Sindicato acusa Montepio de usar pandemia como desculpa para fechar balcões

Banco anunciou a “fusão” de 31 balcões da sua rede de três centenas de agências.

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A caixa económica, detida pela associação mutualista, actua sob o nome comercial de Banco Montepio Gonçalo Dias

O Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) veio nesta quarta-feira condenar o processo de reestruturação anunciado pelo Banco Montepio, com o encerramento de 31 balcões, perto de 10% da rede da caixa económica controlada pela Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG).

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O Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) veio nesta quarta-feira condenar o processo de reestruturação anunciado pelo Banco Montepio, com o encerramento de 31 balcões, perto de 10% da rede da caixa económica controlada pela Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG).

Num comunicado onde faz eco da posição tomada na terça-feira, dia em que o banco anunciou a reestruturação, o presidente do sindicato, Paulo Gonçalves Marcos, acusa a administração do Montepio, de forma indirecta, de usar a crise da covid-19 para anunciar uma reorganização interna que terá impacto na rede comercial.

“Desenganem-se todos aqueles que pensam aproveitar a pandemia para, no recato dos seus gabinetes de administração, ignorarem ou menosprezarem os legítimos interesses dos trabalhadores, ou da sociedade onde se inserem, desenhando reestruturações que transferem de forma assimétrica os custos para os outros”, afirma, dizendo que os trabalhadores do banco estão a ser “alvo de tentativas palacianas”.

Para “ajustar o modelo de distribuição e reorganização da rede comercial”, o banco liderado por Pedro Moreira Leitão anunciou que irá fundir “31 balcões redundantes devido à sua proximidade geográfica”. Não se sabe se haverá trabalhadores afectados (nem quantos), nem quais são os estabelecimentos que vão encerrar e ser assimilados por outros. O banco tinha no ano passado 332 balcões, mais oito do que o total de 2018.

A reestruturação surge num momento em que se sabe que a associação mutualista (detentora de 99,99% do capital da caixa económica) fechou as contas do ano passado (2019) com perdas de 408,8 milhões de euros, com a auditora PwC a alertar para a sobredimensão do montante apurado em activos por impostos diferidos (808,6 milhões de euros) pela possibilidade de gerar novas necessidades de capital.

O SNQTB afirma que o banco — detido por esta associação mutualista — tem um “interesse estratégico” para a sociedade, uma posição “estratégica na captação e preservação de poupanças das famílias portuguesas, bem como na aquisição de habitação própria permanente e no apoio às PME, microempresas e profissionais liberais”.

Uma eventual reestruturação como aquela que foi anunciada, diz Paulo Gonçalves Marcos, “não é um assunto que interesse apenas aos accionistas e aos gestores por eles nomeados, mas diz respeito a todos os stakeholders: aos trabalhadores, organizados pelos sindicatos, aos clientes, aos fornecedores e aos cidadãos representados pelo Estado”.

“Uma empresa estratégica não pode depender da vontade exclusiva dos accionistas e nenhum stakeholder se pode demitir das suas responsabilidades”, afirma Paulo Gonçalves Marcos, mostrando “preocupação” com o anúncio dos encerramentos.

No primeiro trimestre deste ano, o banco obteve um lucro de 5,4 milhões de euros.