Galp suspende produção de combustíveis em Matosinhos

Petrolífera diz que “condições no mercado nacional e internacional” forçaram paragem “temporária”. Trabalhadores têm informação que suspensão vai até Janeiro. Produção continua em Sines.

Foto
Rita Franca

A Galp voltou a suspender a produção de combustíveis na refinaria de Matosinhos. Fonte oficial da petrolífera adiantou ao PÚBLICO que “as condições no mercado nacional e internacional, em grande parte decorrentes dos impactos provocados pela pandemia de covid-19 forçaram” a empresa “a avançar com um ajustamento operacional planeado do seu sistema refinador”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Galp voltou a suspender a produção de combustíveis na refinaria de Matosinhos. Fonte oficial da petrolífera adiantou ao PÚBLICO que “as condições no mercado nacional e internacional, em grande parte decorrentes dos impactos provocados pela pandemia de covid-19 forçaram” a empresa “a avançar com um ajustamento operacional planeado do seu sistema refinador”.

Este ajustamento, explicou a Galp, traduziu-se na “suspensão temporária, desde 10 de Outubro, da produção de combustíveis” em Matosinhos. Será uma paragem “sem impacto nos colaboradores da Galp afectos a essa actividade”, acrescentou a empresa.

Telmo Silva, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras (SITE) Norte adiantou ao PÚBLICO que serão abrangidos pela paragem cerca de 50 de trabalhadores, mas apenas duas dezenas são trabalhadores da Petrogal – os restantes pertencem a empresas prestadoras de serviços, pelo que as garantias da Galp apenas abrangem os primeiros.

O dirigente sindical acrescentou que a informação que foi dada aos trabalhadores é a de que se trata de uma paragem até Janeiro, mas disse estar a aguardar por informações oficiais sobre a duração numa reunião com a empresa, agendada para quarta-feira.

“A informação é vaga; é a transição energética, é o cancelamento de investimentos e a queda da procura, mas sobre a estratégia de futuro não sabemos nada”, queixou-se Telmo Silva.

Certezas são que a paragem também vai ter “grande impacto na economia regional, porque há muitas empresas que trabalham directamente para a refinaria”, acrescentou.

A Galp adiantou ao PÚBLICO que as unidades de produção de óleos base e de aromáticos da refinaria de Matosinhos “continuarão com o seu funcionamento normal”.

Também frisou que o abastecimento de gasóleo e gasolina ao mercado nacional “manter-se-á assegurado” e que haverá “um nível adequado de produtos para satisfazer as necessidades dos portugueses, das empresas e das unidades industriais”. Esses abastecimentos estão garantidos “pelos stocks existentes em Matosinhos e pela produção que se mantém na refinaria de Sines”.

A empresa presidida por Carlos Gomes da Silva sublinhou ainda que “monitoriza diariamente as condições de mercado” e ajusta os “os planos operacionais” a essa evolução, assegurando “a sustentabilidade das suas actividades e o abastecimento dos seus clientes”.

Mais volume e menos valor

Na segunda-feira, a Galp apresentou alguns dados operacionais e de comercialização relativos ao terceiro trimestre, revelando que as vendas de combustíveis aumentaram 41% entre o segundo e o terceiro trimestre, embora mantendo-se 8% abaixo do valor registado em Setembro de 2019. Apesar do aumento em volume (quantidade), as vendas dos refinados trouxeram menos valor para a empresa.

Segundo os dados divulgados ao mercado, no mesmo período, o negócio perdeu rentabilidade, com a margem de refinação a cair para valores negativos, de menos 0,7 dólares por barril, que comparam com os 1,8 dólares registados no segundo trimestre, ou os 3,9 dólares por barril registados no período homólogo.

No terceiro trimestre, a Galp processou 75% mais crude nas suas refinarias do que no segundo trimestre, período que coincidiu com as semanas de suspensão da refinaria de Sines e a quase paralisação da fábrica de combustíveis em Matosinhos, devido à redução do consumo causada pelo confinamento. Ambas retomaram o funcionamento em Junho.

O volume de crude processado entre Junho e Setembro também foi 14% superior ao volume processado no mesmo período de 2019.

Preocupação a Sul

Se em Matosinhos há stock de produto, em Sines não se prevê que a actividade de produção pare, mas há outros motivos de preocupação.

A empresa interrompeu os investimentos em novas unidades destinadas a aumentar a eficiência da refinaria, afectando 200 trabalhadores de subcontratadas, que não voltaram ao serviço, contou ao PÚBLICO Hélder Guerreiro, da comissão de trabalhadores da Petrogal.

Em Abril, perante “a queda acentuada da procura e dos preços dos produtos petrolíferos” a administração da Galp anunciou um corte de 500 milhões de euros em despesas operacionais e em investimento nos anos 2020 e 2021.

Os reflexos desse plano notam-se na refinaria, onde se concretizou outro cenário “que já se previa”, acrescentou Hélder Guerreiro.

Em Abril foram dispensados quase uma centena de trabalhadores que se ocupavam da manutenção da refinaria, e que estavam ao serviço de empresas subcontratadas, como a CMN, que era uma subcontratada da Martifer, a quem a Galp havia adjudicado o contrato global de manutenção da refinaria de Sines.

“Esses trabalhadores que estavam afectos ao contrato anterior [de manutenção] já tinham uma série de direitos assegurados”, mas os que voltaram para garantir “as necessidades permanentes da refinaria” vêm “através de outras empresas de trabalho temporário, com condições muito mais precárias, como o trabalho à hora”, lamentou o também dirigente do SITE Sul.

Hélder Guerreiro queixa-se que falta “clarificação da estratégia” para a refinaria e que existe “um clima de incerteza” que preocupa os trabalhadores.

Ambos os dirigentes sindicais notaram o facto de a Galp “vir de um plano social”, ou seja, de um programa de rescisões e pré-reformas que abrangeu 200 trabalhadores, e de temerem que essas saídas não sejam suficientes.