Joel Cleto: Vinhos com raiz na história

O vinho apaixona-o, sobretudo se tiver história a envolvê-lo. Entre viagens ao Alto Minho para gravar uma série de episódios dedicada ao património da região, o historiador e apresentador do programa Caminhos da História (Porto Canal) fala sobre Verdes do presente que o fazem recuar no tempo.

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Os meus verdes: O historiador Joel Cleto elege os vinhos que o fazem recuar no tempo Anna Costa

Confesso que tendo para dois extremos – de estilo e de geografia. Por um lado, o alvarinho de Monção e Melgaço é sempre incontornável e há ocasiões em que tem mesmo de ser alvarinho. Por outro, também gosto muito dos Verdes da zona de transição para o Douro. Por deformação profissional, acabo sempre por ir buscar marcas de vinho que tenham alguma relação com a história ou com o património.

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Confesso que tendo para dois extremos – de estilo e de geografia. Por um lado, o alvarinho de Monção e Melgaço é sempre incontornável e há ocasiões em que tem mesmo de ser alvarinho. Por outro, também gosto muito dos Verdes da zona de transição para o Douro. Por deformação profissional, acabo sempre por ir buscar marcas de vinho que tenham alguma relação com a história ou com o património.

O Vinho Verde é um produto muito identitário do Minho. Desde épocas antigas despertou interesse a uma larga escala. Quando falamos de exportação dos vinhos portugueses falamos sempre, de imediato, do vinho do porto, mas antes ainda de os ingleses o virem cá buscar, já vinham buscar o Vinho Verde. Mais do que o porto do Porto, o porto de Viana do Castelo era um ponto importante para escoar vinho para os mercados do norte.

Na tal transição para o Douro, acabo por andar em torno de Marco de Canaveses e de Baião. Dentro da sub-região de Baião, especificamente, o vinho Tormes, produzido pela Fundação Eça de Queiroz, leva-me de imediato para todo aquele imaginário de A Cidade e as Serras. Quando consumo uma garrafa de Tormes sinto-me, ainda que minimamente, a contribuir de algum modo para a sustentabilidade do projecto da Fundação de manter viva a casa de Tormes e todo aquele ambiente que inspirou Eça.

Em matéria de alvarinhos, há um vinho muito recente enquanto marca produzido numa quinta antiquíssima: a Quinta do Hospital, em Monção. Cruzei-me com a história dessa quinta, com a qual colaborei do ponto de vista histórico, e fiquei com alguma relação afectiva com o Barão do Hospital Alvarinho. “Hospital”, aqui, remete para a Ordem dos Hospitalários, que se instala em Portugal no século XII. Não sei se foi esse o motivo, mas gosto de pensar que, para a Ordem do Hospital ter ali uma quinta, era porque lhes interessava ter vinho verde para abastecer os seus mosteiros. Além disso, a Ordem popularizou-se pelo apoio aos peregrinos e a quinta tem a particularidade de estar mesmo junto a uma importante estrada medieval. A relação dos Caminhos de Santiago com o território do Vinho Verde, e com esta quinta em particular, é muito interessante. O “barão” do nome, esse é um homem do século XIX que, apesar de uma certa fibra aristocrática, se notabilizou no apoio à causa liberal. É uma quinta repleta de história.

Uma surpresa recente foi o Soalheiro Mineral Rosé Alvarinho & Pinot Noir. Tenho vindo a exorcizar a questão da má imagem que os rosés tiveram durante muito tempo. E tenho descoberto que temos rosés muito interessantes.

* depoimento recolhido por João Mestre


Este artigo foi publicado no n.º 3 da revista Singular.