Reacção do Egipto à ofensiva preocupa Israel

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O Presidente egípcio, Mohamed Morsi, diz que o Cairo não vai tolerar a agressão contra Gaza AFP

Pouco distingue a ofensiva israelita contra Gaza da operação militar desencadeada em 2008. Os métodos são iguais, as justificações são idênticas e nem os acontecimentos das primeiras horas são muito diferentes. Só que as revoltas árabes mudaram o Médio Oriente, hoje muito mais instável do que há quatro anos, e deixaram Israel sem um aliado estratégico no Cairo.

Os olhos estão todos postos na reacção do Egipto, onde agora governa a Irmandade Muçulmana, movimento a quem o Hamas deve as suas raízes e com quem mantém relações muito próximas. Parecendo esquecer que está no poder, a liderança islamista convocou manifestações contra a ofensiva militar, exigindo ao Governo que corte as relações com Israel.

Para já, a liderança islamista egípicia optou pelo pragmatismo: condenou os bombardeamentos contra Gaza, mas foi omissa sobre as consequências de tal acção. "Israel deve perceber que não vamos tolerar esta agressão e que ela pode arrastar a região para a instabilidade", avisou o Presidente Mohamed Morsi, que quarta-feira à noite mandou chamar o embaixador egípcio em Israel em protesto contra a ofensiva. Um gesto que não vai além do que o ex-Presidente Hosni Mubarak decidiu em 2000, em protesto contra a dureza israelita na resposta à Segunda Intifada.

A limitação dos contactos diplomáticos não "significa que o essencial da política egípcia em relação a Israel tenha mudado", disse à AFP Mustapha Kamel al-Sayyed, professor de Ciência Política da Universidade do Cairo, explicando que a "mudança foi apenas a rapidez com que foi tomada". No discurso que fez quinta-feira ao país, Morsi disse que o Governo egípcio está a "examinar formas de apaziguar a situação" e anunciou que se manterá em contacto com o Presidente norte-americano, Barack Obama, "a fim de impedir uma escalada" militar.

Mas, ao contrário de Mubarak, o Governo egípcio não deixará passar em claro a afronta israelita - que atacou Gaza um dia depois de ter dado a entender que acataria uma proposta de trégua apresentada pelo Egipto - nem será surdo às reivindicações populares.

Max Fisher escreveu no "Washington Post" que uma opção possível será a limitação das relações diplomáticas, à semelhança do que foi feito pela Turquia após a ofensiva de 2008. Só que a relação com o Egipto é muito mais vital para Telavive, que teme, antes de mais, que o Cairo reabra a fronteira de Rafah e, com isso, alivie o bloqueio imposto a Gaza desde que o Hamas tomou o poder no território. O primeiro-ministro egípcio visita nesta sexta-feira Gaza, mas é improvável que anuncie a reabertura da fronteira, já que isso facilitaria a entrada no seu território dos grupos de extremistas e traficantes que nos últimos meses se infiltraram no Sinai.

Uma opção mais radical - com consequências explosivas para toda a região - seria a desvinculação do acordo de paz assinado em 1979 entre os dois países. A medida é reclamada há muito nas ruas, mas a Irmandade sabe que tal poria em risco a ajuda económica e militar concedida ao país pelos EUA.

Apesar das salvaguardas, ninguém duvida que, ao atacar Gaza, Israel pôs em marcha uma engrenagem muito mais difícil de controlar. "Este é um jogo completamente novo para Israel", disse ao "LA Times" Yoram Meital, professor de Estudos do Médio Oriente da Universidade Ben-Gurion, sublinhando que a equação que era antes feita a dois, entre israelitas e palestinianos, transformou-se "num triângulo que agora envolve o Egipto".

Notícia actualizada às 15h49
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