Uma Madona de Dalí que não era vista há 55 anos

Proprietário americano de Madona Cósmica (1958) quer vender uma das raras pinturas importantes do artista espanhol que não estão em museus ou colecções privadas.

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Exposta pela última vez em 1965, em Nova Iorque, a Madona Cósmica de Salvador Dalí (1904-1989), uma das várias obras do artista espanhol inspiradas na Madona Sistina do pintor renascentista italiano Rafael, está a ser posta à venda pelo seu actual proprietário, um americano que quis manter o anonimato.

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Exposta pela última vez em 1965, em Nova Iorque, a Madona Cósmica de Salvador Dalí (1904-1989), uma das várias obras do artista espanhol inspiradas na Madona Sistina do pintor renascentista italiano Rafael, está a ser posta à venda pelo seu actual proprietário, um americano que quis manter o anonimato.

O agente do proprietário, Bernard Ewell, sócio de uma firma de avaliadores especializada no pintor espanhol, a Ewell & Zepeda, observa que “há alguns anos que não estava disponível uma obra de Dalí com a importância desta Madona”, que permaneceu durante meio século pendurada no salão de uma casa particular e que só recentemente veio parar, por herança, às mãos do seu actual dono.

Ainda não se sabe se esta pintura a óleo, considerada uma das poucas obras relevantes de Dalí que um privado ainda poderá adquirir, irá ser leiloada ou vendida directamente, mas foi propositadamente criada uma página na Internet com extensa informação acerca da Madona Cósmica, incluindo uma fotografia de alta resolução que permite seleccionar pormenores do quadro.

Também não é adiantada qualquer estimativa do preço que se espera alcançar com a sua venda. Momento de Transição, um óleo de 1934, do valorizado período surrealista, atingiu o correspondente a 7,7 milhões de euros num leilão promovido pela Christie’s de Nova Iorque, mas é um trabalho de dimensão relativamente pequena (54 x 64,5cm) quando comparado com esta Madona, que tem mais de um metro e meio de altura por quase um metro de largura.

O agente convida quaisquer potenciais compradores a pedirem informações adicionais sobre a peça e adianta que o proprietário está disponível para ponderar “ofertas sérias”.

"Azul cerúleo"

Ewell e o seu sócio reuniram ainda várias fotografias do artista posando junto a esta sua obra, cujo paradeiro era ignorado há décadas, mas que está reproduzida no catálogo raisonné da pintura de Dalí compilado pela Fundação Gala-Salvador Dalí, onde se transcreve também o extenso título alternativo inscrito, em inglês, na parte de trás da tela: “The cut end of Van Gogh's ear dematerializing itself from its frightful existentialism and pi-mesonically exploding in the dazzlement of Raphael's Sistine Madonna”.

O professor americano de História de Arte Elliot King, curador da exposição de Dalí que esteve patente em 2010 no Museum of Art de Atlanta, considera esta Madona Cósmica uma das obras “mais elaboradas e conseguidas” realizadas pelo artista no período do pós-guerra.

“Na Madona Cósmica, a Madona de Rafael parece desintegrar-se — ou reintegrar-se — diante dos nossos olhos numa explosão de azul cerúleo”, descreve King, sugerindo que a referência à orelha no título alternativo é uma alusão à hipótese teológica medieval segundo a qual a Virgem Maria teria sido inseminada através do ouvido pelo anúncio do anjo, concebendo o Verbo divino. No mesmo ano, Dalí pintou a Orelha Antimatéria, que descreveu como “Quadro quase cinzento que visto ao perto é abstracto; visto a dois metros de distância é a Madona Sistina de Rafael; e a quinze metros é a orelha de um anjo, que mede um metro e meio e está pintada com antimatéria, ou seja, com energia pura”.

Até ser adquirida pelo coleccionador anónimo de quem agora foi herdada, a pintura tinha sido exposta apenas três vezes, sempre em Nova Iorque. Em 1958, o ano em que Dalí a realizou, esteve na galeria Carstairs, e dois anos mais tarde integrou uma mostra do pintor que esteve patente no Finch College. Finalmente, em 1965, foi exposta na retrospectiva Salvador Dalí, 1910-1965 organizada pela Gallery of Modern Art, o museu que o coleccionador e mecenas Huntington Hartford inaugurara no ano anterior em Nova Iorque.