A reabilitação dos militares

O papel dos militares e a queixa contra o Chega: dois dos factos da semana.

1. Em Abril, lembrava que o Conselho Superior de Defesa Nacional não tinha sido tido nem achado no estado de emergência, como a lei obrigava, e que as fardas pareciam incomodar muita gente, quase 50 anos depois de o Movimento das Forças Armadas ter dirigido o país. 

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1. Em Abril, lembrava que o Conselho Superior de Defesa Nacional não tinha sido tido nem achado no estado de emergência, como a lei obrigava, e que as fardas pareciam incomodar muita gente, quase 50 anos depois de o Movimento das Forças Armadas ter dirigido o país. 

Contudo, é bom de sublinhar o que aconteceu desde então: quando se começaram a multiplicar surtos, os militares foram chamados a desinfectar escolas e lares, a instalar hospitais de campanha e a receber idosos nos seus quartéis (Beja ou Alfeite), quando o número de contágios disparou, foram chamados a atender telefones para ajudar a fazer rastreios epidemiológicos, e quando a chegada de vacinas deixou de ser uma miragem, foram encarregados de montar o plano logístico de armazenamento e distribuição das vacinas. Pelo meio, reabriram hospitais militares desativados (como o da Ajuda, em Lisboa) e disponibilizaram camas para doentes covid-19 a um ritmo mais acelerado do que os hospitais privados. E esta semana, perante a demissão do coordenador do plano de vacinação anticovid, Francisco Ramos, o Governo (com a pressão do Presidente da República e de alguns partidos políticos) decidiu nomear para o substituir um almirante, cuja paixão na sua vida começaram por ser os submarinos.

Está à vista de todos que os militares são o braço mais bem preparado da protecção civil e que é um erro pensar-se que as Forças Armadas são algo anacrónico. Porém, isto não significa que tudo o que se passa na instituição seja digno de elogios, como já se viu com o caso de corrupção nas messes da Força Aérea ou da falta de segurança em Tancos. Mas se há razões para elogiar, que não sejam desperdiçadas por fantasmas de ditaduras militares.

2. Esta semana deu entrada na Procuradoria-Geral da República uma queixa contra a legalização do Chega, com 40 pontos de argumentário. A autora foi a ex-candidata presidencial Ana Gomes. Será esta a melhor estratégia para combater um partido como o Chega, que aposta em fomentar o medo e colocar minorias contra outras minorias sejam estas económicas ou sociais? Ainda ontem, nas páginas deste jornal, Francisco Assis, um dos mais destacados apoiantes de Ana Gomes e presidente do Conselho Económico e Social (CES), aconselhava a combater a “demagogia primária” com “rigor e seriedade”, isto a propósito da forma como André Ventura atacou a comunidade cigana durante a campanha das presidenciais. Assis reconhece que há problemas a nível socioeconómico na comunidade cigana e que “muitas das políticas” levadas a cabo “não tiveram o sucesso que deveriam ter tido”. É, por isso, avançou, que o CES vai fazer “um estudo rigoroso e sério, que envolva auscultação de universidades, associações” pois, a seu ver, é a maneira mais importante de responder ao populismo do Chega. Aliás, na senda do que o próprio Marcelo Rebelo de Sousa várias vezes sublinhou na campanha eleitoral: não se pode centrar o debate político no Chega, mas na discussão serena dos problemas que vários portugueses enfrentam, sejam eles a falta de rendimentos, de habitação, de acesso à educação ou à saúde. Que o exemplo de Assis seja seguido em mais casos.