Dois mortos em manifestação contra a destituição de Vizcarra no Peru

Manifestantes em Lima dizem que houve um golpe parlamentar para afastar o Presidente, suspeito de crimes de corrupção. Vizcarra diz que governo de Marino é “ilegal e ilegítimo”. Amnistia denuncia violência policial.

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Manifestação em Lima contra Marino; duas pessoas morreram Paolo Aguilar/EPA
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Manifestação em Lima contra Marino; duas pessoas morreram Aldair Mejia/EPA

Dois manifestantes morreram em confrontos com a polícia no sábado em Lima, a capital do Peru, agravando o clima da contestação ao Presidente Manuel Merino, que assumiu o cargo após a destituição de Martín Vizcarra, na segunda-feira. Houve apelos à sua “demissão imediata”.

Segundo a agência de notícias Efe, na violência policial nas manifestações de sábado contra Merino morreu, com um tiro na cabeça, um homem de 25 anos e outro de 24 anos, alvejado quatro vezes.

O Parlamento do Peru destituiu na segunda-feira o Presidente Martín Vizcarra, por “incapacidade moral”  pelo seu envolvimento em casos de corrupção, no seguimento da segunda moção de censura apresentada.

A moção para destituir o chefe de Estado teve como motivo suspeitas de subornos recebidos por Vizcarra em 2014, quando era governador.

O presidente do Parlamento, Manuel Merino, assumiu um dia depois a chefia do Estado até ao final do mandato de Vizcarra, em 28 de Julho de 2021. Mas o novo Presidente, um engenheiro agrícola de centro-direita, de 59 anos, enfrenta uma enorme contestação.

No sábado, milhares de manifestantes, na sua maioria com menos de 25 anos, saíram novamente às ruas em várias cidades do país para exigir a demissão de Merino e rejeitar o que consideram ser um golpe de Estado parlamentar. Os manifestantes empunhavam cartazes dizendo “Merino, tu não és o meu Presidente” ou “Merino impostor”.

Segundo a agência AFP, um grupo aproximou-se da casa do governante para protestar, ao som de panelas e tambores. A polícia voltou a utilizar gás lacrimogéneo, lançado também a partir de helicópteros, além de balas de borracha e projéteis não identificados para dispersar manifestantes.

O presidente do Parlamento peruano, Luis Valdez, que substituiu Manuel Merino à frente da assembleia legislativa, em 10 de Novembro, pediu-lhe no sábado a sua “renúncia imediata” ao cargo, antes de uma reunião de urgência da assembleia legislativa, convocada para este domingo, para discutir a sua saída.

“Não se pode ignorar a vontade do povo”, disse Valdez, que também anunciou que deixará o cargo de presidente do Parlamento, segundo a Efe.

As críticas de Valdez, que votou a favor da destituição de Vizcarra, somam-se às de vários políticos peruanos, face à contestação nas ruas de milhares de pessoas desde terça-feira e à violenta repressão policial, já denunciada pela Amnistia Internacional.

“Os vídeos verificados digitalmente pela Amnistia Internacional são provas contundentes da violência perpetrada pela polícia contra a população que devia proteger”, disse a organização não-governamental em comunicado, na tarde de sábado, referindo que há pelo menos 15 pessoas feridas por armas de fogo, três em estado grave.

Nessa altura, a Amnistia denunciou igualmente que “vários agentes da polícia dispararam directamente contra pessoas durante uma manifestação”, na noite de 12 de Novembro, perto do Tribunal Superior de Justiça de Lima.

O Presidente deposto do Peru, Martín Vizcarra, já condenou as mortes de cidadãos, classificando o governo presidido por Merino de “ilegal e ilegítimo”. “Lamento profundamente as mortes que ocorreram devido à repressão deste governo ilegal e ilegítimo”, escreveu Vizcarra na rede social Twitter.

Apesar dos apelos à renúncia de Merino, o primeiro-ministro Ántero Flores Araoz, um conservador de 78 anos, defendeu que este conta com o apoio de “milhões de peruanos”. “Ele não considerou afastar-se porque milhões de peruanos o apoiam. Infelizmente, eles ficam em casa. E eu não os convidaria a sair”, disse Araoz, citado pela AFP.

O presidente da Conferência Episcopal exortou o governo a dialogar e a respeitar o direito de manifestação. “É essencial ouvir e ter em conta os gritos e clamores da população para recuperar a confiança, a tranquilidade e a paz social”, pediu o arcebispo Miguel Cabrejos de Trujillo, em comunicado.

Vizcarra é o quinto Presidente afastado por corrupção. Os últimos quatro caíram no escândalo de corrupção e financiamento ilegal de campanhas eleitorais que envolve a construtora brasileira Odebrecht, que também envolve Viscarra.

Aliás, tinha sido assim que Vizcarra chegou ao cargo, em Março de 2018, quando era vice de Pedro Pablo Kuczynski e este se demitiu para evitar um impeachment por alegada compra de votos, em Março de 2018. PPK, como é conhecido, está entretanto em prisão domiciliária.

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