Um em cada três novos empréstimos à habitação foi para troca de casa

Praticamente todas as moratórias de crédito à habitação são de capital e juros. Amortizações de crédito subiram no segundo semestre.

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ADRIANO MIRANDA/PUBLICO

A evolução do novo crédito à habitação em 2020 andou ao ritmo da pandemia, com desaceleração na primeira metade do ano e forte recuperação na segunda. E apesar das moratórias de crédito, uma medida para minorar o impacto da redução de rendimentos provocada pela pandemia, a amortização total dos empréstimos acelerou, o que se explica, em parte, pela troca de casas, com pagamento de créditos anteriores e contratação de novos.

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A evolução do novo crédito à habitação em 2020 andou ao ritmo da pandemia, com desaceleração na primeira metade do ano e forte recuperação na segunda. E apesar das moratórias de crédito, uma medida para minorar o impacto da redução de rendimentos provocada pela pandemia, a amortização total dos empréstimos acelerou, o que se explica, em parte, pela troca de casas, com pagamento de créditos anteriores e contratação de novos.

De acordo com a publicação Economia numa Imagem, divulgada esta sexta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), cerca de 65% dos novos empréstimos foram concedidos a devedores que não tinham anteriormente outro empréstimo para habitação. Ou seja, um em cada três novos empréstimos correspondeu a clientes com crédito à habitação anterior, que procuram casas com outras características, nomeadamente mais adequadas ao teletrabalho.

Da responsabilidade de Sónia Costa e Luís Martins, quadros do BdP, a análise mostra que aumentaram os reembolsos parciais e totais antecipados na vizinhança da contratação de um novo crédito, mas também noutros reembolsos totais sem recurso a novo crédito. Estes últimos foram os que tiveram o peso mais elevado (40%).

Tal como nos empréstimos, as amortizações abrandaram no primeiro semestre, altura em que a taxa de poupança das famílias também atingiu valores recorde, e aceleraram na recta final do ano.

Outro facto curioso é dado pelo tipo de moratórias contratadas pelos particulares, que abrangiam cerca de 17,2% do total de empréstimos no final do ano e que contribuíram para uma redução nas amortizações de crédito. E isso aconteceu porque os devedores abrangidos, que podiam escolher a interrupção dos pagamentos de capital e/ou dos juros, optaram, na quase totalidade, pela suspensão das duas componentes. Ou seja, a suspensão de pagamentos foi total.

Se os empréstimos (abrangidos pelas moratórias) tivessem continuado a ser amortizados de acordo com o previsto no contrato, “os reembolsos totais teriam sido 6% mais elevados no período entre Março e Dezembro e, em Dezembro, estariam acima dos efectuados antes da pandemia”.

Mas “mesmo corrigindo o efeito das moratórias, o montante total de empréstimos à habitação aumentou ao longo de 2020 e acelerou no segundo semestre”, revela a publicação.

Endividamento das famílias subiu para 93,1%

Ao contrário do aumento no crédito à habitação, que no quarto trimestre atingiu o valor mais elevado desde 2008, “o crédito ao consumo desacelerou ao longo de 2020, reflectindo a contracção do consumo privado de bens duradouros e correntes não alimentares e os critérios de concessão mais restritivos”.

Mas aquela redução não travou o endividamento bancário dos particulares, que aumentou 1,5% face ao final de 2019.

O endividamento dos particulares, medido pelo rácio entre os empréstimos e o rendimento disponível (não ajustado), situou-se em 93,1%, mais 0,5 pontos percentuais face a 2019. Na área do euro, o endividamento dos particulares situou-se em 97,6%, mais 2,5 pontos percentuais face a 2019.

“As moratórias de crédito minoraram o serviço da dívida dos particulares” avança a publicação, adiantando que “no final do ano, o crédito em moratória abrangia 16,1% do montante de empréstimos a particulares (17,8% no segmento habitação e 11,6% no segmento consumo e outros fins)”. E ainda que “entre Março e Dezembro de 2020, o valor das prestações adiadas em moratória correspondeu a 0,7% do rendimento disponível dos particulares”.

Ao longo do último ano, as taxas de juro de novos empréstimos concedidos a particulares mantiveram-se baixas. A taxa anual de encargos efectiva global (TAEG) média dos novos empréstimos para habitação e para consumo situou-se em valores mínimos em Portugal, de 1,9 e 8,4%, respectivamente.

Os autores da publicação destacam ainda que, “apesar do impacto severo da pandemia na actividade económica, os spreads dos novos empréstimos não se alteraram”.

E os preços da habitação desaceleraram, mas ainda registaram um crescimento homólogo de 8,6% no quarto trimestre.