Largo Residências suspendeu serviço de alojamento devido à pandemia

Cooperativa cultural decidiu suspender o serviço de alojamento, uma das suas maiores fontes de receita. No entanto, a continuidade das actividades do Largo Residência não está em causa.

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José Fernandes/Arquivo

O Largo Residências decidiu suspender o seu serviço de alojamento “por tempo indeterminado”, devido ao impacto provocado pela pandemia de covid-19. Este serviço, que funcionava no n.º 19 do Largo do Intendente, em Lisboa, era uma das maiores fontes de rendimento para esta cooperativa cultural, mas tornou-se insustentável num momento em que a incerteza na retoma da normalidade no sector artístico e turístico é ainda grande. 

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O Largo Residências decidiu suspender o seu serviço de alojamento “por tempo indeterminado”, devido ao impacto provocado pela pandemia de covid-19. Este serviço, que funcionava no n.º 19 do Largo do Intendente, em Lisboa, era uma das maiores fontes de rendimento para esta cooperativa cultural, mas tornou-se insustentável num momento em que a incerteza na retoma da normalidade no sector artístico e turístico é ainda grande. 

“Sabemos que transformar é o caminho e que cancelar não é uma hipótese, mas vamos ter de deixar um espaço que era um braço do nosso corpo. Vamos abandonar o serviço de alojamento no edifício 19 do Largo do Intendente. Nos nossos quartos aconteceram espectáculos, recebemos turistas que reviam no Largo uma forma de alojamento de impacto positivo, acolhemos artistas em residência e convidados de vários parceiros culturais. É tudo isso que neste momento está em causa e esperamos no futuro retomar esta dimensão da nossa actividade”, diz a associação numa nota publicada na sua página de Facebook. Ao PÚBLICO, a fundadora e presidente da direcção do Largo Residências, Marta Silva, confirma o cenário: “Não havendo perspectiva de recuperação, decidimos encerrar.” Mas, ainda assim, “a actividade da cooperativa não está em causa”, garante. 

Ali, acolhiam artistas em residência, trabalhadores da área da cultura que chegam a Lisboa para participar em eventos como o Doclisboa ou o Monstra, e turistas. Como o movimento diminuiu e os encargos se mantiveram, optaram pelo encerramento do serviço para não colocar em causa a “auto-sustentabilidade financeira” deste projecto cultural. “É um primeiro passo para não ser preciso dar um segundo e ter de despedir parte da equipa”, diz. Os cinco funcionários do alojamento estão agora a ser direccionados para outras actividades. 

Nos números do lado, do 16 ao 18, mantém-se me funcionamento o Largo Café Estúdio e Loja. No entanto, esperam-se mais mudanças para o final de 2021, data em que o contrato de arrendamento da cooperativa para aqueles espaços termina. Há vários anos que o Largo Residências sabe que terá de abandonar aqueles prédios e está já à procura de uma nova sede, onde possa instalar o serviço de alojamento, o café e espaço cultural. 

Há cerca de dois anos para cá, a cooperativa tem tentado, com a Câmara de Lisboa, encontrar outro espaço para as suas actividades na zona do Intendente. Terá de ser ali, porque foi naquele território — à altura bem diferente do que hoje é — que o projecto nasceu em 2011 pela mão da associação SOU. Nesta década, o bairro alterou-se por completo, passando de uma zona degradada, com problemas de toxicodependência, violência e prostituição, para uma das zonas mais culturais da cidade.

Essa projecção acabou por vir acompanhada por uma crescente pressão imobiliária, que lhes foi retirando espaço no Intendente. Ainda assim, sair do bairro não é uma opção: “É muito valioso para nós o trabalho feito com a comunidade. Se não pudermos continuar aqui, mais vale não continuarmos”, sublinha Marta Silva. 

Sem poder receber artistas e turistas devido à pandemia, o Largo Residências pôs os seus quartos à disposição para acolher imigrantes infectados com o novo coronavírus em fase de recuperação. Entre Abril e Junho, passaram por ali mais de 30 pessoas que não dispunham de condições para fazerem um confinamento em segurança nas casas onde habitam.