Amplificadores inspirados nas Nicolinas prometem avivar espaço público de Guimarães

Dois investigadores da Universidade do Minho criaram três altifalantes de madeira, especialmente desenhados para propagarem o toque das festas estudantis da cidade-berço. Financiado pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), o projecto visa encurtar o distanciamento forçado pela pandemia de covid-19.

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Celebradas há mais de 300 anos, as Nicolinas, festas em que os estudantes de Guimarães honram a figura de São Nicolau, tiveram de se moldar a um atípico 2020. E assim aconteceu, mesmo que com polémica pelo meio: a concentração de centenas de pessoas no Largo da Oliveira na manhã de 29 de Novembro marcou uma edição em que os vários números se assinalaram de forma principalmente simbólica. Foi precisamente o contraste entre a sede de uma comunidade se reunir e a necessidade das pessoas se distanciarem face ao novo coronavírus que inspirou a mais recente proposta para o espaço público vimaranense: três amplificadores sonoros de madeira, desenhados para propagar o som das caixas e dos bombos que se ouve ano após ano, no cortejo do Pinheiro. “Quisemos pegar no toque nicolino, porque as pessoas identificam-no logo. “Assim, é suposto estes artefactos andarem pela cidade a espalhar som”, diz ao PÚBLICO Carlos Maia, um dos investigadores da Escola de Arquitectura da Universidade do Minho (EAUM) envolvidos na iniciativa.

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Celebradas há mais de 300 anos, as Nicolinas, festas em que os estudantes de Guimarães honram a figura de São Nicolau, tiveram de se moldar a um atípico 2020. E assim aconteceu, mesmo que com polémica pelo meio: a concentração de centenas de pessoas no Largo da Oliveira na manhã de 29 de Novembro marcou uma edição em que os vários números se assinalaram de forma principalmente simbólica. Foi precisamente o contraste entre a sede de uma comunidade se reunir e a necessidade das pessoas se distanciarem face ao novo coronavírus que inspirou a mais recente proposta para o espaço público vimaranense: três amplificadores sonoros de madeira, desenhados para propagar o som das caixas e dos bombos que se ouve ano após ano, no cortejo do Pinheiro. “Quisemos pegar no toque nicolino, porque as pessoas identificam-no logo. “Assim, é suposto estes artefactos andarem pela cidade a espalhar som”, diz ao PÚBLICO Carlos Maia, um dos investigadores da Escola de Arquitectura da Universidade do Minho (EAUM) envolvidos na iniciativa.

Foram, aliás, as “saudades do São João” que motivaram os portuenses Carlos Maia e Bruno Figueiredo, outro dos investigadores da EAUM, a submeterem uma ideia relacionada com as Nicolinas ao FURNISH, projecto do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) que tenciona promover a coesão social num contexto de distanciamento físico e suscitar novas leituras do espaço público. “A premissa colocada era a de como intervir em espaço público em tempos de pandemia. Achámos que seria interessante pensar em algo que nos está a faltar”, refere Carlos Maia.

A proposta foi uma das sete seleccionadas para avançar, garantindo à equipa formada pela EAUM e pela Universidade Politécnica de Valência, em Espanha, um financiamento de dez mil euros pelo EIT. A partir daí, os investigadores materializaram os amplificadores num mês e meio, com a colaboração de alunos, nos laboratórios do Instituto de Design de Guimarães, esclarece Bruno Figueiredo. Para o conseguirem, recorreram a ferramentas de modelação digital, estudaram a “posição ergonómica” de quem habitualmente toca caixa ou bombo nas Nicolinas e finalizaram o processo com uma pintura em vermelho, que estabelece uma “relação de mimetismo” com os instrumentos de percussão. “Esta é uma tentativa de se criar um objecto simbólico que unifique e represente esse processo social, mas num momento de distanciamento”, resume o investigador. A inspiração do projecto destoa de outros seleccionados para o FURNISH, como o de Barcelona, onde se desenhou um “pequeno anfiteatro com escorregas”, para as “crianças brincarem com maior distanciamento”, ou o de Espoo, na Finlândia, com “abrigos que permitem trabalhar em espaço exterior”, no “contexto de um campus universitário”, acrescenta.

Expostos ao longo da última semana no Instituto de Design, os amplificadores só saíram à rua para repousarem junto ao monumento nicolino, de José de Guimarães, mas prometem espalhar-se por diferentes locais da cidade nesta semana. Estarão no espaço público, mas invisíveis. A sua intervenção será apenas sonora e não necessariamente entoando o toque nicolino. “Desenhámos um mapa da cidade e começámos a propor sítios a partir dos quais o som se pode propagar. Eles não têm por que estar visíveis”, antecipa Carlos Maia.