Deixemo-nos de contrições: Portugal não voltará à lista verde

O pior são as novas variantes, incansáveis, insaciáveis e imprevisíveis e enquanto não estivermos todos vacinados ninguém estará seguro. A resposta está, hoje e sempre, nas mãos dos países mais ricos entre libertação de patentes e distribuição universal de vacinas.

Foto
Reuters/JOHN SIBLEY

Como interessados, ou não contássemos já quase um ano sem voltar a casa, acompanhámos de perto as notícias ao longo da semana sobre a anunciada revisão dos corredores aéreos a partir do Reino Unido.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Como interessados, ou não contássemos já quase um ano sem voltar a casa, acompanhámos de perto as notícias ao longo da semana sobre a anunciada revisão dos corredores aéreos a partir do Reino Unido.

Primeiro ponto: nunca, até quinta-feira, se falou de Portugal ou da sua retirada da lista de destinos seguros. Antes pelo contrário. Se notícias havia, essas iam no sentido do aumento do número de destinos na lista verde, maioritariamente insulares, desde Malta às Baleares e Canárias, mas onde se incluíam países com baixas taxas de infecção pelo novo coronavírus, como a Polónia e a Finlândia.

Segundo ponto: Portugal não só saiu da lista verde de destinos britânicos como a mesma não sofreu qualquer aumento. E aqui está a chave, ou não fosse esta uma decisão propositada e a mensagem do Governo de Sua Majestade muito simples: este será mais um Verão sem destinos de sol onde, Portugal incluído, não voltaremos a ver mais países na lista verde.

A explicação? A ineficiência de um sistema de rastreio e a ausência de meios policiais incapazes, por si só, de garantir a adesão das populações à quarentena em casa por 10 dias. A título de exemplo contamos sete casos, nós incluídos, de portugueses ainda por contactar pelas autoridades após o nosso regresso de Portugal no Verão transacto. E isto numa nação onde metade dos indivíduos não adere à quarentena.

Neste contexto, a quarentena findas as férias estará sempre dependente da boa vontade das populações, as mesmas populações que precisam de trabalhar e provir às suas famílias.

E se há um ano o confinamento era a resposta mais simples para uma pandemia sem rédeas, hoje o turismo dentro de portas é a resposta mais simples para impedir o recrudescer da mesma pandemia.

E basta voltar ao Verão passado para ver Portugal regressar à lista verde no fim do período estival, assim limitando quem entra e sai sem por isso deixar de “abrir as portas” a quem procura o calor que por aqui insiste em não morar.

Deixemo-nos, por conseguinte, de contrições e mea culpa quando a culpa para mais um Verão sem turismo é dos britânicos e de quem os rege. 

Tal como em Portugal, no Reino Unido assistimos neste momento ao aumento diário de números de infecção pelo novo coronavírus com máximos de seis semanas, sendo a vacinação a única e mais importante resposta para a salvaguarda de vidas e a não falência dos sistemas de saúde.

O pior são as novas variantes, incansáveis, insaciáveis e imprevisíveis e enquanto não estivermos todos vacinados ninguém estará seguro. A resposta está, hoje e sempre, nas mãos dos países mais ricos entre libertação de patentes e distribuição universal de vacinas.

Enquanto assim não for, estaremos todos reféns de um ciclo vicioso de variantes sem fim.

Até lá, a ilusão de um Verão todo ele em casa junto dos nossos, a quem não vemos há já um ano, será isso mesmo, uma ilusão. E do Natal nem sequer quero falar.