Polícia etíope matou mais de 75 pessoas durante protestos contra o Governo no Verão

Comissão de Direitos Humanos investigou actuação das forças de segurança durante manifestações contra o Governo na sequência da morte de um cantor popular.

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Abiy Ahmed não tem conseguido cumprir as expectativas criadas pela sua eleição na Etiópia TIKSA NEGERI / Reuters

As forças de segurança etíopes foram responsáveis pela morte de mais de 75 pessoas, e mais de 200 feridos, quando reprimiram os protestos desencadeados pelo assassínio de um músico muito popular em Junho, revelou esta sexta-feira a Comissão de Direitos Humanos Etíope.

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As forças de segurança etíopes foram responsáveis pela morte de mais de 75 pessoas, e mais de 200 feridos, quando reprimiram os protestos desencadeados pelo assassínio de um músico muito popular em Junho, revelou esta sexta-feira a Comissão de Direitos Humanos Etíope.

A investigação refere-se à onda de protestos e confrontos durante os meses de Junho e Julho, que foram despertados pelo homicídio de Haacaaluu Hundeessaa, um cantor crítico das políticas do actual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 2019.

As conclusões da investigação da comissão estatal mostram um cenário de “ataques generalizados e sistemáticos” das forças de segurança contra civis, que constituem crimes contra a humanidade. Há relatos de pessoas decapitadas, torturadas e arrastadas pelas ruas, cita a Al-Jazeera.

A morte de Haacaaluu desencadeou uma das piores vagas de violência inter-étnica na história recente da Etiópia. Ao todo, 123 pessoas morreram e 500 ficaram feridos.

A actuação da polícia é descrita como desproporcionada e frequentemente mal direccionada. “A comissão descobriu que pessoas foram mortas com balas na cabeça, disparos na área do peito e das costas. Pessoas que não participavam nos protestos – transeuntes, espectadores que observavam das suas portas, jovens, pessoas idosas a tentar mediar, pessoas com doenças mentais e até agentes da polícia – também perderam as suas vidas.” O Governo não comentou as conclusões da investigação.

Desde que Abiy tomou posse, em 2018, que a tensão entre grupos étnicos é elevada na Etiópia. Abiy tornou-se no primeiro chefe de Estado do país da etnia oromo, maioritária no país, e a sua eleição trouxe uma elevada expectativa de reformas democráticas e uma maior partilha do poder entre os vários grupos étnicos.

Porém, a lentidão do Governo em conseguir fazer progressos criou novos focos de conflito. O Exército lançou em Novembro uma ofensiva contra rebeldes na região do Tigré, na qual milhares de pessoas já morreram e grande parte da população foi obrigada a abandonar as suas casas.