Correio da Manhã acordou pagar 30 mil euros a denunciante do Cashball, diz Polícia Judiciária

Dinheiro pagaria entrevista sobre alegado esquema de viciação de resultados em jogos de futebol e andebol. Director do jornal desmente.

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PJ diz que jornal e Paulo Silva negociaram verba em troca de entrevista Adriano Miranda/Publico

O relatório final da Directoria do Norte da Polícia Judiciária (PJ) revela que o empresário Paulo Silva, que ficou conhecido como o denunciante do caso Cashball, terá feito um acordo com jornalistas do Correio da Manhã em que recebia 30 mil euros em troca de uma entrevista sobre os alegados subornos para viciar jogos de futebol e de andebol a favor do Sporting. Paulo Silva alegava que agia a mando de dirigentes do Sporting, implicando André Geraldes, então director desportivo dos “leões”, no alegado esquema de manipulação de resultados.

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O relatório final da Directoria do Norte da Polícia Judiciária (PJ) revela que o empresário Paulo Silva, que ficou conhecido como o denunciante do caso Cashball, terá feito um acordo com jornalistas do Correio da Manhã em que recebia 30 mil euros em troca de uma entrevista sobre os alegados subornos para viciar jogos de futebol e de andebol a favor do Sporting. Paulo Silva alegava que agia a mando de dirigentes do Sporting, implicando André Geraldes, então director desportivo dos “leões”, no alegado esquema de manipulação de resultados.

“Conforme se estatui do Auto de Gravação e Relatório das intercepções, é possível verificar que Paulo Silva estabeleceu contactos com jornalistas no sentido de dar uma entrevista sobre os factos em investigação no qual terá sido estipulado uma contrapartida de 30 mil euros, 20 mil para falar do futebol e dez mil para falar do andebol”, lê-se no relatório da PJ, no qual é sublinhado que o empresário, apesar de ter sido notificado sobre o facto de o processo estar em segredo de Justiça, “concedeu uma entrevista ao jornal Correio da Manhã, onde revelou todo o conteúdo do objecto de investigação dos presentes autos, o que corrobora o teor das intercepções telefónicas”.

No entanto, uma escuta entre Paulo Silva e o seu advogado, Carlos Macanjo, demonstra que, apesar do acordo, o Correio da Manhã não terá feito o pagamento. O empresário queixa-se ao advogado de que o jornal não cumpriu com o combinado e o advogado responde-lhe que devia ter feito um contrato por escrito com a Cofina. Paulo Silva mostra-se descontente, dizendo que abordou todos os tópicos acordados previamente com os jornalistas. O encontro entre Paulo Silva e os jornalistas foi vigiado pela polícia, com a PJ a dizer que as mensagens trocadas com o denunciante do Cashball denotam desagrado perante “o teor, por escasso, da entrevista dada”. 

Contactado pelo PÚBLICO, Octávio Ribeiro, director do Correio da Manhã, negou qualquer acordo. “Desminto em absoluto! Nunca pagámos e nem pagaremos a alguém para ser entrevistado ou prestar declarações! A direcção do CM nunca teve essas práticas. Condena-as, aliás, por poderem manipular a verdade dos factos. Desconheço em que indícios a PJ assenta essa grave presunção de acordo para declarações em on, mas sei que são falsos e que essa presunção é, em sim mesma, uma difamação grave sobre o CM”, afirmou, por escrito, em resposta ao pedido de esclarecimento do PÚBLICO.

PJ destaca contradições

O relatório final da PJ enuncia várias contradições nas versões contadas por Paulo Silva, o alegado corruptor de árbitros e jogadores. Num desses episódios, relativo ao jogo de andebol entre o Madeira SAD e o FC Porto, da época 2016-17, Paulo Silva disse às autoridades que se encontrou com o árbitro da partida na Madeira, oferecendo-lhe 1500 euros para que os “dragões” fossem derrotados. O denunciante do Cashball relatou à polícia que a viagem ao arquipélago foi marcada por alguém ligado ao Sporting.

A TAP, companhia aérea que realizou a viagem até ao Funchal, informou as autoridades que, apesar de existir uma reserva em nome de Paulo Silva, os bilhetes não foram usados. Ou seja, no dia em que Paulo Silva se teria alegadamente encontrado com árbitro, nem sequer estaria na Madeira, invalidando todas as anteriores declarações prestadas às autoridades sobre este jogo. A polícia concluiu ainda que, nesta partida, nenhum dinheiro foi trocado entre Paulo Silva e o árbitro, numa partida que o FC Porto venceria.

Empresário terá tentado subornar jogador do Chaves

Paulo Silva disse à PJ que foi pressionado por João Gonçalves a abordar cinco jogadores: Leandro Feire, do Grupo Desportivo de Chaves, Pedro Trigueira, guarda-redes do Vitória Futebol Clube, João Aurélio, do Vitória Sport Clube, Bruno Nascimento do Clube Desportivo Feirense, e Ruben Lima do Moreirense Futebol Clube.

Garante que acabou por só abordar um deles, Leandro Freire, apesar de ter dito a João Gonçalves que tinha abordado todos.

Paulo Silva contou que ofereceu a Leandro Freire 25 mil euros, ou seja 12.500 euros por cada jogo em que este teria de actuar para que o resultado favorece o Sporting. Disse que inicialmente, o jogador não estava receptivo, mas que depois disse: “estou com você”.

Inquirido pela PJ, José Gonçalves, à data director desportivo do Chaves, confirmou que num dos dias anteriores ao primeiro jogo com o Sporting, Leandro Freire pediu para falar consigo e disse-lhe que tinha recebido um contacto de um indivíduo que disse ser empresário e que tinha uma proposta para ir para o estrangeiro. Contou que se encontrou com ele, mas que afinal ele ofereceu-lhe dinheiro para prejudicar o Chaves em dois jogos contra o Sporting. O jogador disse que recusou e que se foi embora.

O próprio jogador confirmou o mesmo à PJ e referiu que até disse aos directores que compreendia que não o colocassem a jogar, mas acabaram por o colocar em campo à mesma.

Bilhetes para claques

André Geraldes, antigo director desportivo do Sporting, foi outra das pessoas implicadas no caso. Paulo Silva alegou que tinha sido mandatado pelo responsável dos “leões” para corromper os árbitros.

Nas buscas feitas ao gabinete de André Geraldes no Estádio José de Alvalade, as autoridades encontraram cerca de 60 mil euros (60.405) , que o director atribuiu à venda de bilhetes para partidas dos “leões”. Uma justificação que, neste relatório final, a PJ considerou “válida”, admitindo a hipótese de que o dinheiro estaria efectivamente relacionado com a venda de ingressos a “grupos organizados de adeptos”, também conhecidos como claques.