Nicolau Santos troca Lusa pela presidência da RTP, Hugo Figueiredo mantém-se na administração

Escolha foi feita por unanimidade dos membros do CGI entre uma lista de doze duplas de candidatos. Falta definir a responsável pelo pelouro financeiro. Nova administração toma posse a meio de Abril.

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Nicolau Santos, ao centro, acompanhado por Gonçalo Reis, a quem irá suceder à frente da gestão da RTP. Miguel Manso

Nicolau Santos, actual presidente da Lusa, e Hugo Figueiredo, actual administrador da RTP, foram convidados pelo Conselho Geral Independente (CGI) do grupo público de rádio e televisão a apresentarem um projecto estratégico para a empresa para os próximos três anos. O primeiro assumirá o cargo de presidente e o segundo o de vogal da administração responsável pela área de conteúdos - como já é, aliás, desde 2018.

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Nicolau Santos, actual presidente da Lusa, e Hugo Figueiredo, actual administrador da RTP, foram convidados pelo Conselho Geral Independente (CGI) do grupo público de rádio e televisão a apresentarem um projecto estratégico para a empresa para os próximos três anos. O primeiro assumirá o cargo de presidente e o segundo o de vogal da administração responsável pela área de conteúdos - como já é, aliás, desde 2018.

O objectivo é serem indigitados como membros do conselho de administração da RTP, anunciou o CGI em comunicado, que salientou que a dupla foi escolhida por unanimidade. Entretanto, será também designado pelo CGI um vogal responsável pela área financeira, mas esse nome (que será uma mulher por causa da lei das quotas de género) tem que ter o aval prévio e vinculativo do accionista Estado através do Ministério das Finanças - e não está fora de questão a manutenção de Ana Dias. A nova administração deverá substituir em meados de Abril a equipa de Gonçalo Reis, que preside à RTP desde 2015. 

O CGI justifica a escolha da equipa de Nicolau Santos e Hugo Figueiredo com a “considerável experiência de ambos em áreas da comunicação social e  relevância da sua capacidade de gestão e de liderança, aliada a uma sólida cultura de serviço público”. Pesou ainda o “interesse das propostas apresentadas pela equipa em matéria de valorização, capacitação e rejuvenescimento dos recursos humanos da empresa, num contexto de cultura de mérito”, assim como as ideias em termos de inovação e desenvolvimento tecnológico, “em especial das necessidades de transformação digital da RTP”.

O conselho também “registou a disponibilidade da equipa para mobilizar a RTP com vista a reforçar a promoção da literacia mediática, dando especial atenção à formação crítica das gerações mais jovens”. A que se somam as propostas para uma “gestão rigorosa da empresa, assente na sua sustentabilidade financeira”. Hugo Figueiredo estaria sempre um passo à frente da larga maioria dos restantes concorrentes, porque conhece bem a realidade interna da empresa.

O jornalista Nicolau Santos chegou à Lusa por convite do Governo de António Costa há três anos, vindo do Expresso, onde era director-adjunto. Antes de entrar no semanário do grupo Impresa em 1998, tinha sido director do Semanário Económico, do Diário Económico e do PÚBLICO. Já Hugo Figueiredo, antes de entrar na RTP em 2018, liderou projectos nas áreas do digital, conteúdos, marketing, foi director nas operadoras NOS e Optimus, administrador e presidente do PÚBLICO e da Rádio Nova, e vice-presidente da APDC - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações.

Selecção por head hunting

A escolha de Nicolau Santos e de Hugo Figueiredo é o culminar de um processo diferente de nomeação da administração da RTP, que pela primeira vez foi feito com a ajuda de uma empresa de head hunting. O CGI anunciou publicamente que estava disponível para receber manifestações de interesse de candidatos a presidente e a vogal da administração, cujos projectos tinham que ser conjuntos (um deles seria responsável pelos conteúdos) e que deveriam conter uma “versão preliminar de um projecto estratégico” para a empresa para o triénio 2021-2023.

A consultora Boyden, contratada pela RTP para assessorar o CGI neste processo (que teve um custo de 70 mil euros), elaborou um relatório de análise de cada um dos currículos dos interessados e das aptidões das equipas em matéria de gestão”, descreve o conselho, que é o órgão de fiscalização do serviço público de rádio e TV.

“O CGI avaliou os perfis dos interessados e a sua complementaridade, analisou e ponderou, designadamente à luz das linhas de orientação estratégica, as versões preliminares dos projectos estratégicos apresentados. Numa fase final, o CGI seleccionou e realizou entrevistas com algumas das equipas”, tarefa que executou esta semana.

O PÚBLICO apurou que a esta fase final de selecção chegaram também mais três duplas de candidatos, de uma lista inicial de 12: Ricardo Monteiro (antigo quadro da Havas e da Sonae) e Sérgio Figueiredo (ex-director de Informação da TVI); Pedro Mota Carmo, presidente executivo da Nos Lusomundo Cinemas e antigo responsável pela TV Cabo e SportTV, e Maria Mineiro, vice-presidente do ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual; e José Perdigoto (antigo vice-presidente da Anacom) e Ana Costa Dias (ex-vice-presidente do ICA).

O órgão de fiscalização do serviço público afirma que foi uma “escolha difícil” face à qualidade das pessoas interessadas e deseja que a futura administração “leve a cabo, de forma serena mas efectiva, as mudanças necessárias para que a RTP possa, mantendo-se na vanguarda do novo ecossistema mediático, cumprir integralmente a sua missão de serviço público”.

A escolha de Nicolau Santos para a RTP tornou-se expectável quando se soube que a eleição dos órgãos sociais da Lusa, que devia acontecer nesta sexta-feira de manhã na assembleia geral da agência de notícias, fora adiada.

Ainda esta semana, a RTP anunciou que os seus lucros triplicaram em 2020 relativamente ao ano anterior, passando de um resultado líquido de 903 mil euros para 3,08 milhões de euros - a apresentação das contas será o último acto público de Gonçalo Reis. A curto prazo, a nova administração terá que ultimar as negociações da revisão do contrato de concessão com o Governo, que trará mais obrigações, nomeadamente a criação de um novo canal do Conhecimento e a inclusão deste e da RTP África na TDT, assim como a reformulação do RTP Memória - atribuições que farão aumentar os custos da empresa embora esta não veja a contribuição para o audiovisual (a sua principal fonte de receitas) aumentada desde 2017.