Há uma redução significativa do coelho-bravo no território transmontano

Segundo a associação Palombar, este resultado revela a importância fulcral de continuar com as acções de monitorização das populações de coelho-bravo.

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Monitorização da população de coelhos-bravos na Zona de Caça Associativa de Santulhão, Vimioso Iván Gutiérrez/Palombar

Um estudo realizado pela associação Palombar, com sede em Vimioso, concluiu que houve uma redução significativa do coelho-bravo no território transmontano entre 2016 e 2020 devido à doença hemorrágica viral dos coelhos (DHV).

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Um estudo realizado pela associação Palombar, com sede em Vimioso, concluiu que houve uma redução significativa do coelho-bravo no território transmontano entre 2016 e 2020 devido à doença hemorrágica viral dos coelhos (DHV).

“A redução da população de coelho-bravo na Zona de Caça Associativa (ZCA) de Santulhão, no concelho de Vimioso, no período avaliado [2016-2020] poderá dever-se a novos surtos de DHV ainda não identificados e a factores antrópicos e condições climáticas adversas, nomeadamente falta de chuva nos últimos anos”, indica um estudo efectuado por aquela associação de conservação da natureza.

Segundo esta associação do distrito de Bragança, dirigida pelo biólogo José Pereira, estes resultados revelam a importância fulcral de continuar com as acções de monitorização das populações de coelho-bravo na ZCA de Santulhão, “de forma a compreender melhor as flutuações das suas populações reprodutoras a longo prazo”. “Adicionalmente, é essencial avaliar a existência de novos surtos da nova estirpe de DHV, bem como dar continuidade às medidas de gestão do habitat para promover a recuperação e conservação desta espécie-chave dos ecossistemas ibéricos, um trabalho que continuará a ser realizado pela Palombar ao longo de 2021”, destaca a associação, em comunicado.

A alteração do estatuto do coelho-bravo foi realizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza​ (UICN) devido ao registo de uma descida global das suas populações na ordem dos 70% nos últimos anos e à existência de populações muito fragmentadas. O coelho-bravo é, segundo os investigadores da Palombar, uma presa-chave de várias espécies ameaçadas, quer de mamíferos, como o lince-ibérico, quer de aves, como a águia-de-bonelli, a águia-imperial-ibérica e a águia-real, sendo que a escassez de alimento poderá afectar a cadeia alimentar destes predadores.

Aquela associação revelou que fez uma monitorização do coelho-bravo no período de 2016 a 2020 na Zona de Caça Associativa (ZCA) de Santulhão, localizada na Zona de Protecção Especial Rios Sabor e Maçãs da Rede Natura 2000. Os dados indicam que a população desta espécie diminuiu naquele período e que a continuação da implementação e reforço das medidas de gestão de coelho-bravo “é essencial”, tendo em conta que esta é “uma espécie em risco”.

De acordo com a página oficial na Internet do Instituto Nacional Investigação Agrária e Veterinária, a DHV afecta o coelho doméstico e o coelho-bravo, tendo sido identificada pela primeira vez em Portugal, no arquipélago da Madeira, em 1987. Nos anos seguintes, o vírus da DHV foi detectado no arquipélago dos Açores e no Continente, e devido à elevada transmissibilidade e resistência no ambiente “tornou-se endémico nalgumas áreas”.

O organismo explica ainda que, em 2010, a emergência de um novo genótipo, designado RHDV2, perturbou o frágil equilíbrio existente entre as populações de coelhos selvagens e as estirpes clássicas de RHDV, tendo-se disseminado rapidamente nos países da Europa ocidental, substituindo os genótipos clássicos anteriormente em circulação, e evidenciando a excelente capacidade do RHDV2 de contornar a imunidade natural das populações conferida pelo contacto com as estirpes clássicas. Enquanto as formas clássicas da DHV afectavam essencialmente indivíduos adultos, o RHDV2 veio também causar elevada mortalidade nos coelhos juvenis, limitando de forma importante o recrutamento de novos indivíduos para as populações.