“Não há comida para quem não votar”, diz número dois do aparelho venezuelano

A oposição venezuelana, que apelou ao boicote das eleições de 6 de Dezembro, já reagiu, acusando o vice-presidente do PSUV de “ameaçar a população”.

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Diosdado Cabello CARLOS EDUARDO RAMIREZ/Reuters

O vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, no poder), Diosdado Cabello, avisou que “não há comida para quem não votar” nas legislativas de 6 de Dezembro, e prometeu uma “lição de soberania”.

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O vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, no poder), Diosdado Cabello, avisou que “não há comida para quem não votar” nas legislativas de 6 de Dezembro, e prometeu uma “lição de soberania”.

Cabello, considerado o número dois do chavismo, disse que a Venezuela “dará uma lição de soberania à oposição e ao império norte-americano” nas eleições. “Vamos dar uma lição ao império, durante as eleições demonstraremos que na Venezuela é o povo quem elege a Assembleia Nacional, que elege o Presidente da República”, disse.

Cabello falava durante um comício no estado de Bolívar (sudeste de Caracas), durante o qual sublinhou que os novos deputados “continuarão o trabalho para consolidar as políticas para o povo”.

O responsável, que é também presidente da Assembleia Constituinte (composta unicamente por apoiantes do Governo), instou os venezuelanos a votarem em massa em “qualquer dos partidos que formam a aliança revolucionária”.

Segundo um vídeo divulgado pela impressa venezuelana, Diosdado Cabello disse ainda que “não haverá comida para quem não vote”. “Há que ir votar. E quem não vota não come, para quem não votar não há comida. Quem não votar, não come. Aplicaremos uma quarentena, sem comer”, disse.

A oposição venezuelana já reagiu, e acusa o vice-presidente do PSUV de “ameaçar a população”.

“À ditadura de Maduro resta apenas a ameaça como arma mobilizadora da fraude de 6 de Dezembro. Cabello diz que não há comida para quem não votar, mas não há comida desde há muito tempo. Mais de nove milhões de venezuelanos sofrem de insegurança alimentar devido à crise que vocês criaram”, escreveu o deputado Carlos Vecchio na sua conta do Twitter.

Numa outra mensagem, acompanhada por uma foto de idosos a comerem sopa, Vecchio diz ainda que “mais de cinco milhões de venezuelanos emigraram em busca de alimentos e recursos fora da Venezuela porque vocês arrasaram com tudo”.

“Nem falemos da desnutrição infantil e da dolarização [afixação de preços de produtos em dólares] de facto da economia que agrava a situação”, frisou o representante da oposição, que apelou ao boicote às eleições.

A imprensa venezuelana diz que “há alguns dias o Observatório contra a fraude” denunciou que os candidatos chavistas estão a usar caixas de alimentos a preços subsidiados “para fazer campanha e captar votos em 55,60% dos municípios do país”.

Um relatório divulgado em 2019 pela Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, alertava que “com o agravamento da crise económica, as autoridades passaram a usar os programas sociais de maneira discriminatória, por motivos políticos e como instrumento de controle social”.