EUA criticam grupos militares privados por dificultarem luta antiterrorismo em Moçambique

Grupos privados tornam a luta contra o terrorismo menos transparente por se autorregularem “fora das estruturas internacionais”, aponta Washington. Amnistia Internacional acusa-os de atacarem civis e violarem direitos humanos.

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Milhares de famílias têm fugido da violência na província moçambicana de Cabo Delgado ANTÓNIO SILVA/Lusa

A presença de grupos militares privados em Moçambique tem dificultado a luta antiterrorista por operarem fora das normas de parceria internacionais, afirmou esta quinta-feira o coordenador interino do Contraterrorismo dos Estados Unidos.

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A presença de grupos militares privados em Moçambique tem dificultado a luta antiterrorista por operarem fora das normas de parceria internacionais, afirmou esta quinta-feira o coordenador interino do Contraterrorismo dos Estados Unidos.

Numa conferência de imprensa virtual, que contou com a participação da Lusa, John Godfrey disse que os EUA estão “preocupados com a presença em Cabo Delgado de companhias militares privadas”.

“Estamos conscientes disso, é uma característica do panorama em Cabo Delgado que complica mais do que ajuda a abordar o terrorismo”, considerou o coordenador interino, que assumiu funções na Administração de Joe Biden em Fevereiro.

“É um fenómeno que já vimos noutras áreas de conflito e, particularmente em Cabo Delgado, avaliamos que a presença dessas entidades não ajudou o Governo de Moçambique a combater a ameaça terrorista do Daesh com que se depara”, disse John Godfrey.

O também enviado especial interino da Coligação Global para Derrotar o Estado Islâmico do Iraque e Síria explicou que, “por essas entidades operarem fora das estruturas de parceria internacionais, tendem a ser menos responsáveis em relação ao respeito pelos direitos humanos e pelas leis de conflitos armados”.

A Amnistia Internacional repetiu recentemente denúncias desde 2018 sobre alegadas violações de direitos humanos protagonizadas por forças governamentais.

Num novo relatório lançado no início de Março, a Amnistia concluiu que, além de rebeldes armados, cuja origem continua por esclarecer, as forças de defesa e um grupo militar privado da África do Sul contratado pelo Governo moçambicano também são responsáveis por atacarem civis durante os confrontos com os insurgentes.

As Forças Armadas e de Defesa de Moçambique consideram falsas as informações e o Governo nunca assumiu a contratação de companhias privadas de segurança.

O responsável norte-americano disse esta quinta-feira que os EUA “levam a sério quaisquer alegações” de violação de direitos humanos ou leis de conflito armado.

Segundo John Godfrey, as iniciativas dos EUA passam por um “processo muito rigoroso”, sob a supervisão do Congresso, para assegurar que indivíduos e líderes de entidades com que querem fazer novas parcerias tenham “um registo criminal limpo”.

“Se for determinado que unidades que treinamos têm indivíduos que não vão ao encontro das condições temos de parar ou suspender essas linhas de esforço”, declarou o coordenador do combate ao terrorismo.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

A violência começou em 2017 e algumas das incursões foram reivindicadas pelo Daesh entre Junho de 2019 e Novembro de 2020. Mas a origem dos ataques continua sob intenso debate.