Perdido por mil: António-Pedro Vasconcelos

KM 224 deve ser o pior filme que António-Pedro Vasconcelos já realizou.

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Não há maneira de dourar a pílula, KM 224 deve ser o pior filme que António-Pedro Vasconcelos já realizou. História de um divórcio litigioso, espécie de par português para o Marriage Story de Noah Baumbach, não tem nada que o distinga do mais vulgar e anónimo dos telefilmes — nem a découpage, de uma banalidade sem arrojo nem imaginação, nem a caracterização das personagens, de que sabemos tudo sobre a vida material (ele, arquitecto, ela, alto quadro de uma empresa com escritório em Sevilha) mas permanecem do princípio ao fim completas paredes desprovidas de alguma vida interior, nem a presença dos actores, refém dos modos, muito “espontâneos” e muito falsos, do “realismo” televisivo. Poderia ser, digamos “sociologicamente”, um retrato da vida de um certo estrato social lisboeta, que tem os filhos em colégios privados, mora em casas remodeladas no centro da cidade e vai jantar a pizzarias gourmet — mas onde está a distância, onde está a perspectiva (tudo sacrificado à malfadada “empatia”), que transforme KM 224 numa observação crítica do que quer que seja?

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Não há maneira de dourar a pílula, KM 224 deve ser o pior filme que António-Pedro Vasconcelos já realizou. História de um divórcio litigioso, espécie de par português para o Marriage Story de Noah Baumbach, não tem nada que o distinga do mais vulgar e anónimo dos telefilmes — nem a découpage, de uma banalidade sem arrojo nem imaginação, nem a caracterização das personagens, de que sabemos tudo sobre a vida material (ele, arquitecto, ela, alto quadro de uma empresa com escritório em Sevilha) mas permanecem do princípio ao fim completas paredes desprovidas de alguma vida interior, nem a presença dos actores, refém dos modos, muito “espontâneos” e muito falsos, do “realismo” televisivo. Poderia ser, digamos “sociologicamente”, um retrato da vida de um certo estrato social lisboeta, que tem os filhos em colégios privados, mora em casas remodeladas no centro da cidade e vai jantar a pizzarias gourmet — mas onde está a distância, onde está a perspectiva (tudo sacrificado à malfadada “empatia”), que transforme KM 224 numa observação crítica do que quer que seja?