Menos de um em cada quatro realizadores europeus é uma mulher

Dados do Observatório Europeu do Audiovisual mostram profunda desigualdade de género nas profissões de bastidores. Portugal está acima da média europeia no que toca à média de protagonistas mulheres dos seus filmes.

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Titane de Julia Ducournau, recebeu a Palma de Ouro de Cannes em 2021 DR

O número de mulheres a trabalhar no cinema europeu ainda é diminuto, com um “fosso de género” profundo em áreas como a realização, em que menos de um em cada quatro cineastas europeus é uma mulher, ou direcção de fotografia e composição. Há mais produtoras (33%) e argumentistas (27%) mas em média as mulheres que trabalham atrás das câmaras tendem a trabalhar em menos filmes do que os homens e nos últimos anos não houve qualquer evolução nestes números, revela um estudo do Observatório Europeu do Audiovisual divulgado esta terça-feira.

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O número de mulheres a trabalhar no cinema europeu ainda é diminuto, com um “fosso de género” profundo em áreas como a realização, em que menos de um em cada quatro cineastas europeus é uma mulher, ou direcção de fotografia e composição. Há mais produtoras (33%) e argumentistas (27%) mas em média as mulheres que trabalham atrás das câmaras tendem a trabalhar em menos filmes do que os homens e nos últimos anos não houve qualquer evolução nestes números, revela um estudo do Observatório Europeu do Audiovisual divulgado esta terça-feira.

As principais conclusões do relatório Female professionals in European film production, assinado por Patricia Simone, são que as mulheres estão ainda sub-representadas nas principais profissões de bastidores do cinema europeu e que representam apenas 23% dos realizadores europeus no activo entre 2016 e 2020. É esse o período que o estudo abarca e que mostra como havia apenas 9% de compositoras a trabalhar para cinema e 10% de directoras de fotografia. “A análise sugere que a presença feminina é mais equilibrada frente às câmaras, com 39% dos actores principais de um filme [europeu] do género feminino”, lê-se no relatório, que tem por base as longas-metragens que constam da base de dados Lumiere.

Em média, as mulheres realizadoras dirigiram menos filmes do que os homens e é menos provável que sejam as únicas realizadoras de um filme, ao contrário dos seus congéneres masculinos que têm maior facilidade em trabalhar a solo. Outra tendência identificada, e que condiz com tendências portuguesas ou norte-americanas, tem a ver com a maior presença de mulheres atrás das câmaras quando se trata de um documentário. No que toca à escrita, só 18% dos filmes estreados naqueles quatro anos foram escritos ou produzidos por equipas lideradas por mulheres.

O estudo permite também perceber a relação de cada país com estes indicadores e mostra que Portugal está acima da média europeia no que toca à média de actrizes protagonistas no cinema europeu (40% para média europeia de 38%) mas que está abaixo e mais longe da média do continente no que toca ao número de realizadoras, argumentistas, produtoras, directoras de fotografia ou compositoras.

Nos últimos anos, várias entidades estudam a desigualdade de género nas profissões do cinema e audiovisual e mostram como equipas lideradas por mulheres tendem a empregar mais mulheres e, assim, a fechar mais o fosso de género no acesso ao mercado de trabalho. Ainda assim, e batendo-se recordes em 2020, por exemplo, as mulheres representaram apenas 16% dos realizadores dos filmes mais vistos nos EUA segundo o Center for the Study of Women in Television and Film da San Diego State University (em 2019 tinham sido 12% e em 2018 uns meros 4%).

Em Portugal, dados já antigos mostram que entre 1991-93 só 21,2% dos realizadores eram mulheres; dez anos depois essa parcela subia para 27% segundo um estudo de 2005 coordenado por Rui Telmo Gomes, Vanda Lourenço e Teresa Duarte Martinho no âmbito do projecto comunitário Culture-Biz sobre o género na profissão de cinema em Portugal. No documentário a quota feminina subia para os 30%.