Um dos capítulos de O Ano do Macaco, o novo livro de memórias de Patti Smith

No ano em que fez setenta anos a artista Patti Smith escreveu este seu terceiro livro de memórias. A obra, dedicada ao ano Chinês do Macaco, chega nesta sexta-feira às livrarias portuguesas numa edição da Quetzal. A tradução é do poeta Helder Moura Pereira e aqui pode ler-se o capítulo intitulado ADM 2016.

Foto
pp paulo pimenta

Havia um despachante marítimo mesmo em frente do hotel. Empacotei os meus últimos pertences e enviei-os para Nova Iorque, depois caminhei até à outra ponta da cidade e entrei em pleno território de Jack Kerouac. Passando Chinatown, de repente encontrei-me com as preparações para o novo ano lunar, o Ano do Macaco. Caíam do céu pedaços de papel colorido, quadradinhos com a cara de um macaco estampada a vermelho. Parada 27. Tinha todo o ar de ser um acontecimento espetacular, mas, quando se realizasse, já eu ali não estaria. É curioso como tinha saído de São Francisco num dia de ano novo e agora acontecia o mesmo. Eu podia sentir perfeitamente a atração gravitacional da minha casa, que é uma coisa que se transforma na atração gravitacional de outro lugar quando fico em casa demasiado tempo.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Havia um despachante marítimo mesmo em frente do hotel. Empacotei os meus últimos pertences e enviei-os para Nova Iorque, depois caminhei até à outra ponta da cidade e entrei em pleno território de Jack Kerouac. Passando Chinatown, de repente encontrei-me com as preparações para o novo ano lunar, o Ano do Macaco. Caíam do céu pedaços de papel colorido, quadradinhos com a cara de um macaco estampada a vermelho. Parada 27. Tinha todo o ar de ser um acontecimento espetacular, mas, quando se realizasse, já eu ali não estaria. É curioso como tinha saído de São Francisco num dia de ano novo e agora acontecia o mesmo. Eu podia sentir perfeitamente a atração gravitacional da minha casa, que é uma coisa que se transforma na atração gravitacional de outro lugar quando fico em casa demasiado tempo.