Fernando Pinto do Amaral: “Luís de Camões para mim está vivo”

O que mais irrita o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e ex-comissário do Plano Nacional de Leitura é a arrogância dos outros. A coerência é uma virtude que está sobrevalorizada: “às vezes não passa de rigidez e teimosia.”

Foto
Rui Gaudêncio

Qual a sua ideia de felicidade perfeita?
Assusta-me a ideia de uma “felicidade perfeita”. Seduz-me mais a imperfeição humana.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Qual a sua ideia de felicidade perfeita?
Assusta-me a ideia de uma “felicidade perfeita”. Seduz-me mais a imperfeição humana.

Qual é o seu maior medo?
Morrer sem me despedir de algumas pessoas.

Na sua personalidade, que característica mais o irrita?
A dificuldade que sinto em irritar-me a sério com alguma coisa.

E qual o traço de personalidade que mais o irrita nos outros?
A arrogância.

Que pessoa viva mais admira?
Luís de Camões – para mim está vivo.

Qual a sua maior extravagância?
Poder dispor do meu tempo – mas também certas coisas mais concretas como um chocolate, um bom vinho e outros vícios que fazem mal e que não vale a pena mencionar aqui.

Qual o seu estado de espírito neste momento?
Triste com o estado a que o mundo chegou em 2020.

Qual a virtude que pensa estar sobrevalorizada?
A coerência, que até pode ser uma virtude, mas que às vezes não passa de rigidez e teimosia.

Em que ocasiões mente?
Quando a verdade se torna demasiado dolorosa para mim próprio ou para alguém que não quero magoar.

O que menos gosta na sua aparência física?
A flacidez de quem acabou de fazer 60 anos e não pratica exercício físico…

Entre as pessoas vivas, qual a que mais despreza?
Não existe uma em especial. Digamos que desprezo particularmente as que aproveitam momentos de crise para lucrar com a desgraça alheia.

Qual a qualidade que mais admira num homem?
A capacidade de ouvir o que os outros têm para lhe dizer.

E numa mulher?
Exactamente a mesma, e gostaria de a sublinhar: a capacidade de ouvir o que os outros têm para lhe dizer.

Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência.
“Deixem-me só dizer isto.”

O quê ou quem é o maior amor da sua vida?
A minha filha, que tem 22 anos.

Aonde e quando se sente mais feliz?
Quando sonho coisas impossíveis – a dormir ou acordado.

Que talento não tem e gostaria de ter?
Decifrar os segredos das plataformas informáticas que hoje regem a nossa vida e às vezes me parecem impenetráveis.

Se pudesse mudar alguma coisa em si o que é que seria?
Alguma inércia ou descrença existencial. Gostava de falar menos e de fazer mais.

O que considera ter sido a sua maior realização?
Essa pergunta fica para os que me rodeiam ou me lêem – e se eles não souberem responder, é porque não terei realizado grande coisa.

Se houvesse vida depois da morte, quem ou o quê gostaria de ser?
Um alquimista ou um druida que inventasse poções mágicas.

Onde prefere morar?
Gosto de viver em Lisboa, mas este ano tenho passado cada vez mais tempo em Sever do Vouga – e tem-me sabido bem.

Qual o seu maior tesouro?
Ver resposta 15.

O que considera ser o cúmulo da miséria?
Usar os sentimentos de revolta ou de frustração das pessoas para lhes acicatar o ódio ou o mais primário espírito tribal – é o que faz a extrema-direita.

Qual a sua ocupação favorita?
Dar aulas – aulas a sério, com os alunos na mesma sala –, ler um livro, ver um filme, mas também ir jantar a um restaurante onde me sinta bem ou fazer uma noitada com amigos. Sempre tive um lado boémio. Ah, e também adoro conduzir, acelerar pela estrada fora. Descontrai-me.

A sua característica mais marcante?
Talvez um gosto excessivo pela solidão ou pela melancolia, que tento combater.

O que mais valoriza nos amigos?
O desejo de compreenderem o que sinto – e a companhia que me fazem, mesmo à distância.

Quem são os seus escritores favoritos?
Ui, tantos… Shakespeare, Goethe, Baudelaire, Dostoievski… mais perto de nós Virginia Woolf, Tennessee Williams, Clarice, Agustina.

Quem é o seu herói de ficção?
Peter Pan e Alice, de ambos os lados do espelho. Flutuo entre a Terra do Nunca e o País das Maravilhas.

Com que figura histórica mais se identifica?
Não há uma “figura histórica” com quem me identifique, mas entre os reis portugueses gosto do D. Dinis, do D. Duarte e do D. Pedro V.

Quem são os seus heróis na vida real?
Os médicos, os enfermeiros e todos os que cuidam de quem precisa.

Quais os nomes próprios de que mais gosta?
Inês, Luís, Isabel, Dinis, Leonor, Beatriz – e Laura, que era o nome da minha avó materna e é o da minha filha.

Qual o seu maior arrependimento?
Não me ter dedicado mais à música, já que nasci com ouvido para ela.

Como gostaria de morrer?
Tenho andado a pensar nisso, mas ainda não cheguei a uma conclusão. Em todo o caso, de um modo sereno e indolor.

Qual o seu lema de vida?
“Honi soit qui mal y pense.”