Media Capital substitui CEO Luís Cabral por Manuel Alves Monteiro, antigo administrador da Mystic de Mário Ferreira

Luís Cabral foi nomeado a 12 de Julho do ano passado e sai a seu pedido, diz a empresa em comunicado. Mudança estará relacionada com o processo de venda da Media Capital a Mário Ferreira.

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Nuno Ferreira Santos

Um ano depois de assumir o cargo de CEO da Media Capital ao substituir Rosa Cullell, Luís Cabral apresentou renúncia nesta quinta-feira e o grupo dono da TVI já escolheu Manuel Alves Monteiro para o lugar de administrador delegado. O gestor era até aqui administrador não executivo do conselho de administração.

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Um ano depois de assumir o cargo de CEO da Media Capital ao substituir Rosa Cullell, Luís Cabral apresentou renúncia nesta quinta-feira e o grupo dono da TVI já escolheu Manuel Alves Monteiro para o lugar de administrador delegado. O gestor era até aqui administrador não executivo do conselho de administração.

Em comunicado, o conselho de administração da Media Capital cita Manuel Alves Monteiro que fala da “imensa responsabilidade” do novo cargo e assume a vontade de de modernizar o grupo audiovisual, vincando contar “com todos” para o percurso de futuro.

A administração diz ainda registar com “profundo reconhecimento o contributo e reconhecida competência” de Luís Cabral no desempenho de funções “em diferentes áreas de negócio” no grupo, deixando antever que o gestor abandona a empresa. Luís Cabral está na Media Capital desde 1997, tendo por empresas como a Media Meios e a Media Capital Serviços até chegar à Media Capital Rádios em 2009 - nos últimos anos, a Rádio Comercial tornou-se líder de audiências.

A saída de Luís Cabral e sua substituição por Manuel Alves Monteiro, com efeitos já nesta quarta-feira, é vista como uma das primeiras mudanças de topo decorrentes do negócio de compra de quase um terço da Media Capital pela Pluris, do empresário Mário Ferreira. Para além dos canais TVI, o grupo inclui rádios como a Comercial, Cidade FM, SmoothFM, M80, a produtora de ficção Plural, os sites MaisFutebol, Planeo, Selfie, e o agregador IOL, entre outros.

O negócio foi anunciado a 24 de Abril, depois da desistência da Cofina, a quem o empresário do sector do turismo se tinha juntado para comprar a Media Capital. Nessa altura, o proprietário da Douro Azul assegurou a “negociação exclusiva” de 30,22% do capital do grupo dono da TVI, e três semanas depois anunciou a conclusão da aquisição dessa quota da Media Capital por 10,5 milhões de euros, um montante que avalia o grupo em 130 milhões de euros.

Manuel Alves Monteiro, antigo presidente da Bolsa de Lisboa, foi nomeado administrador executivo da Media Capital em representação da Prisa  há precisamente três meses, o que foi interpretado como um sinal de que a negociação estaria em fase avançada, já que o gestor foi administrador da Mystic Invest, de Mário Ferreira, entre 2014 e 2018​. Por isso, aquando da nomeação, levantou-se uma frente de rumores de que Alves Monteiro era um testa-de-ferro do empresário nortenho para fazer uma due-diligence (análise da empresa), interpretação logo negada mas que, entretanto, ganhou força, dado o quadro de guerra de bastidores e contra-informação que se instalou com a renúncia da Cofina ao negócio (sobre a qual incorrem acções judiciais iniciadas pela Prisa).

A aquisição por Mário Ferreira dos 30,22% da Media Capital em meados de Maio culminou um trajecto de aproximação do empresário nortenho à TVI que começou por acompanhar a Cofina na sua tentativa falhada de aquisição da Media Capital. Esse negócio começou por ser de 255 milhões de euros, foi reduzido para 205 milhões, e acabou por fracassar com a desistência de Paulo Fernandes a um dia de assegurar a concretização de um aumento de capital de 85 milhões de euros. Neste momento ainda decorre um processo entre a Prisa e o empresário dono do Correio da Manhã em que o grupo espanhol que ainda detém a maioria da Media Capital reclama, entre outras questões, uma caução de 10 milhões pelo falhanço do negócio, que a Cofina recusa pagar.

Antes da Cofina, a Media Capital tinha sido alvo de um demorado processo de compra pela Altice que durou quase um ano, entre Julho de 2017 e Junho de 2018, e que culminou com a desistência da empresa de telecomunicações. A Altice deixou expirar o prazo para a conclusão do negócio que tinham acordado no contrato prévio de compra e venda, depois de a Autoridade da Concorrência ter rejeitado os remédios apresentados pela Altice para que o negócio se pudesse fazer. A Altice tencionava comprar os 94,69% da Media Capital por 440 milhões de euros, como noticiou o PÚBLICO na altura, mas a Prisa iria receber apenas 321 milhões de euros.

Depois de abortada a venda à Altice, a Prisa anunciou que iria delinear um plano estratégico para a Media Capital, mas entretanto a TVI viu sair a apresentadora Cristina Ferreira para a SIC, o que levou a uma quebra sucessiva das audiências, com o canal de Queluz a perder a liderança, o que também afectou negativamente o seu valor.