Proprietários e moradores da Quinta do Ferro elogiam actuação de Carlos Moedas

A Associação de Amigos da Quinta do Ferro sente, pela primeira vez, diálogo por parte da autarquia. Em Julho, a câmara dará a conhecer a sua primeira proposta para a reabilitação do bairro.

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Quinta do Ferro Daniel Rocha

A Câmara de Lisboa promoveu, na quinta-feira, a primeira reunião aberta com moradores e proprietários da Quinta do Ferro, um bairro entre Santa Apolónia e a Graça que espera há décadas por uma reabilitação e onde a pobreza e o abandono se têm instalado.

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A Câmara de Lisboa promoveu, na quinta-feira, a primeira reunião aberta com moradores e proprietários da Quinta do Ferro, um bairro entre Santa Apolónia e a Graça que espera há décadas por uma reabilitação e onde a pobreza e o abandono se têm instalado.

A sessão, que decorreu no Mercado de Santa Clara, foi dirigida pelas vereadoras do Urbanismo e da Habitação, Joana Almeida e Filipa Roseta, tendo contado com a presença de cerca de 80 pessoas. Foi feito um “ponto de situação” do que foi conseguido até agora e foram estabelecidos prazos para os próximos passos, segundo o comunicado divulgado pela autarquia.

“Em Abril vamos terminar os questionários individuais a moradores e proprietários e no início de Julho apresentaremos o relatório dos contributos gerados e uma proposta de modelo de ocupação para a reabilitação urbana da Quinta do Ferro”, afirmou Joana Almeida, citada no comunicado.

Desde que Carlos Moedas visitou a Quinta do Ferro, no dia 25 de Fevereiro, os pelouros do Urbanismo e da Habitação “têm-se mostrado empenhados” em pôr fim às más condições em que os seus moradores vivem, louva ao PÚBLICO José Rosa, presidente da Associação de Amigos da Quinta do Ferro (AQF), que junta proprietários e inquilinos. “O Carlos Moedas está muito sensibilizado, a própria Filipa Roseta perguntou o que é que tínhamos feito ao presidente porque ele está empenhadíssimo”, brinca.

“Até a Junta de Freguesia, que nunca fez nada pela gente, estava ali”, acrescenta José Rosa. A junta terá cedido, pela primeira vez, um espaço para a AQF realizar as suas reuniões, junto ao Panteão.

O presidente da AQF não deixa de notar, contudo, que o processo está ainda “em fase embrionária”, com muitos aspectos ainda em aberto. Um dos grandes enigmas é até que ponto é que a câmara irá aprovar o plano de reabilitação proposto, em 2017, pela AQF em conjunto com a cooperativa Trabalhar com os 99% e com o arquitecto Tiago Saraiva do ateliermob. “Consegui saber que será aprovada a ligação entre a Escola Gil Vicente e o futuro largo na Rua Leite de Vasconcelos”, que é uma das propostas do projecto, segundo José Rosa.

Os restantes detalhes só serão conhecidos em Julho, quando a câmara divulgar a proposta “que estabelecerá a estrutura viária, a localização de espaços verdes e de equipamentos de utilização pública, (...) e o tipo de intervenção no edificado (reabilitação ou nova construção)”, de acordo com o comunicado.

Além da necessidade de reabilitação, José Rosa lembrou às vereadoras que urge dinamizar o bairro por meio de associações recreativas, por exemplo, para combater a toxicodependência, o alcoolismo e a marginalidade que se têm instalado nas ruas.

Na reunião foi também definida uma equipa de trabalho que inclui um arquitecto, escolhido “para lidar com os proprietários”, e uma socióloga, que irá trabalhar com os moradores. Segundo José Rosa, tal levanta dúvidas quanto ao futuro da parceria com o arquitecto Tiago Saraiva e a cooperativa Trabalhar com os 99%, pois significaria que “estas duas entidades passariam a fazer o mesmo trabalho em duplicado, o que é uma pena”.

A câmara apresentou ainda o programa de concurso público para o edifício municipal que a mesma anunciou há duas semanas e que servirá de casa a 30 pessoas durante o período de reabilitação do bairro. Também em Julho se saberá quem das 300 pessoas que ainda vivem no bairro será eleito para mudar temporariamente de domicílio enquanto aguarda por melhores condições. A obra ficará pronta daqui a três anos.

Apesar da espera prolongada e dos vários aspectos que falta clarificar, José Rosa mostra-se optimista: “Estamos convencidos de que [o processo] vai começar a andar”.