R(t) a aumentar em Portugal pode sinalizar “crescimento da epidemia”

No período de 12 a 16 de Maio, o R(t) assumiu um valor superior a 1 em Portugal (1,03), tendo-se fixado em 1,11 em Lisboa e Vale do Tejo, o que sugere “uma tendência crescente, mais acentuada nesta região”, segundo o relatório de monitorização das linhas vermelhas da pandemia de covid-19 da DGS e do INSA.

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Paulo Pimenta

O aumento do índice de transmissibilidade do novo coronavírus em Portugal “pode sinalizar o início de um período de crescimento da epidemia”, pelo que “deve ser acompanhado com atenção durante a próxima semana”, indica o relatório de monitorização das linhas vermelhas da pandemia de covid-19 divulgado pelo Instituto Ricardo Jorge esta sexta-feira.

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O aumento do índice de transmissibilidade do novo coronavírus em Portugal “pode sinalizar o início de um período de crescimento da epidemia”, pelo que “deve ser acompanhado com atenção durante a próxima semana”, indica o relatório de monitorização das linhas vermelhas da pandemia de covid-19 divulgado pelo Instituto Ricardo Jorge esta sexta-feira.

Segundo o relatório, no período de 12 a 16 de Maio, o R(t) assumiu um valor superior a 1 em Portugal (1,03), tendo-se fixado em 1,11 em Lisboa e Vale do Tejo, o que sugere “uma tendência crescente, mais acentuada nesta região”. Por outro lado, o valor do R(t) mais baixo em território continental foi registado no Alentejo (0,92).

“Ao nível nacional, desde 10 de Maio que o R(t) apresenta valores acima de 1, indicando uma tendência crescente. Na região de Lisboa e Vale do Tejo desde 8 de Maio que o R(t) se mantém acima de 1”, acrescenta o documento, que refere ainda que há actualmente em território nacional uma “transmissão comunitária de moderada intensidade” do vírus.

Lisboa e Vale do Tejo pode ultrapassar limite da incidência num mês

Quanto à incidência da covid-19, a 19 de Maio, Portugal registava 53 novos casos por 100 mil habitantes acumulados nos últimos 14 dias, com “tendência ligeiramente crescente a nível nacional”. Na mesma data, o Algarve apresentava uma incidência de 76 casos por 100 mil habitantes a 14 dias — a região com o valor mais elevado —, seguindo-se o Norte (55), Lisboa e Vale do Tejo (52), Alentejo (39) e Centro (31).

A incidência mais elevada observou-se no grupo dos 20 aos 29 anos (106 casos por 100.000 habitantes), “onde o risco de evolução desfavorável da doença é baixo”. Já a faixa etária dos maiores de 80 anos apresentou uma incidência a 14 dias de 14 casos por 100.000 habitantes, “o que reflecte um risco de infecção muito inferior ao risco para a população em geral”.

Caso se mantenha esta taxa de crescimento, o país poderá atingir, a nível nacional, uma incidência de 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias — o limite traçado pelo Governo — dentro de 61 a 120 dias. Na região de Lisboa e Vale do Tejo este limite poderá ser atingido dentro de um a dois meses (31 a 60 dias), estimam os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

Comparativamente com o relatório da semana passada, a DGS e o INSA destacam o aumento do R(t) em Lisboa e Vale do Tejo de 0,95 para 1,11 e a diminuição do R(t) no Algarve de 1,08 para 0,95.

Por outro lado, observa-se uma “reduzida pressão nos serviços de saúde”, com o número diário de internados com covid-19 em unidades de cuidados intensivos em Portugal continental a revelar “uma tendência ligeiramente decrescente. A 19 de Maio, havia 58 doentes internados com covid-19 em cuidados intensivos, um valor que corresponde a 24% do valor crítico definido de 245 camas ocupadas.

A faixa etária com maior número de casos internados em cuidados intensivos com a doença é a dos 60 aos 69 anos (18 casos a 19 de Maio).

Variante do Reino Unido representa 100% dos casos nos Açores e Madeira

Já no que se refere ao despiste da doença, entre 13 e 19 de Maio, a proporção de testes positivos para SARS-CoV-2 foi de 1,2%, valor que se mantém abaixo do limiar definido de 4%. Segundo o INSA e a DGS, observou-se “um decréscimo no número de testes realizados e um ligeiro aumento da proporção de testes positivos para SARS-CoV-2”, com um total de 256.868 testes realizados nos últimos sete dias (menos 5674 do que os 262.542 realizados na semana anterior). A proporção de casos confirmados notificados com atraso, durante o mesmo período, foi de 8,4%, mantendo-se abaixo do limiar de 10%.

Os dados agora divulgados assinalam que, nos últimos sete dias, 90% dos casos de infecção por SARS-CoV-2 foram isolados em menos de 24 horas após a notificação e foram rastreados e isolados 81% dos seus contactos. “Estiveram envolvidos no processo de rastreamento, em média, 125 profissionais, por dia, no continente”, destaca o relatório.

Relativamente às variantes do SARS-CoV-2, com base na sequenciação genómica de amostras recolhidas entre 5 e 18 de Abril, estima-se que a variante B.1.1.7 (associada ao Reino Unido) tenha uma prevalência de 91,2%, o que representa um total de 1300 em 1426 casos. Segundo o INSA, a presença desta variante foi inferior no Centro (81,8%) e mais elevada nos Açores e Madeira (100%) e no Alentejo (97,6%).

O relatório nota ainda que, até 19 de Maio, foram identificados 88 casos da variante B.1.351 (associada à África do Sul) — o mesmo valor da semana passada, não tendo sido registados casos adicionais desta variante nos últimos sete dias — e confirmados 115 casos da variante P.1 (associada a Manaus, Brasil) — mais um do que na semana passada —, existindo “transmissão comunitária” destas duas variantes.

No que diz respeito à variante de Manaus, a maioria dos casos (53,9%) eram do sexo feminino e “a idade mediana à data do diagnóstico foi de 40 anos”. Em termos geográficos, “a maioria dos casos era residente na região de Lisboa e Vale do Tejo (46,1%) e no Norte (29,6%), tendo sido identificados em 16 distritos e 45 concelhos”. “Dos 115 casos, 26 (22,6%) foram considerados casos importados e 23 (20%) apresentavam história de contacto com casos confirmados da mesma variante”, não tendo sido detectado nenhum caso desta variante em profissionais de saúde.

Também até 19 de Maio, foram identificados dez casos da variante B.1.617 (associada à Índia) em Portugal, oito casos da linhagem B.1.617.1 e dois casos da linhagem B.1.617.2, não parecendo “existir actualmente transmissão comunitária desta variante”. Cinco casos foram identificados em Lisboa e Vale do Tejo, quatro no Centro e um nos Açores, num total de cinco concelhos, não tendo sido identificado, até à data, nenhum óbito associado a esta variante.