Campanha vai alertar para o abuso de antibióticos

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Portugal é um dos dez países europeus que mais consome antibióticos Paula Abreu

O aumento da resistência de bactérias a antibióticos de largo espectro é o principal alerta feito pelo Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (EARS), que hoje revelou os dados mais recentes sobre este fenómeno (referentes a 2010). Portugal é dos que mais consome.

Portugal não é excepção e acompanha esta preocupante tendência presente sobretudo nos países que mais consomem antibióticos. Amanhã, no Porto, para assinalar o Dia Europeu do Antibiótico são apresentadas algumas das principais medidas incluídas no Programa Nacional de Prevenção das Resistências aos Antimicrobianos, gerido pela Direcção-Geral de Saúde.

Uma espécie de “manual” de boas praticas de prescrição dirigido aos médicos como dados sobre os tipos de infecção e de antibióticos e adaptado à realidade nacional, um apoio de consultadoria com especialistas desta área (por telefone nos centros de saúde ou presencial em meio hospitalar) e uma campanha mediática (que decorre até Fevereiro) com o lema “Antibióticos a mais, Saúde a menos”, são algumas da medidas do plano coordenado pelo especialista José Artur Paiva, do Grupo de Infecção e Sepsis da DGS. Além das novas normas e orientações, será ainda apresentada hoje a a Aliança Intersectorial para a Preservação do Antibiótico que reúne 20 organismos das mais variadas áreas, desde medicina humana e veterinária a organismo de defesa do consumidor como a Deco.

Portugal registou em 2010 alguns avanços e recuos no vasto campo da resistência a antibióticos. Antes de mais, convém sublinhar que os casos de resistência a antibióticos espelham geralmente situações onde se verifica um alto consumo de antibióticos e Portugal continua a estar no grupo dos dez países europeus (precisamente no nono lugar) mais consumidores desta arma terapêutica. “Precisamos mudar este paradigma. Do ‘senhor doutor, à cautela não é melhor tomar um antibiótico’ temos de passar para o discurso de ‘senhor doutor, mas é mesmo preciso tomar este antibiótico?’”, anuncia José Artur Paiva, sublinhando que continuamos a ter muitos casos de problemas causados por vírus a ser tratados com antibióticos (usados para combater bactérias).

De acordo com os dados revelados ontem pelo Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (EARS), o nosso país tem, por exemplo, os valores mais elevados da bactéria conhecida por MRSA (Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus) entre 28 países. Esta é uma bactéria que, entre outros, causa problemas na pele e nos pulmões. José Artur Paiva reconhece que “não temos sido capazes de fazer grandes progressos neste problema. Mais do que ter aumentado estes casos, o pior é não ter conseguido diminuir”. Mas, o coordenador do Programa Nacional de Prevenção das Resistências aos Antimicrobianos vai ao encontro do alerta do EARS e mostra-se mais preocupado com o alastrar de uma resistência a antibióticos de largo espectro (Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenem, por exemplo) na União Europeia usados para tratar pneumonias e infecções urinárias. Apesar de manter valores reduzidos (entre 1 e 5 por cento) Portugal contribui para este preocupante fenómeno registando um aumento de casos em 2010 que duplica os valores encontrados nos anos anteriores (menos de um por cento). “Estamos a tratar de valores ínfimos mas o problema é gravíssimo quando vemos que podemos estar a criar resistências a antibióticos padrão do mais largo espectro, as armas mais potentes, para os quais não temos alternativas. Corremos o risco de ficar sem armas”.

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