As armas para combater o cancro do pâncreas

O cancro do pâncreas é um dos mais letais e com uma taxa de sobrevivência muito baixa, mas devemos encarar o futuro com esperança, já que existem progressos para controlar a progressão desta doença. É igualmente importante alertar para uma vigilância activa e promover diagnósticos cada vez mais precoces. Hoje é o Dia Mundial do Cancro do Pâncreas.

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Um dos factores de risco é uma dieta rica em gorduras e pobre em vegetais e fruta Christopher Williams/Unsplash

É importante explicar que o pâncreas é um órgão que se localiza no abdómen, atrás do estômago, entre o duodeno e o baço. Funciona como uma glândula, ou seja, produz substâncias que têm determinadas funções no nosso organismo. É simultaneamente uma glândula exócrina, produzindo as enzimas digestivas, e uma glândula endócrina, produzindo hormonas importantes como a insulina.

Os tumores pancreáticos podem ser benignos ou malignos e o cancro do pâncreas ocorre quando se formam células malignas no pâncreas. Quando se fala de cancro do pâncreas, referimo-nos habitualmente ao adenocarcinoma do pâncreas. Ainda que seja o 11.º tipo de cancro mais comum, representa a quarta causa de morte entre todos, prevendo-se que venha a ser a segunda. Infelizmente, o número de casos tem vindo a aumentar e, ao contrário de muitos cancros, a mortalidade não tem vindo a diminuir.

Embora cerca de 5 a 10% dos cancros do pâncreas sejam hereditários, a maioria são esporádicos. O aumento do número de casos deve-se, em parte, ao envelhecimento da população, porque a idade é um factor de risco para este cancro. São também factores de risco a diabetes, a obesidade, uma dieta rica em gorduras e pobre em vegetais e fruta, o tabaco, o álcool e a pancreatite crónica (inflamação do pâncreas). À data, não existem métodos de prevenção, mas é muito importante o acompanhamento médico regular, mantendo-se hábitos de vida saudáveis, com uma dieta equilibrada, a prática de exercício físico, evitando-se o consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas.

O cancro do pâncreas é habitualmente uma doença silenciosa, e, na maioria dos doentes, só numa fase avançada da doença surgem queixas, como a perda de peso, a icterícia (tom amarelado da pele e olhos), urina escura, dor na região superior do abdómen e/ou lombar, náuseas e cansaço, entre outros sintomas. Em cerca de 10%, a diabetes de novo é um dos sintomas da doença. É fundamental que o doente não desvalorize os sintomas, por menos específicos que sejam. Quanto mais precocemente for diagnosticado, maior a probabilidade de cura.

O diagnóstico de cancro do pâncreas implica, habitualmente, vários exames, nomeadamente TAC, ressonância, biopsia, análises sanguíneas, com marcadores tumorais No entanto, importa referir que marcadores elevados não representam o diagnóstico de cancro e podem mesmo estar elevados em várias doenças “benignas”. Deve sempre aconselhar-se com o seu médico e esclarecer todas as dúvidas.

O único tratamento curativo do cancro do pâncreas é a cirurgia, mas, na altura do diagnóstico, apenas uma minoria pode ser submetida a cirurgia. A maioria dos doentes apresenta doença metastizada (quando a doença se estende para outros órgãos) ou doença localmente avançada (doença apenas no pâncreas, mas que não é possível remover totalmente com a cirurgia).

Frequentemente, o tumor é considerado como borderline (tumor potencialmente operável, mas com elevado risco de não ser removido na totalidade). Nestes casos, cada vez mais se defende um tratamento neo-adjuvante — tratamento prévio à cirurgia que poderá ser quimioterapia isolada ou combinada com radioterapia — numa tentativa de reduzir o tamanho do tumor, tornando-o operável.

Recentemente, nesta área, o maior avanço foi a identificação de uma terapêutica-alvo, ou seja, um tratamento personalizado, para um grupo muito específico de doentes. Cerca de 4 a 7% dos doentes com cancro do pâncreas são portadores de uma mutação de um gene designado BRCA. Doentes com esta mutação deverão realizar quimioterapia contendo um fármaco da família dos platinos e, posteriormente, se apresentarem resposta à quimioterapia, serão candidatos a manutenção com olaparib, um fármaco oral muito bem tolerado na maioria dos casos. Este novo fármaco leva a equacionar a realização de estudo genético num elevado número de doentes.

Esta é mais uma arma para controlar a progressão do cancro do pâncreas.

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