Presidente interino do Peru demite-se depois da morte de dois manifestantes

Manuel Merino tinha assumido o cargo no início da semana depois da destituição de Martín Vizcarra. Milhares de pessoas saíram à rua no sábado para pedir a sua demissão.

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Merino tomou posse na terça-feira como Presidente interino Reuters

O Presidente interino do Peru, Manuel Merino, não resistiu à pressão popular e política, e apresentou este domingo a demissão, menos de uma semana depois de ter assumido o cargo na sequência da destituição do anterior chefe de Estado, Martín Vizcarra.

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O Presidente interino do Peru, Manuel Merino, não resistiu à pressão popular e política, e apresentou este domingo a demissão, menos de uma semana depois de ter assumido o cargo na sequência da destituição do anterior chefe de Estado, Martín Vizcarra.

Merino estava pressionado também pelo Congresso e pelo próprio Governo, com vários ministros a apresentarem a demissão desde sábado. O Congresso tinha dado ao Presidente interino um ultimato para que se demitisse por sua iniciativa, caso contrário seria convocada uma sessão para o fazer, explica o El País.

Na sua comunicação ao país, Merino reconheceu estar perante “uma das maiores crises políticas” e apelou à “paz e unidade de todos os peruanos”. No sábado, dois manifestantes morreram em confrontos com a polícia durante a repressão a um protesto em Lima contra a destituição de Vizcarra. Uma das principais exigências dos manifestantes era a demissão de Merino, que assumiu a chefia de Estado por ser presidente do Parlamento.

“Acredito na luta frontal contra a corrupção, os corruptos não nos podem representar, acredito que o poder é para servir a todos e não a poderes subalternos”, declarou Merino, num discurso a partir do palácio do Governo de Lima.

Na segunda-feira, Vizcarra foi destituído por “incapacidade moral”. Em causa estava a suspeita de envolvimento do Presidente num esquema de corrupção em 2014, numa altura em que era governador. Vizcarra nega todas as acusações e disse considerar ilegítimo o processo do seu afastamento. Os últimos quatro chefes de Estado peruanos foram todos destituídos por suspeitas de envolvimento em casos de corrupção, sempre com a participação da construtora brasileira Odebrecht, uma das que está no centro da Operação Lava-Jato.

Protestos sangrentos

A destituição do Presidente foi mal recebida por grande parte da população que se manifestava nas ruas e no sábado organizou um grande protesto em Lima, a capital, para denunciar o que disseram ser um “golpe de Estado parlamentar”. A crise aprofundou-se com a morte de dois manifestantes em confrontos com a polícia.

A Amnistia Internacional denunciou a violência excessiva por parte da polícia para reprimir os protestos, incluindo a utilização de armas de fogo contra a população. Pelo menos 102 pessoas ficaram feridas, das quais 63 foram hospitalizados, e há 41 desaparecidos, segundo o gabinete do provedor de justiça. Nove pessoas apresentavam feridas de bala.

A demissão de Merino, que havia tomado posse na terça-feira, tornou-se rapidamente numa matéria consensual. Em algumas horas, 13 ministros apresentavam a demissão e o Congresso virava as costas a Merino, selando o seu destino. O Presidente interino perdeu o apoio das bancadas da Aliança para o Progresso (APP), Somos Peru, Podemos Peru e Frente Ampla, que tinham votado a favor da destituição de Vizcarra, diz o jornal El Comercio.

Também os governadores regionais se juntaram aos críticos, acusando Merino de ser “politicamente responsável pelos actos de violência”.

O futuro político do Peru regressa às mãos dos deputados. O Congresso vai agora negociar a chefia da nova Administração, que deverá manter-se em funções até Julho de 2021 e cuja escolha deverá recair num dos poucos deputados que votou contra a destituição de Vizcarra. A nova crise política peruana surge numa altura em que o país sul-americano atravessa um período de forte recessão económica a par do impacto da pandemia da covid-19, que fez mais de 35 mil mortos até ao momento.