Morreu Antonio Miró, referência da moda espanhola, aos 74 anos

Designer catalão participou nas semanas da moda de Paris, Nova Iorque e Tóquio, além de ter criado os uniformes para os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992.

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O designer catalão Antonio Miró morreu aos 74 anos, na noite desta quarta-feira, 2 de Fevereiro, na sequência de um ataque cardíaco, avançam os meios de comunicação social espanhóis. O criador, conhecido como Toni, era uma referência da moda espanhola, após várias décadas de carreira em que levou as suas criações de Barcelona para as principais passerelles do mundo.

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O designer catalão Antonio Miró morreu aos 74 anos, na noite desta quarta-feira, 2 de Fevereiro, na sequência de um ataque cardíaco, avançam os meios de comunicação social espanhóis. O criador, conhecido como Toni, era uma referência da moda espanhola, após várias décadas de carreira em que levou as suas criações de Barcelona para as principais passerelles do mundo.

Filho de um alfaiate, nasceu em 1947, em Sabadell, perto de Barcelona. Abriu a primeira loja na capital da Catalunha, no final da década de 1960, tinha apenas 20 anos. Chamou-a de Groc e essas primeiras criações distinguiram-se desde logo pela originalidade, culminando na criação da marca própria em 1986, com que mais tarde desfilaria não só em Madrid, como em Paris, Nova Iorque e Tóquio. Venceria, em 1987, o Prémio Nacional de Moda Cristóbal Balenciaga e a Medalha de Ouro de Belas Artes, em 2002.

“Que a terra lhe seja leve”, escreveu o ministro da Cultura espanhol, Miquel Iceta, na sua conta pessoal no Twitter. “Triste com a morte de Toni Miró, uma das grandes referências da moda catalã”, comentou, por sua vez, o presidente do governo regional catalão, Pere Aragonès, também na mesma rede social. “Um barcelonês de coração, criativo, inovador, inspirador de muitas gerações e da marca Barcelona, na forma de fazer e vestir”, lembrou Jaume Collboni, primeiro vice-prefeito da cidade. “Sem o seu legado, não se pode falar de moda em Barcelona”, acrescentou.

Antonio Miró e Barcelona são praticamente indissociáveis. Em 1992, foi responsável pela criação de todos os uniformes para as cerimónias dos Jogos Olímpicos na capital catalã. As suas criações primavam pelo minimalismo funcional e os uniformes eram mesmo uma das suas especialidades: não só desenhou as fardas da polícia regional da Catalunha, como as dos funcionários da Telefónica e da própria polícia espanhola.

Os anos 1990 foram o auge para o criador de moda, que se notabilizou internacionalmente pela colaboração com a conhecida marca de alfaiataria italiana Ermenegildo Zegna. Mais tarde, as suas criações passaram a ser distribuídas em regime de franchising: por exemplo, a Cortefiel era proprietária da linha Studio Antonio Miró. Em 2008, o criador vendeu 70% da empresa à Nuevos Valores Textiles, controlada pelas famílias catalãs Arquero e Nassia, proprietários do grupo industrial Twenty, responsável em Espanha pela Marithé & François Girbaud. A empresa que leva o seu nome, da qual geriu apenas 30% nos últimos anos, pediu a falência em Maio de 2021.

Apesar da sólida carreira que foi construindo na moda, ao longo de 35 anos, Antonio Miró reconhecia a instabilidade constante da indústria. “A moda é muito perigosa, está cheia de altos e baixos; a relação acaba por ser amor-ódio, sofre-se muito e o trabalho é muito árduo. Estás sempre à beira da ruína”, confessou, em entrevista ao El País, em 2007. Supõe-se que esse seja um dos motivos porque se dedicava também ao design de mobiliário, relojoaria e à perfumaria.

Na vanguarda da nova alfaiataria

“Foi um pioneiro na criação da moda masculina vanguardista de Barcelona”, elogia o designer catalão Txell Miras. “Miró era uma pessoa com uma grande visão de design e uma sensibilidade especial. Do menos é mais, apostando no conforto e discrição, conseguiu criar o seu próprio selo muito ligado à realidade do seu tempo”, acrescenta, citado pelo El País. À semelhança do pai que era alfaiate, também foi na arte de criar fatos que Antonio Miró se distinguiu, dando-lhes uma nova roupagem, menos estruturada, tanto para homem, como para mulher.

“Uma vez fui a uma entrevista de emprego e comprei um fato seu que me deu uma tremenda sorte”, relata, por sua vez, a criadora Teresa Helbig. Visitar uma das lojas do criador era também uma experiência por si só, recorda a designer: havia barris para que os clientes bebessem um copo de vinho enquanto faziam as compras. “Se Armani vestiu a elite criativa de Itália, Miró vestiu a elite criativa de Barcelona”, compara a directora da escola de moda LCI Barcelona, Estel Vilaseca.

E mesmo depois da morte, concordam os especialistas, o criador permanecerá bem vivo nas ruas de toda a Espanha (e não só). “Reconhece-se imediatamente uma peça Miró, quer seja para homens ou mulheres, é um clássico, mas sempre com algo diferente. Nunca sairá de moda”, acredita a designer Roser Marcé, que partilhou muitas passerelles com Miró, citada pela revista Vanity Fair espanhola.

O próprio Toni Miró adorava parar na rua e ver como as pessoas usavam as suas peças, reconhecendo-as a todas, relatam os amigos do criador. A historiadora e professora de moda Pilar Pasamontes recorda ter sentido isso na pele: “Um dia estava a olhar para uma montra de uma loja e um homem disse-me: ‘Estas calças são minhas?’ Ele nem se tinha apercebido que era eu”, conta a docente, que ainda se lembra da peça: “Eram umas calças de seda preta maravilhosas.”

Dois dos três filhos do criador também se têm dedicado à moda. Pau, o filho mais novo, está a estudar moda e o mais velho, David, apresentou uma colecção em colaboração com o pai, em 2019. Espera-se, portanto, que o legado de Miró permaneça vivo nos próximos anos.