: “Disseram-me que se come muito bem aqui, a ideia era almoçar.” A resposta foi pronta: “Com muito gosto.”

“A minha vinda aqui junto dos capitães de Abril tem a intenção de deixar claro que a consideração que o Parlamento deve aos capitães não está em causa”, disse. “Houve ruído no espaço público”, continuou, referindo-se, sem dúvida, ao reparo que fez quando confrontada com a ausência dos militares na sessão do plenário comemorativo do 40.º aniversário do 25 de Abril, caso o seu representante, Vasco Lourenço, não usasse da palavra: “O problema é deles.”

“Face à situação deixámos claro o respeito pelo Parlamento, a casa da democracia”, disse o presidente da A25A. Razão pela qual confirmou a presença da associação que preside na inauguração, na tarde desta quarta-feira, da exposição O Nascimento de Uma Democracia, bem como em dois actos organizados pela Assembleia da República em 22 e 23 de Abril: a homenagem a Marques Júnior, capitão de Abril e deputado do PS, já falecido, e a apresentação de uma moeda comemorativa na Casa da Moeda.

“O plenário tem características próprias”, ressalvou Vasco Lourenço. “Se formos convidados para usar da palavra, vamos; senão, farei uma intervenção semelhante à que faria [no hemiciclo] noutro local, na manhã de 25 de Abril”, garantiu.

A propósito, o presidente da Associação 25 de Abril recordou que nos anos 90 o reitor da Universidade de Coimbra, Rui Alarcão, usou da palavra perante os deputados numa sessão comemorativa do aniversário da universidade coimbrã. E também que vários chefes de Estado estrangeiros já se dirigiram no hemiciclo de São Bento aos eleitos do povo.

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