“Dinheiro da Doyen era lícito”, garante Nélio Lucas no julgamento de Rui Pinto

Antigo gestor nega ilegalidades invocadas por Rui Pinto. Juízes repreenderam Nélio Lucas por ter chamado denunciante de “artista”.

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MARIO CRUZ

O dinheiro injectado pelo empresário Malik Ali na Doyen, verbas que o fundo usava para negociar com os clubes, é totalmente lícito. A garantia foi deixada por Nélio Lucas, antigo gestor do fundo de investimento, que acusa Rui Pinto de extorsão no processo Football Leaks. Esta manhã, o empresário explicou em tribunal na condição de testemunha como foi criado o fundo de investimento e como operou até à decisão da FIFA de banir este tipo de empresas do futebol. Na plataforma Football Leaks, o denunciante revelou documentos confidenciais da Doyen, que originaram investigações judiciais. Nélio Lucas rejeita qualquer ilegalidade no funcionamento do grupo. 

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O dinheiro injectado pelo empresário Malik Ali na Doyen, verbas que o fundo usava para negociar com os clubes, é totalmente lícito. A garantia foi deixada por Nélio Lucas, antigo gestor do fundo de investimento, que acusa Rui Pinto de extorsão no processo Football Leaks. Esta manhã, o empresário explicou em tribunal na condição de testemunha como foi criado o fundo de investimento e como operou até à decisão da FIFA de banir este tipo de empresas do futebol. Na plataforma Football Leaks, o denunciante revelou documentos confidenciais da Doyen, que originaram investigações judiciais. Nélio Lucas rejeita qualquer ilegalidade no funcionamento do grupo. 

“Os rendimentos do meu sócio [Malik Ali] vinham da família dele. A minha única preocupação era saber se esse dinheiro era lícito. Fizemos uma avaliação e o banco Barclays, em Inglaterra, garantiu que o dinheiro era limpo. Sabia que estas verbas vinham dos investimentos da família dele, mas não tinha de saber exactamente do quê. Para transferir determinadas verbas avultadas, os bancos faziam as suas próprias diligências”, explicou Nélio Lucas.

Malik Ali é um empresário turco que, juntamente com o empresário português, fundou a Doyen Investment Sports, fundo de investimento que ajudava os clubes a financiar a contratação de jogadores. Em troca, recebiam contrapartidas desses mesmos clubes, acabando por recuperar o investimento inicial e lucrando com uma eventual transferência para outro clube. Na fundação da empresa, Nélio trouxe a experiência de mais de uma década ligado ao futebol. Malik contribuiu com o dinheiro. Muito dinheiro. Dezenas de milhões de euros que permitiram à Doyen começar a mover-se em vários países. O negócio era rentável e o modelo da Doyen não permitia perdas, como admitiu o empresário em tribunal. Nélio ficou com 20% da empresa, Malik com 80%.

“Fizemos uma série de investimentos em Espanha, salvámos dois clubes da falência. A Doyen passou a ser bastante famosa”, relembra o antigo gestor. Depois de Espanha, Portugal. Mais concretamente, o Sporting, que estava “numa situação financeira aflitiva”. A Doyen financiou a contratação de dois jogadores para Alvalade, modelo de negócio que se estendeu ao Benfica e ao FC Porto. No caso dos “dragões”, porém, foi além das transferências.

“Emprestámos três milhões de euros ao FC Porto. Foi um empréstimo directo, muito raramente fazíamos isto, mas estava no objecto social da nossa empresa. Deve ter sido um stress momentâneo [do clube], não havia tempo para recorrer à banca. Terá existido um contrato de empréstimo, não me recordo”, revelou.

Nos minutos finais da sessão da manhã, falou-se do primeiro email que Rui Pinto enviou a Nélio Lucas. Com um nome falso, o hacker garantiu estar na posse de informação sensível da Doyen, apontando alegadas ilegalidades que esses documentos mostrariam. A juíza Margarida Alves perguntou a que se referiam algumas das acusações. Nélio Lucas respondeu de forma ríspida. “Esse artista tentou dourar a pílula e conseguir dinheiro”, disparou. O tratamento de Rui Pinto por “artista” não caiu bem junto dos juízes, que repreenderam Nélio Lucas.

Rui Pinto está acusado de 90 crimes: um crime de tentativa de extorsão, seis de acesso ilegítimo, 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência e um de sabotagem informática.