Estudantes da FCUL acusam a faculdade de não “dar prioridade à saúde mental”

Ordem dos Psicólogos concorda com a decisão da FCUL de manter os quase 50 exames agendados para esta sexta-feira, mas relembra a urgência de contratar mais psicólogos para as universidades e escolas portuguesas. Muitos estudantes defendem que as provas deveriam ter sido adiadas. Associação de estudantes pressiona a direcção para remarcar os exames para quem não foi capaz de comparecer.

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Rui Oliveira

A uma hora do exame de melhoria de nota, uma estudante de Estatística Aplicada ainda não sabia se se sentia capaz de apanhar o autocarro e entrar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A FCUL decidiu manter os 47 exames desta sexta-feira, garantindo a segurança das instalações e da comunidade estudantil depois de a Polícia Judiciária ter travado o alegado ataque que um estudante de Engenharia Informática planearia contra os colegas.

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A uma hora do exame de melhoria de nota, uma estudante de Estatística Aplicada ainda não sabia se se sentia capaz de apanhar o autocarro e entrar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A FCUL decidiu manter os 47 exames desta sexta-feira, garantindo a segurança das instalações e da comunidade estudantil depois de a Polícia Judiciária ter travado o alegado ataque que um estudante de Engenharia Informática planearia contra os colegas.

“Tenho muita ansiedade e ontem, quando li as notícias, tive um ataque de pânico”, conta a aluna de 20 anos, que prefere não ser identificada. É uma das estudantes que, apesar “de estar agradecida por terem detido o responsável”, lembram que uma “coisas destas não se esquece de um dia para o outro”. “Deveriam ter adiado os exames. A saúde mental dos alunos deveria estar à frente do trabalho de mudar as datas dos exames”, diz.

A decisão de manter as actividades programadas para esta sexta-feira, 11 de Fevereiro, tem como objectivo “minimizar o impacto que este acontecimento possa ter na vida das pessoas”, escreveu no Instagram a Associação de Estudantes da FCUL. A mensagem não foi bem recebida por muito estudantes, que acusaram a associação de “estar do lado da direcção, em vez de representarem os alunos”.

A associação está a “pressionar a direcção” para agendar novas datas para os estudantes que não compareceram aos exames da segunda fase, marcados desde Setembro, depois das notícias de ontem, diz a vice-presidente da AEFCUL ao P3.

Ana Benquerença fez de manhã o exame de recurso de Química com outros colegas “nervosos” — maioritariamente por causa da prova, diz. “Agora, é preciso renovar o sentimento de segurança no campus”, observa, acrescentando que os alunos que hoje foram à faculdade se sentiram seguros”. “Compreendo a posição das pessoas que optaram por não vir”, acrescenta, depois de ontem à hora do jantar ter percebido “um panorama de inquietação nos colegas em geral”.

A faculdade anunciou que “haverá apoio psicológico gratuito para os alunos que assim desejarem”. Em resposta, os estudantes lembram que o GAPsi, Gabinete de Apoio Psicopedagógico, tem uma lista de espera de meses. O director da faculdade diz que os serviços de apoio psicológico estão a ser temporariamente reforçados pela Faculdade de Psicologia e pelo Centro Médico da Universidade de Lisboa.

Mais psicólogos nas faculdades é uma exigência antiga dos universitários, ampliada durante a pandemia de covid-19. “O rácio de psicólogos-alunos foi decidido pela faculdade”, diz a vice-presidente da AEFCUL, mas se “antes da covid-19 talvez fosse um rácio adequado”, desde Março de 2020 que “a procura aumentou”. Em 2020, psiquiatras do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, alertavam para a necessidade de elaborar “um plano de saúde mental ao nível das instituições de ensino”.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) considera que foi “uma boa decisão manter a calendarização dos exames, na tentativa de manter as rotinas habituais e passando a mensagem que a situação está controlada”. “Na verdade não houve nenhuma ocorrência que justificasse a interrupção das actividades previstas”, defende a vice-presidente da OPP, Renata Benavente.

O director da FCUL, Luís Carriço, disse num anúncio sem direito a perguntas dos jornalistas que “cancelar exames seria uma enorme imprudência”. “Muitos trabalharam arduamente para os exames que se realizam hoje”, considera. “A segurança dos alunos e funcionários nunca esteve e causa. De acordo com os dados que temos, e sendo nós uma escola de ciência, só podemos basear-nos nesses dados, e não em teorias da conspiração ou opiniões infundadas.”

Mais do que preocupações com a segurança, os estudantes alegam falta de condições mentais e psicológicas para se concentrarem nos exames. E, nisto, a Ordem dos Psicólogos está de acordo com os estudantes. “São experiências de que estamos habituados a ouvir falar noutros países e que no nosso país não existem. Somos um dos países mais seguros do mundo. Estarmos confrontados com esta possibilidade causa naturalmente alguma perturbação nas pessoas”, diz a vice-presidente da OPP.

“Os alunos que conviveram com este colega podem estar numa situação mais difícil, pensando que poderiam ser um alvo específico do alegado ataque”, diz, acrescentando que será fundamental encontrar estratégias de apoio para estes jovens. Há carências de psicólogos nas faculdades e escolas. “Eles existem, temos mais de 25 mil psicólogos preparados para estas situações, é uma questão de as instituições os contratarem”, diz.