Tanzânia ainda não definiu sucessor para o Presidente Magufuli

De acordo com a Constituição, a legítima sucessora seria a vice-presidente, mas o Governo ainda não comunicou a decisão e vai reunir-se no sábado. Chefe de Estado morreu na quarta-feira e Hassan pode ser a primeira mulher a liderar a Tanzânia.

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Magufuli morreu na quarta-feira à noite, mas ainda não está definido quem lhe vai suceder. STRINGER/Reuters

Foi na quarta-feira à noite que a vice-presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, avançou a notícia da morte do Presidente John Magufuli, alvo de especulações diversas por causa do seu desaparecimento da vida pública, mas o nome do sucessor ainda não é conhecido.

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Foi na quarta-feira à noite que a vice-presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, avançou a notícia da morte do Presidente John Magufuli, alvo de especulações diversas por causa do seu desaparecimento da vida pública, mas o nome do sucessor ainda não é conhecido.

A oposição diz que “a vice-presidente deve tomar posse imediatamente”, conforme consta na Constituição do país, mas o Governo adiou a decisão e convocou uma reunião para o próximo sábado.

“A Constituição não permite um vazio, uma vez oficializada a morte do Presidente, o passo a seguir é a tomada de posse da vice-presidente”, reiterou esta quinta-feira o líder da oposição, Zitto Kabwe, em declarações à Reuters.

De acordo com as leis da Tanzânia, é a vice-presidente que tem de ocupar o cargo durante o resto do mandato. Se isso acontecer, Samia Suluhu Hassan presidirá ao país até 2025 e será a primeira mulher da História da Tanzânia a assumir chefiar o Governo.

Hassan tem vindo a elogiar o Presidente e a representá-lo por diversas vezes, mas é vista, ainda assim, como uma figura de ideias mais moderadas, quando comparada a Magufuli – também chamado de “bulldozer” pela sua veia autoritária e repressiva; além de que era um conhecido céptico dos perigos da covid-19, desacreditava as vacinas e desvalorizava as medidas de precaução.

Esta sucessão pode gerar “desafios na gestão dos interesses” da oposição e pôr em causa “o apoio necessário no seio do partido” do Governo para que continue a governar sem entraves, aponta o analista Fergus Kell citado pela Reuters.

A reunião extraordinária do comité central do Governo, marcada para sábado, levanta dúvidas quanto ao sucessor de Magufuli, mas até agora não se sabe de outros potenciais candidatos.

Desaparecido sem deixar rasto

A possível tomada de posse de Hassan surge na sequência da morte de John Magufuli, de doença cardíaca, anunciada na quarta-feira pela vice-presidente, tendo esta apenas detalhado que o Presidente já padecia de “fibrilação auricular crónica” há mais de uma década, segundo o New York Times.

Explicou ainda que o Presidente fora internado no dia 6 de Março no hospital público da capital, Dar es Salaam, tendo saído poucos dias depois, mas que no dia 14 voltou para “receber tratamento”.

Magufuli, eleito em Outubro do ano passado pela segunda vez consecutiva, já não aparecia em público desde o dia 27 de Fevereiro, segundo a Reuters, tendo sido alvo de uma onda de especulações, promovidas pela oposição, face ao seu estado de saúde. Os principais rumores diziam que tinha sido contagiado com o vírus que provoca a covid-19 e que procurava tratamento no exterior.

Em entrevista a uma televisão queniana, o líder principal da oposição, Tindu Lissu – exilado na Bélgica desde o fim do ano passado –, mantém a opinião de que “Magufuli morreu de coronavírus”. E vai mais longe: “Magufuli não morreu esta noite [de quarta-feira], tenho informações das mesmas fontes que me disseram que ele estava gravemente doente”, alegando que “Magufuli está morto desde quarta-feira da semana passada”, segundo a Al Jazeera.

Na sexta-feira passada, o Governo anunciou que o seu Presidente estava bem de saúde e a trabalhar. Na segunda-feira admitiu que poderia ter adoecido, quando a vice-presidente referiu que “é normal uma pessoa contrair gripe, febre ou qualquer outra doença”. Hassan acrescentou ainda que “se há necessidade de nos mantermos unidos, o momento é agora”.

Em resposta aos rumores, o Governo deteve quatro pessoas desde o fim-de-semana passado, por disseminarem boatos e “informação falsa” sobre o estado de saúde do Presidente.

Texto editado por António Saraiva Lima