Coração cravejado de cravinhos

chef Hugo Brito do restaurante Boi-Cavalo prepara-nos um prato especial: coração cravejado de cravinhos. Uma porta para uma Lisboa desconhecida que continua a ser uma inspiração para o trabalho do chef. Sabores do passado com um toque do presente.

"Sempre gostei muito desta receita porque abre uma porta para uma Lisboa que quase não suspeitávamos que existisse. Olhando para o prato hoje, parece mesmo que estamos a olhar para um passado que não associamos a Lisboa. Não imaginaríamos que, por cá, se servissem vísceras desta maneira e houvesse uma relação tão directa com a produção animal", afirma.

Lisboa é um conjunto de aldeias e de influências e, se isso se pode ver musicalmente com aqueles que vêm das Beiras e do Minho, com os que vêm do Alentejo, ou mesmo da Índia ou do Bangladesh, o mesmo também acontece na gastronomia - as várias culturas introduziram-se e criaram coisas novas, e também, por razões históricas, muitos produtos cá vieram parar. Dessa forma a gastronomia lisboeta sempre foi uma mistura dos que vinham do Norte e do Sul do país, mas também do exterior, muito rica em petiscos, alguns de origem animal.

Lisboa serviu como entreposto de produtos e de aproveitamento de todos eles, quer pela conservação, quer pela necessidade de tudo aproveitar. Por isso mesmo, as extremidades animais sempre fizeram parte das tascas: as moelas, os pipis, as sandes de torresmos, os rins e até corações foram sendo comidos um pouco por toda a cidade e, depois, com os tempos, também foram desaparecendo.

Essa Lisboa rica em migrações internas e externas produz uma diversidade de influências que ainda hoje existe e pulsa na cidade, mas que se foi transformando com o tempo. Esta receita bastante simbólica, um coração cravejado de cravinhos, representa uma Lisboa que está ali e ao mesmo tempo não está. 

 

Receita

Ingredientes

300 gr de Xerém de moagem média
16 Sardinhas médias
3 dl Azeite
3 Dentes de alho
1 Molho de oregãos
QB flor de sal
200 gr Cebola
500 gr Tomate maduro

Preparação

Para a fritada de tomate, cortar a cebola em cubos, colocar numa frigideira com 1 dl de azeite. Quando estiver loura, juntar o tomate maduro picado, limpo de peles e sementes, deixar cozinhar lentamente para ganhar apuro, durante 40 minutos. Rectificar de sal. Escamar e retirar os lombos das sardinhas, temperar os lombos com flor de sal e reservar. Limpar as espinhas e abrir as cabeças, temperar de sal, passar pelo xerém que não se utiliza nas papas, por forma a ficarem panadas, e fritar em azeite quente. Colocar em papel para absorver o excesso de gordura. Colocar as tripas das sardinhas num tacho com os dentes de alho esmagados, os oregãos e o azeite e levar ao lume no mínimo, para que cozinhe e infusione o azeite. Passar por um passador de forma a filtrar o azeite aromatizado. Para a confecção das papas, envolver 200 gr de xerém com 1 l de água e levar ao lume. Juntar um fio de azeite infusionado e sal, sempre a mexer para não formarem grumos. São cerca de 20 a 30 minutos a cozer dependendo da moagem do milho. Depois de as papas estarem cozinhadas, coloca-se a fritada de tomate por cima e dispõem-se os lombos de sardinhas para que cozinhem com o calor das papas. Servir as papas com os lombos e as espinhas e cabeças fritas e estaladiças.

Chef: Bertílio Gomes
Local: Chapitô à Mesa
Região:Lisboa
Azeite Olival dos Arrifes
Vinho Esporão Reserva Branco 2014
Receita inspirada nos ensimanetos de Matilde Romão

 

Direcção Artística:
Tiago Pereira
Consultoria:
André Magalhães
Esporão:
Filipe Caetano, Catarina Santos, Afonso Sousa e António Roquette

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