Depois do Natal, Irlanda é o país com maior incidência de covid no mundo

Restrições insuficientes na época das festas e presença da nova variante são as razões apontadas para a enorme subida.

Foto
Antes do final do ano a Irlanda decretou uma série de medidas restritivas CLODAGH KILCOYNE/Reuters

“Já não temos adjectivos para descrever a gravidade da situação” da covid-19 na Irlanda, disse o chefe da autoridade de saúde do país, Paul Reid, citado pelo Washington Post. A Irlanda estava, no início de Dezembro, numa situação invejável, com uma das mais baixas taxas de incidência do vírus que provoca a covid-19 da União Europeia. Mas a curva começou a subir e neste momento é uma linha quase vertical. Agora a Irlanda é o país com a maior taxa de incidência não só da Europa, mas do mundo.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Já não temos adjectivos para descrever a gravidade da situação” da covid-19 na Irlanda, disse o chefe da autoridade de saúde do país, Paul Reid, citado pelo Washington Post. A Irlanda estava, no início de Dezembro, numa situação invejável, com uma das mais baixas taxas de incidência do vírus que provoca a covid-19 da União Europeia. Mas a curva começou a subir e neste momento é uma linha quase vertical. Agora a Irlanda é o país com a maior taxa de incidência não só da Europa, mas do mundo.

A média de novas infecções a sete dias (relativa à semana passada) da Irlanda é de 1394 por milhão de habitantes, seguindo-se o Reino Unido com 810, Portugal com 735, os EUA com 653, e a Alemanha com 248, enumera o diário britânico The Guardian. A 12 de Dezembro o país tinha 52,31 casos por milhão de habitante. No Domingo, o valor era de 1322,92.

Foto

O primeiro-ministro, Micheál Martin, disse na segunda-feira que houve uma “tempestade perfeita” para a mudança drástica na situação na Irlanda: o convívio de pessoas durante a época do Natal e a nova variante, detectada primeiro no Reino Unido, que é mais transmissível. Os testes, disse, mostraram que 42 em 92 novas amostras eram da nova variante – ou seja, quase metade dos novos casos serão desta nova variante.

O primeiro-ministro defendeu a decisão política de permitir um “Natal significativo”, dizendo que “agimos para responder com eficácia às ondas que têm surgido”. O país entrou no terceiro confinamento a 31 de Dezembro.

Muitos não concordam. “Foi irresponsável”, disse ao Guardian Seán L’Estrange, especialista em ciências sociais que tem escrito sobre a pandemia. O país tinha números invejáveis após um confinamento de seis semanas (que permitiria a reabertura do comércio e “salvar o natal”, nas palavras de Martin).

Mas o Governo decidiu reabrir, além das lojas, também restaurantes e gastropubs. Quando as infecções começaram a crescer a 10 de Dezembro, nada foi feito, acusou L’Estrange. “Ignoraram a evidência. Até [Boris] Johnson acabou por fazer uma inversão e cancelou o Natal em Inglaterra, mas aqui não quiseram ouvir. Foi uma governação fraca e sentimental”, declarou.

A situação actual é de uma dimensão difícil até para os peritos: Philip Nolan, presidente do grupo de modelação epidemiológica da Irlanda, “não poderíamos ter sequer imaginado [os números actuais] antes do Natal”, tanto em casos de infecção como de ocupação hospitalar.

O número de internamentos está a duplicar a cada semana e a preocupação é maior porque o país tem um número de camas de cuidados intensivos abaixo da média europeia.

“Se vamos ultrapassar o limite [de camas disponíveis] e se vamos chegar a uma situação em que os médicos vão ser forçados a racionar cuidados, o que seria horrível para todos os envolvidos? Não sabemos”, disse Gabrielle Colleran, da Associação Irlandesa de Consultores Hospitalares, à televisão RTE.