Having a coke with you*

Este texto integra o projecto Aproveitando uma aberta — Quatro monólogos para quatro autores em quatro divisões da casa, da autoria de Madalena Alfaia, que deu origem a quatro vídeos com realização de João Gambino (coprodução Museu de Lisboa / EGEAC). Os vídeos podem ser vistos online, nas redes sociais do projecto, e até 7 de Novembro no Palácio Pimenta, em Lisboa. Nas próximas semanas publicaremos o que Jacinto Lucas Pires, Valério Romão e a própria Madalena Alfaia escreveram para Rita Durão, Carla Bolito e para David Pereira Bastos.

Foto
Daniel Rocha

(O homem está sozinho na cozinha. Caminha para trás e para a frente, de pijama, sempre dentro do mesmo território. É um território com paredes de azulejo e chão de terracota. Parece enorme. É mínimo. O homem sabe-o. Pela maneira como bate a luz, e também pelo fumo branco que sai do copo de café que o homem carrega consigo, dá para ver que é de manhã. O homem tem o cabelo desgrenhado. Pára de caminhar e dirige-se à mesa. A mesa é pequena e tem duas cadeiras em volta. O homem senta-se na cadeira da direita e dá um gole no café. Tem o telefone móvel em cima da mesa. Não lhe pega, mas dirige-se a ele com um dedo só. Digita nove números, e carrega no botão de alta voz. Espera. Ouve-se a conhecida voz de gravador: “O número para o qual ligou não está disponível. Após o sinal, deixe a sua mensagem.” O homem dá mais um gole no café e pousa o copo. Começa a falar, primeiro com os olhos postos no aparelho e depois, lentamente, com o olhar perdido na frente, entre a terracota e os azulejos.)

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(O homem está sozinho na cozinha. Caminha para trás e para a frente, de pijama, sempre dentro do mesmo território. É um território com paredes de azulejo e chão de terracota. Parece enorme. É mínimo. O homem sabe-o. Pela maneira como bate a luz, e também pelo fumo branco que sai do copo de café que o homem carrega consigo, dá para ver que é de manhã. O homem tem o cabelo desgrenhado. Pára de caminhar e dirige-se à mesa. A mesa é pequena e tem duas cadeiras em volta. O homem senta-se na cadeira da direita e dá um gole no café. Tem o telefone móvel em cima da mesa. Não lhe pega, mas dirige-se a ele com um dedo só. Digita nove números, e carrega no botão de alta voz. Espera. Ouve-se a conhecida voz de gravador: “O número para o qual ligou não está disponível. Após o sinal, deixe a sua mensagem.” O homem dá mais um gole no café e pousa o copo. Começa a falar, primeiro com os olhos postos no aparelho e depois, lentamente, com o olhar perdido na frente, entre a terracota e os azulejos.)