Pós-COP26: e para onde vamos?

Fica evidente que o caminho para a transição climática não passará por países como China ou Índia, mas pela pressão política que a sociedade civil está a fazer cada vez mais intensamente em cima das potências ocidentais.

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EPA/ROBERT PERRY

A COP é o evento das Nações Unidas para a discussão das alterações climáticas. É a maior e principal conferência nesse âmbito, e reúne líderes mundiais e seus representantes em torno da discussão da mitigação da crise climática que enfrentamos. Este ano, hospedada em Glasgow, a COP26 ficou marcada desde já como a mais exclusiva de sempre.

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A COP é o evento das Nações Unidas para a discussão das alterações climáticas. É a maior e principal conferência nesse âmbito, e reúne líderes mundiais e seus representantes em torno da discussão da mitigação da crise climática que enfrentamos. Este ano, hospedada em Glasgow, a COP26 ficou marcada desde já como a mais exclusiva de sempre.

Ainda antes do início da conferência, as restrições do Reino Unido relativamente ao coronavírus, sobretudo contra países do Sul Global, tornou as viagens da sociedade civil desses países extremamente caras. Somados aos voos e testes, havia a possibilidade anunciada de se ter que pagar por longos dias de quarentena mesmo quando fossem mostrados testes negativos ou certificados de vacinação. Não só inacessibilidade em termos financeiros, como também em termos logísticos. Assistimos, nos primeiros dias, assustados, ao caso da ministra da Energia de Israel, que não conseguiu participar na conferência por se deslocar em cadeira de rodas. 

Mais uma vez, não houve a ousadia que se espera de uma conferência que se propõe a resolver o maior problema da nossa geração. Não se falou em estímulos financeiros dos países ricos para incentivar a economia verde nos países em desenvolvimento, nem os tão falados 100 mil milhões de dólares prometidos pela gestão Obama foram trazidos para a mesa - o que foi alvo de muito protesto dentro e fora da COP26. 

Embora tenha sido finalmente reconhecido o carbono como causa do problema, já no final, a China e a Índia desarmam o texto mais audacioso, que caminhava para a “aceleração da eliminação” do carvão, e agora fica restrito à “aceleração da diminuição” do carvão. Ainda sim, podemos considerar que houve um avanço inesperado relativamente ao reconhecimento de que a exploração fóssil e mesmo os subsídios não podem continuar.

Do ponto de vista da desflorestação, foi com uma surpresa geral que pudemos ver o Governo brasileiro juntar-se a mais 109 governos e assinar um pacto para acabar e reverter com a desflorestação até 2030 - medida que foi muito denunciada como greenwashing pela sociedade civil presente na COP26. De facto, o Governo do Brasil mostrou-se muito pouco interessado na conferência, uma vez que o seu stand serviu apenas como ponto de comida grátis e palestras de empresários e funcionários do pequeno escalão do Governo.

Fica evidente que o caminho para a transição climática não passará por países como China ou Índia, mas pela pressão política que a sociedade civil está a fazer cada vez mais intensamente em cima das potências ocidentais. O movimento climático precisa continuar a caminhar na direcção das reivindicações, e precisa olhar com atenção para os momentos eleitorais que se aproximam em importantes partes do mundo, como no Brasil. 

A resposta contra a crise climática não é nacional, ou regional, mas internacional. O caminhar político dos grandes países do Sul Global deve ser visto com tanta atenção quanto o desenrolar político dos países europeus ou dos Estados Unidos, por exemplo. É preciso um esforço da sociedade civil em todo o mundo para chegarmos no nível de pressão política necessária para efectivamente movermos nossos líderes na direcção em que aponta a ciência: o fim da exploração fóssil.