O que a covid-19 ensinou à UE na luta contra o cancro

Tal como para as vacinas contra a covid-19, a UE deve promover um sistema de aquisição conjunta, que torne os tratamentos mais acessíveis para os doentes de cancro para os sistemas de saúde.

Desde a primeira morte em registada na Europa, em fevereiro de 2020, em França, a covid-19 já tirou cerca de 1,4 milhão de vidas na União Europeia (UE). O cancro mata 1,3 milhão de pessoas, por ano, na Europa, das quais 6 mil são crianças. Além disso, a cada ano que passa, há mais 2,7 milhões de vidas viradas do avesso após receberem o diagnóstico mais temido, entre as quais 35 mil crianças e adolescentes. A covid-19 e o cancro não partilham apenas este terrível retrato, ambas podem afetar qualquer um, independentemente da condição social ou do local onde vivam.

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Desde a primeira morte em registada na Europa, em fevereiro de 2020, em França, a covid-19 já tirou cerca de 1,4 milhão de vidas na União Europeia (UE). O cancro mata 1,3 milhão de pessoas, por ano, na Europa, das quais 6 mil são crianças. Além disso, a cada ano que passa, há mais 2,7 milhões de vidas viradas do avesso após receberem o diagnóstico mais temido, entre as quais 35 mil crianças e adolescentes. A covid-19 e o cancro não partilham apenas este terrível retrato, ambas podem afetar qualquer um, independentemente da condição social ou do local onde vivam.

Em setembro de 2020, o Parlamento Europeu (PE) criou uma comissão especial (BECA-Beating Cancer) para debater o que a UE pode fazer na luta contra o cancro. Nos últimos 21 meses, a BECA - cuja última reunião, dia 9, será dedicada à votação do seu relatório - identificou o modo de concretizar este objetivo ao reunirem-se esforços a nível europeu. Como legisladores europeus, traçámos o caminho a percorrer.

A pandemia já evidenciou as vantagens de se trabalhar em conjunto na saúde, bem como as dificuldades e os obstáculos. Na luta contra a covid-19 tivemos de começar do zero. Mas, os sistemas de saúde da UE têm mais conhecimento e experiência em oncologia. Imagine o que poderíamos fazer se uníssemos todo esse saber e prática. As lições da covid-19 mostram o que a UE pode fazer para vencer o cancro.

Os tratamentos e medicamentos oncológicos são muito caros, sobretudo para um cancro raro. Tal como para as vacinas contra a covid-19, a UE deve promover um sistema de aquisição conjunta, que torne os tratamentos mais acessíveis para os doentes e sistemas de saúde. A UE deverá promover um acesso mais igualitário aos medicamentos e deverá incentivar inovações disruptivas, tal como fez com as vacinas.

A UE pode fazer a diferença na prevenção, deteção precoce e tratamento, ao financiar a investigação através dos 95,5 mil milhões de euros do Horizonte Europa. A UE deve derrubar as barreiras no acesso a dados, necessários para o desenvolvimento de investigação de soluções de tratamento para cancros raros, muitos dos quais afetam crianças. A otimização da regulação, no acesso a Big Data, poderia ajudar a curar milhões de crianças, incentivando investigadores e farmacêuticas a investirem em medicamentos específicos para oncologia pediátrica. Cada país na UE deve ter pelo menos um centro especializado para crianças e jovens adolescentes com cancro.

A covid-19 mostrou que a cooperação para o tratamento transfronteiriço salva vidas. Deve ser facilitado o acesso dos doentes oncológicos a tratamentos noutros países da UE, ou otimizados os processos para os sistemas de saúde transferirem os doentes para um hospital com melhores tratamentos. Deve haver um único conjunto de regras de autorização e reembolso. A UE deve fornecer uma plataforma para a partilha de boas práticas em cuidados paliativos e apoiar essa investigação. Todos os doentes merecem o direito de ser “esquecidos", independentemente do país em que vivam. Ninguém na UE deve ser discriminado pelo seu passado com cancro. A vida dos pacientes e o apoio aos seus cuidadores precisam de um esforço comum da nossa parte.

Estes são exemplos de como a UE pode fazer a diferença. O PE tem trabalhado para ajudar os doentes com cancro, independentemente de onde vivam. Na UE existem cidadãos de primeira e de segunda, porque a Leste, os pacientes têm menos 30% de probabilidade de recuperação, em comparação com os pacientes na Europa Ocidental.

Como legisladores europeus queremos que a luta contra o cancro não dependa de fronteiras, ou estatuto social.

A UE pode reunir saber, esforços e dinheiro. Para isso é necessária a vontade política dos chefes de Estado e de Governo já. Os líderes têm de concordar que a UE pode vencer o cancro em conjunto, em vez de lutarem sozinhos. O PE gostaria que os 27 ministros da Saúde não enterrassem a cabeça na areia, mas sim que enfrentem esta tarefa com vontade proporcional à coragem exibida pelos pacientes oncológicos.